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PATRIMÔNIO PAULISTA
Fazendas mantêm maquinário para beneficiamento de café e ainda se vêem trilhos de trem
Cafeicultor do oeste diferenciou-se pela modernização
DA ENVIADA ESPECIAL
Os interessados pelo ciclo do
café no Brasil vão gostar de conhecer as fazendas cafeicultoras
no Rio, em Minas e no Vale do Paraíba. Mas quem visitar as propriedades do oeste paulista, na região de Limeira, de Campinas, de
São Carlos e de Mococa, encontrará resquícios da modernização
na cafeicultura.
O cultivo veio do Rio e foi tomando conta do interior de São
Paulo, primeiramente do Vale do
Paraíba. Mas onde ganhou terreno mesmo foi no chamado oeste
paulista (que não é exatamente o
oeste geográfico), de terras férteis,
substituindo os pés de cana-de-açúcar. Uma caminhada em fazendas da região feita com um tênis branco mostra por que a terra
ganhou o nome de roxa.
Em fazendas como a Pinhal, em
São Carlos, a Ibicaba, em Cordeirópolis, e a Santa Gertrudes, na cidade de mesmo nome, o visitante
se depara com máquinas de beneficiamento: despolpadores, classificadores e ensacadores.
"As fazendas do oeste paulista
têm indícios de modernização",
afirma Miriam Dolhnikoff, professora de história da USP. A existência das máquinas adquiridas
pelos cafeicultores paulistas tem
uma razão.
Segundo a historiadora, a produção de café no oeste paulista organizou-se no fim do tráfico negreiro: a lei Eusébio de Queiroz é
de 1850, havia uma expectativa do
fim do tráfico, e os cafeicultores
sabiam que era "fundamental
economizar trabalho de escravos
comprando maquinário".
Quem pensa ver estampado o
nome de marcas inglesas da época nessas máquinas se surpreende
com um descascador na fazenda
Ibicaba, de fabricação brasileira,
precisamente de Limeira .
"As máquinas usadas inicialmente eram importadas e depois
passaram a ser fabricadas aqui
para atender à necessidade do cafeicultor", explica Dolhnikoff.
Outro indício de modernização
são as ferrovias. A primeira estrada de ferro paulista, a São Paulo
Railway, ligava Santos a Jundiaí.
Mas esse trecho não era suficiente
para escoar a produção de café do
oeste paulista. Essa conexão foi
bancada com dinheiro dos próprios cafeicultores. O conde do
Pinhal, proprietário da Fazenda
Pinhal, por exemplo, financiou
com capital próprio 300 km de estrada de ferro, ligando Rio Claro a
Araraquara, em 1885, e a Jaú, em
1887.
"O traçado [da linha do trem]
atendia ao interesse do cafeicultor. Passa perto da fazenda, nem
sempre dentro." A 4 km da Pinhal, embora em estado precário,
ainda é possível comprovar a história e ver a estação de trem usada
na época para escoamento do café.
(MARGARETE MAGALHÃES)
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