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BUENOS AIRES
Carlos Menem tenta mudar a Constituição
Páis tem história política atribulada
do enviado especial a Buenos Aires
A Argentina tem uma das maiores rendas per capita e índices de
desenvolvimento da América do
Sul, mas nem por isso conseguiu
driblar os efeitos da retração econômica, responsável pelo desemprego de 2 milhões de trabalhadores -a população economicamente ativa do país soma cerca de 13,2 milhões de pessoas.
Apesar disso, o país se moderniza e Buenos Aires exibe áreas reurbanizadas como a de Puerto Madero. Na gênese dessa transformação está o governo Menem, que agora tenta mudar a Constituição
e disputar a Presidência pela terceira vez consecutiva, em 1999.
Membro do partido Justicialista
(peronista), Carlos Saúl Menem
venceu as eleições presidenciais de
1989 e substituiu Raúl Alfonsin, da
UCR, responsável pela volta do
país ao Estado de Direito, depois
de uma cruenta ditadura militar.
Menem foi empossado antes
mesmo do término do mandato de
Alfonsín e, para debelar a crise
econômica, adotou medidas antiinflacionárias impopulares.
Em seu primeiro mandato, também enfrentou rebeliões e acabou
concedendo indulto aos militares.
Mas foi só em 1991, com a dolarização da economia, que a Argentina conseguiu debelar a inflação.
O preço foi o aumento do desemprego, que gerou nova onda
de protestos sindicais. Mas, apesar
disso, Menem conseguiu o apoio
de Alfonsín para reformar a Constituição e se reeleger, em 1995.
Com o cenário mundial à época
dominado pela crise mexicana,
Menem obteve ajuda do FMI para
sua política neoliberal.
Desde então os críticos do governo protestam contra as políticas
recessivas, a desnacionalização
dos bancos e as privatizações.
UCR versus peronismo
Para entender a política da Argentina, que conquistou a independência em 1816 e teve o general
José de San Martín como "Libertador", vale mergulhar na gênese
dos partidos União Cívica Radical
(UCR) e Justicialista (peronista).
Criada no final do século para
ser o primeiro partido latino-americano de classe média, a UCR elegeu, em 1916, Hipólito Yrigoyen.
No poder até 1930, a UCR foi deposta num golpe militar. A democracia só foi restaurada em 1932.
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45), em 1943, foi a vez
de o coronel Juan Domingo Perón
(1895-1974) entrar em cena.
Subsecretário da Guerra e líder
da derrubada do presidente Ramón Castillo, Perón virou um caudilho alguns anos depois.
Figura dominante na política argentina por quatro décadas, Perón
foi ajudado por Eva Duarte, a Evita (1919-1952), uma atriz de rádio
de grande popularidade, com
quem acabou casando.
Em 1945, Perón se tornou ministro da Guerra e, logo depois, vice-presidente da República.
Graças à popularidade de Evita,
Perón venceu as eleições de 1946,
não sem reprimir a oposição.
Reeleito em 1951, adotou políticas intervencionistas numa época
em que a industrialização do país
engatinhava, adotando ainda postura contra a Inglaterra e os EUA.
Endeusada pelas massas, chamada de "chefe espiritual da nação", Evita morreu de câncer em
1952, dando início à crise política
que derrubou o governo, em 1955.
Perón partiu para o exílio na Espanha em 1961. Voltou em 1973
com a bênção do presidente Héctor Cámpora, que renunciou e, assim, abriu espaço para sua eleição.
Perón morreu em 1974 e Isabelita, sua mulher e vice-presidente,
governou a Argentina até 1976,
quando ocorreu outro golpe.
Chefiada pelo general Jorge Rafael Videla, hoje preso, uma junta
militar fechou o Congresso e iniciou a "guerra suja". Para arrematar a sucessão de equívocos, em
1982 foi a vez de o general Leopoldo Galtieri invadir as ilhas Malvinas, ocupada por ingleses.
O país foi derrotado, mas a democracia voltou, em 1983, quando
Alfonsín, da UCR, venceu as eleições. Sem debelar a inflação, abriu
espaço para os peronistas, liderados por Menem.
(SILVIO CIOFFI)
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