São Paulo, quinta-feira, 14 de abril de 2005

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PATRIMÔNIO PAULISTA

Fazendas mantêm maquinário para beneficiamento de café e ainda se vêem trilhos de trem

Cafeicultor do oeste diferenciou-se pela modernização

DA ENVIADA ESPECIAL

Os interessados pelo ciclo do café no Brasil vão gostar de conhecer as fazendas cafeicultoras no Rio, em Minas e no Vale do Paraíba. Mas quem visitar as propriedades do oeste paulista, na região de Limeira, de Campinas, de São Carlos e de Mococa, encontrará resquícios da modernização na cafeicultura.
O cultivo veio do Rio e foi tomando conta do interior de São Paulo, primeiramente do Vale do Paraíba. Mas onde ganhou terreno mesmo foi no chamado oeste paulista (que não é exatamente o oeste geográfico), de terras férteis, substituindo os pés de cana-de-açúcar. Uma caminhada em fazendas da região feita com um tênis branco mostra por que a terra ganhou o nome de roxa.
Em fazendas como a Pinhal, em São Carlos, a Ibicaba, em Cordeirópolis, e a Santa Gertrudes, na cidade de mesmo nome, o visitante se depara com máquinas de beneficiamento: despolpadores, classificadores e ensacadores.
"As fazendas do oeste paulista têm indícios de modernização", afirma Miriam Dolhnikoff, professora de história da USP. A existência das máquinas adquiridas pelos cafeicultores paulistas tem uma razão.
Segundo a historiadora, a produção de café no oeste paulista organizou-se no fim do tráfico negreiro: a lei Eusébio de Queiroz é de 1850, havia uma expectativa do fim do tráfico, e os cafeicultores sabiam que era "fundamental economizar trabalho de escravos comprando maquinário".
Quem pensa ver estampado o nome de marcas inglesas da época nessas máquinas se surpreende com um descascador na fazenda Ibicaba, de fabricação brasileira, precisamente de Limeira .
"As máquinas usadas inicialmente eram importadas e depois passaram a ser fabricadas aqui para atender à necessidade do cafeicultor", explica Dolhnikoff.
Outro indício de modernização são as ferrovias. A primeira estrada de ferro paulista, a São Paulo Railway, ligava Santos a Jundiaí. Mas esse trecho não era suficiente para escoar a produção de café do oeste paulista. Essa conexão foi bancada com dinheiro dos próprios cafeicultores. O conde do Pinhal, proprietário da Fazenda Pinhal, por exemplo, financiou com capital próprio 300 km de estrada de ferro, ligando Rio Claro a Araraquara, em 1885, e a Jaú, em 1887.
"O traçado [da linha do trem] atendia ao interesse do cafeicultor. Passa perto da fazenda, nem sempre dentro." A 4 km da Pinhal, embora em estado precário, ainda é possível comprovar a história e ver a estação de trem usada na época para escoamento do café. (MARGARETE MAGALHÃES)


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