São Paulo, segunda, 13 de julho de 1998

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BUENOS AIRES
Carlos Menem tenta mudar a Constituição
Páis tem história política atribulada

do enviado especial a Buenos Aires

A Argentina tem uma das maiores rendas per capita e índices de desenvolvimento da América do Sul, mas nem por isso conseguiu driblar os efeitos da retração econômica, responsável pelo desemprego de 2 milhões de trabalhadores -a população economicamente ativa do país soma cerca de 13,2 milhões de pessoas.
Apesar disso, o país se moderniza e Buenos Aires exibe áreas reurbanizadas como a de Puerto Madero. Na gênese dessa transformação está o governo Menem, que agora tenta mudar a Constituição e disputar a Presidência pela terceira vez consecutiva, em 1999.
Membro do partido Justicialista (peronista), Carlos Saúl Menem venceu as eleições presidenciais de 1989 e substituiu Raúl Alfonsin, da UCR, responsável pela volta do país ao Estado de Direito, depois de uma cruenta ditadura militar.
Menem foi empossado antes mesmo do término do mandato de Alfonsín e, para debelar a crise econômica, adotou medidas antiinflacionárias impopulares.
Em seu primeiro mandato, também enfrentou rebeliões e acabou concedendo indulto aos militares.
Mas foi só em 1991, com a dolarização da economia, que a Argentina conseguiu debelar a inflação.
O preço foi o aumento do desemprego, que gerou nova onda de protestos sindicais. Mas, apesar disso, Menem conseguiu o apoio de Alfonsín para reformar a Constituição e se reeleger, em 1995.
Com o cenário mundial à época dominado pela crise mexicana, Menem obteve ajuda do FMI para sua política neoliberal.
Desde então os críticos do governo protestam contra as políticas recessivas, a desnacionalização dos bancos e as privatizações.

UCR versus peronismo
Para entender a política da Argentina, que conquistou a independência em 1816 e teve o general José de San Martín como "Libertador", vale mergulhar na gênese dos partidos União Cívica Radical (UCR) e Justicialista (peronista).
Criada no final do século para ser o primeiro partido latino-americano de classe média, a UCR elegeu, em 1916, Hipólito Yrigoyen. No poder até 1930, a UCR foi deposta num golpe militar. A democracia só foi restaurada em 1932.
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45), em 1943, foi a vez de o coronel Juan Domingo Perón (1895-1974) entrar em cena.
Subsecretário da Guerra e líder da derrubada do presidente Ramón Castillo, Perón virou um caudilho alguns anos depois.
Figura dominante na política argentina por quatro décadas, Perón foi ajudado por Eva Duarte, a Evita (1919-1952), uma atriz de rádio de grande popularidade, com quem acabou casando.
Em 1945, Perón se tornou ministro da Guerra e, logo depois, vice-presidente da República.
Graças à popularidade de Evita, Perón venceu as eleições de 1946, não sem reprimir a oposição.
Reeleito em 1951, adotou políticas intervencionistas numa época em que a industrialização do país engatinhava, adotando ainda postura contra a Inglaterra e os EUA.
Endeusada pelas massas, chamada de "chefe espiritual da nação", Evita morreu de câncer em 1952, dando início à crise política que derrubou o governo, em 1955.
Perón partiu para o exílio na Espanha em 1961. Voltou em 1973 com a bênção do presidente Héctor Cámpora, que renunciou e, assim, abriu espaço para sua eleição.
Perón morreu em 1974 e Isabelita, sua mulher e vice-presidente, governou a Argentina até 1976, quando ocorreu outro golpe.
Chefiada pelo general Jorge Rafael Videla, hoje preso, uma junta militar fechou o Congresso e iniciou a "guerra suja". Para arrematar a sucessão de equívocos, em 1982 foi a vez de o general Leopoldo Galtieri invadir as ilhas Malvinas, ocupada por ingleses.
O país foi derrotado, mas a democracia voltou, em 1983, quando Alfonsín, da UCR, venceu as eleições. Sem debelar a inflação, abriu espaço para os peronistas, liderados por Menem. (SILVIO CIOFFI)



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