São Paulo, segunda-feira, 14 de maio de 2001

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PAZ NOS BÁLCÃS

Espaços públicos de Zagreb são ocupados por mesinhas com novos-ricos e beldades em trajes impecáveis

Praças da capital parecem salão de festas

DO ENVIADO ESPECIAL À CROÁCIA

Mais de 1 milhão de pessoas, cerca de um quarto da população da Croácia, vive na capital, Zagreb. Superpovoada e charmosa, a cidade tem o estilo de outras metrópoles do Leste Europeu, como Praga e Budapeste.
Enquanto nas ruas motoristas disputam o espaço com bondes elétricos e bicicletas, tentando conter a irritação nos constantes engarrafamentos, nos calçadões para pedestres as pessoas passeiam tranquilas e tomam cerveja nas mesas dos bares.
E quantos bares! Praças inteiras, como a Cvjetni Trg (praça das Flores) -o coração da parte baixa de Zagreb-, são ocupadas por mesinhas e cadeiras.
É como se o espaço público tivesse sido transformado num imenso salão de festas.
A qualquer hora do dia ou da noite, há gente bebericando e praticando um dos esportes nacionais favoritos: observar modelos e celebridades. As poltronas dos cafés Bulldog e Charlie são as tribunas mais privilegiadas para essa modalidade. Foi ali que em poucas horas o repórter viu passar, entre outros, a Miss Croácia e pelo menos uma dezena de mulheres mais atraentes que ela, em trajes e maquiagem impecáveis.
Aos sábados, a concentração de estrelas por metro quadrado é tão absurda que o principal programa de fofocas da TV croata -nos moldes do "Flash", com Amaury Jr.- é gravado na praça das Flores. Do primeiro-ministro à capa da "Playboy" croata, todos estão nas mesas dos cafés, clamando por serem entrevistados e fotografados.
É claro que, a não ser que esteja acompanhado de um morador local, o visitante não vai distinguir na multidão quem é ministro e quem é bandido (no início de abril, um dos chefões da máfia dos Bálcãs foi morto a tiros na praça, em plena luz do dia). Mesmo sem saber quem é quem, é curioso assistir ao desfile de novos-ricos e à alta sociedade em ação.
Zagreb é sem dúvidas uma cidade para se conhecer caminhando. Uma área circular de cerca de um quilômetro de diâmetro compreende o centro velho, onde ficam praticamente todos os pontos de maior interesse: parques, museus, igrejas, feiras e mercados abertos.
Pode-se chegar à parte alta da cidade, onde fica a igreja de São Marcos, ao Parlamento e a mais uma ou duas centenas de bares e cafés por meio de um bondinho funicular. Lá em cima, uma romântica esplanada de onde se avista toda a cidade parece ser um dos pontos de encontro favoritos de casais de todas as idades.
Num esforço por se mostrar mais européia e menos balcânica (no sentido pejorativo do termo), Zagreb é uma cidade de contrastes interessantes.
Ao mesmo tempo em que incorpora os inevitáveis ícones da globalização dos valores ocidentais, a capital croata ainda mantém vivos alguns símbolos dos tempos em que pertencia à Iugoslávia do marechal Tito.
Pequenas mercearias e restaurantes familiares figuram no mesmo quarteirão de um McDonald's ou de um café Starbucks.
Centenas de fusquinhas bem conservados circulam ao lado de BMWs último modelo. E pipoqueiros de rua, cuja profissão está ameaçada de extinção, continuam a espalhar o cheiro característico pelo centro velho.
Mas é nos bairros mais afastados do centro, principalmente em Novi Zagreb (Nova Zagreb), que o legado dos tempos iugoslavos parece mais vivo que nunca.
Os croatas do pós-Guerra Fria continuam a viver em edifícios de padrões arquitetônicos soviéticos. Apesar de haver um ou outro arranha-céu de escritórios, os feios blocos de concreto ainda dominarão por algum tempo a paisagem residencial.
Zagreb é uma cidade para se explorar sem mapa nem relógio. Suas ruas estreitas e seus cafés são um convite para esquecer o tempo e o espaço. A mistura do antigo com o novo resulta numa incursão pela velha Europa que aspira se globalizar, mas mantém suas características locais intactas. (MARCELO STAROBINAS)



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