São Paulo, quinta-feira, 14 de abril de 2005

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PATRIMÔNIO PAULISTA

Em São Carlos, a Pinhal mantém o terreiro de café e a casa-sede como no quadro de Benedito Calixto

No século 21, fazenda retrata tela de 1900

Margarete Magalhães/Folha Imagem
Fachada do casarão da família do conde do Pinhal, que começou a ser erguido no século 19


MARGARETE MAGALHÃES
ENVIADA ESPECIAL A SÃO CARLOS (SP)

A composição casa-sede, senzala, terreiro de café, palmeiras imperiais e tulha remete a reproduções de quadros impressos em livros de história. Quem só guarda essa imagem dos alfarrábios encontrará um jeito de vê-la se descolar do papel ao visitar antigas fazendas de café no interior dos Estados de São Paulo, de Minas Gerais e do Rio.
Uma delas, a Fazenda Pinhal, na cidade de São Carlos, a 250 km de São Paulo, consegue em seus 18 alqueires tombados pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico) em 1987 quase reproduzir a tela bucólica com um campo verde, vaquinhas e benfeitorias pintada em 1900 pelo pintor Benedito Calixto.
Erguido em taipa de pilão e taipa de mão, o casarão de arquitetura colonial da Pinhal, que começou a ser construído em 1831, ganhando uma ampliação em 1860, espelha o auge da cafeicultura paulista na segunda metade do século 19. Ainda hoje é possível, na entrada da fazenda, ver alguns pés de café. Os primeiros pés foram plantados ali em 1840.

Preservação
Na propriedade de São Carlos, a manutenção e a atenção dedicadas ao patrimônio extrapolam o lado arquitetônico. A Associação Pró Casa do Pinhal faz convênios com universidades e instituições de pesquisa e tem os olhos voltados à preservação da memória: os patrimônios natural -a propriedade tem um bosque de 120 mil metros quadrados- e museológico e a coleção bibliográfica.
A biblioteca da fazenda, cujos livros podem ser consultados ali, tem um acervo de 3.000 obras, algumas raras e muitas delas ligadas à historiografia brasileira e, claro, ao café. Nas prateleiras encontram-se livros de Oliveira Lima, Pedro Calmon, Gilberto Freyre, além de clássicos da literatura portuguesa, com uma coleção completa de Eça de Queiroz.
Semanalmente, alunos do curso de Ciência de Informação da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos) vão à fazenda e trabalham para que as obras da Pinhal sejam incluídas no sistema integrado de bibliotecas da universidade. Um dos projetos prevê o restauro das obras e a climatização do local.
Outra recuperação do patrimônio histórico virá em breve. De 8 a 10/9 deste ano, quando a fazenda realizará a quinta edição da Semana Pró Casa do Pinhal, uma máquina de beneficiamento reformada voltará a funcionar.
O aparato da marca Mac Hardy, distribuído em três andares dentro da tulha -local utilizado para armazenamento do café-, funcionará no início por energia, mas, no futuro, irá operar a turbina de água, como antigamente.
O turista poderá, então, acompanhar todo o processo de produção do café. Desde a chegada dos vagonetes carregados até a saída dos grãos, depois de serem descascados, separados, ventilados e classificados. O investimento para colocar a máquina em funcionamento será de cerca de R$ 70 milhões.
Manter toda a "tela" de Benedito Calixto em cores vivas no quadro real é mais custoso do que admirá-la na parede.


Margarete Magalhães hospedou-se a convite da Fazenda Pinhal


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