São Paulo, segunda, 13 de julho de 1998

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QUALQUER VIAGEM
Comeu a família no café da manhã

DAVID DREW ZINGG
na costa de Nova Jersey

Folclore de Nova Jersey

Foi uma longa, longa viagem que fiz à sombra de minhas recordações antigas da costa de Nova Jersey.
Eu disse à sombra? Eu queria dizer pela assombrada -ou melhor, mal-assombrada- costa de Nova Jersey.
Apesar de todas as diversões, os brinquedos, as montanhas-russas, os bruce springsteens da vida e o bom e velho rock'n'roll de Nova Jersey, o litoral de Jersey também está cheio de assombrações.
Desde Ringwood, no extremo norte, até Cape May, na pontinha do Estado, Nova Jersey tem mais do que sua devida parcela de ocorrências extraordinárias e acontecimentos assombrosos, que já viraram parte do folclore local.
Elas podem nos assustar ou nos fascinar, mas histórias de fantasmas e estranhos lugares mal-assombrados sempre captam nossa imaginação. A segunda edição de "Haunted Places: The National Directory" (Diretório Nacional de Lugares Mal-assombrados), escrita por um sujeito corajoso chamado Dennis William Hauk, inclui nada menos que 33 locais mal-assombrados neste minúsculo Estado.
Assim, venha reunir-se à minha volta e você aí, Joãozinho, vá abaixando as luzes. Chegou a hora de ouvir algumas histórias assombrosas de Nova Jersey.

Fantasmas na estrada
Algumas pessoas daqui já viram assombrações até na rodovia dos Parques do Estado Jardim, sempre cheia de carros, que leva os visitantes às praias do sul de Nova Jersey.
Desde a abertura da estrada, em 1955, diferentes pessoas informam ter visto uma assombração conhecida como o Fantasma da Parkway (o nome da estrada). Trata-se de um homem alto, usando sobretudo afivelado, que costuma aparecer num trecho de 13 quilômetros da estrada, perto da saída 82, em Toms River. O fantasma da estrada tenta atravessá-la e fica agitando os braços de uma maneira que, na descrição da "Weird New Jersey", "lembra os gestos de um estranho torcedor de futebol".
É claro que a mais famosa das criaturas do outro mundo que povoa o "Estado Jardim", o Demônio de Jersey, emprestou seu nome ao time local de hóquei sobre o gelo.
Muitas histórias já foram contadas sobre o nascimento do Demônio de Jersey original, nos idos de 1730 e pouco. Contam as lendas que ele vive perambulando pela região desabitada de Pine Barrens, situada na parte sul do Estado.
Ele é descrito como tendo rosto de cavalo, asas de morcego e cauda de diabo. Segundo uma das versões, uma certa sra. Leeds, que já tinha 12 filhos e sentia que mais um seria demais, suspirou, dizendo esperar que seu 13º nascesse diabo. Seu desejo foi realizado. A se acreditar em outra versão, teria sido um clérigo viajante a quem a mesma sra. Leeds recusou um prato de comida que teria rogado uma praga na sobrecarregada mãe.
James F. McCloy e Ray Miller, Jr., escrevem em seu livro "The Jersey Devil" que, depois de o demônio nascer, "sua primeira refeição foi à base de várias crianças adormecidas". "Segundo outras versões, sua primeira refeição consistiu na família Leeds inteira."

Hóspedes nem sempre saem
Cape May, a velha cidade de praia vitoriana, na ponta sul de Nova Jersey, conta tantas histórias de fantasmas e de almas penadas que até oferece um tour por suas casas mal-assombradas, guiado por um cidadão de nome A. J. Rauber.
O hotel Macomber, no bairro histórico de Cape May, é uma enorme mansão de cinco andares que tem para contar mais do que sua justa parcela de histórias de arrepiar.
Copos cheios de uísque dançam em cima das mesas, na mansão, até derramarem seu conteúdo. Portas se fecham sozinhas. Roupas somem. As luzes acendem e apagam sozinhas. Gemidos de dor escapam por detrás de portas fechadas.
Rauber, que inclui o hotel em seu passeio por casas mal-assombradas, diz que é certo que algum tipo de atividade paranormal acontece no lugar. Diz que ninguém tem 100% de certeza, mas que se acredita que os fenômenos sejam causados em parte pelo espírito de uma mulher que foi ao hotel pela primeira vez há cerca de 45 anos, após a morte de seu marido.
A mulher levou ao hotel tudo que possuía neste mundo guardado dentro de uma grande e muito usada mala Vuitton do século 19. Rauber a chama de "a dama da mala".
Outro fantasma, ainda, é o de alguém que trabalhava no restaurante do hotel.
Certo dia um hóspede foi empurrado repentinamente, com violência, para dentro de uma geladeira grande na área do restaurante. Ninguém estava por perto quando isso aconteceu.
Rauber, o especialista em fantasmas, acha que o empurrão foi dado pelo espírito vingativo de uma garçonete que foi acusada de roubar comida da cozinha do hotel. Pouco depois disso, morreu engasgada num pedaço de frango.
O velho Caça-Fantasmas Dave já viu luzes estranhas bruxuleando à noite nas janelas do hotel Macomber.
Certa vez, eu caminhava pelo hotel numa noite quente e úmida de verão. Abri a porta de um guarda-roupa e fui recebido por um jato de ar frio que arrepiou os pêlos do meu braço.
Nunca mais abri AQUELA porta.
Esse contato imediato com o além me lembrou algo que meu avô me disse certa vez, quando eu era garotinho.
Ele falou: "Nunca tenha medo dos mortos. É os vivos que você deve temer".



Tradução de Clara Allain.


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