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PAZ NOS BÁLCÃS
Espaços públicos de Zagreb são ocupados por mesinhas com novos-ricos e beldades em trajes impecáveis
Praças da capital parecem salão de festas
DO ENVIADO ESPECIAL À CROÁCIA
Mais de 1 milhão de pessoas,
cerca de um quarto da população
da Croácia, vive na capital, Zagreb. Superpovoada e charmosa,
a cidade tem o estilo de outras
metrópoles do Leste Europeu,
como Praga e Budapeste.
Enquanto nas ruas motoristas
disputam o espaço com bondes
elétricos e bicicletas, tentando
conter a irritação nos constantes
engarrafamentos, nos calçadões
para pedestres as pessoas passeiam tranquilas e tomam cerveja
nas mesas dos bares.
E quantos bares! Praças inteiras, como a Cvjetni Trg (praça
das Flores) -o coração da parte
baixa de Zagreb-, são ocupadas
por mesinhas e cadeiras.
É como se o espaço público tivesse sido transformado num
imenso salão de festas.
A qualquer hora do dia ou da
noite, há gente bebericando e
praticando um dos esportes nacionais favoritos: observar modelos e celebridades. As poltronas
dos cafés Bulldog e Charlie são as
tribunas mais privilegiadas para
essa modalidade. Foi ali que em
poucas horas o repórter viu passar, entre outros, a Miss Croácia e
pelo menos uma dezena de mulheres mais atraentes que ela, em
trajes e maquiagem impecáveis.
Aos sábados, a concentração de
estrelas por metro quadrado é tão
absurda que o principal programa de fofocas da TV croata
-nos moldes do "Flash", com
Amaury Jr.- é gravado na praça
das Flores. Do primeiro-ministro
à capa da "Playboy" croata, todos
estão nas mesas dos cafés, clamando por serem entrevistados e
fotografados.
É claro que, a não ser que esteja
acompanhado de um morador
local, o visitante não vai distinguir na multidão quem é ministro e quem é bandido (no início
de abril, um dos chefões da máfia
dos Bálcãs foi morto a tiros na
praça, em plena luz do dia). Mesmo sem saber quem é quem, é curioso assistir ao desfile de novos-ricos e à alta sociedade em ação.
Zagreb é sem dúvidas uma cidade para se conhecer caminhando. Uma área circular de cerca de
um quilômetro de diâmetro
compreende o centro velho, onde
ficam praticamente todos os
pontos de maior interesse: parques, museus, igrejas, feiras e
mercados abertos.
Pode-se chegar à parte alta da
cidade, onde fica a igreja de São
Marcos, ao Parlamento e a mais
uma ou duas centenas de bares e
cafés por meio de um bondinho
funicular. Lá em cima, uma romântica esplanada de onde se
avista toda a cidade parece ser
um dos pontos de encontro favoritos de casais de todas as idades.
Num esforço por se mostrar
mais européia e menos balcânica
(no sentido pejorativo do termo),
Zagreb é uma cidade de contrastes interessantes.
Ao mesmo tempo em que incorpora os inevitáveis ícones da
globalização dos valores ocidentais, a capital croata ainda mantém vivos alguns símbolos dos
tempos em que pertencia à Iugoslávia do marechal Tito.
Pequenas mercearias e restaurantes familiares figuram no
mesmo quarteirão de um McDonald's ou de um café Starbucks.
Centenas de fusquinhas bem
conservados circulam ao lado de
BMWs último modelo. E pipoqueiros de rua, cuja profissão está
ameaçada de extinção, continuam a espalhar o cheiro característico pelo centro velho.
Mas é nos bairros mais afastados do centro, principalmente
em Novi Zagreb (Nova Zagreb),
que o legado dos tempos iugoslavos parece mais vivo que nunca.
Os croatas do pós-Guerra Fria
continuam a viver em edifícios de
padrões arquitetônicos soviéticos. Apesar de haver um ou outro
arranha-céu de escritórios, os
feios blocos de concreto ainda
dominarão por algum tempo a
paisagem residencial.
Zagreb é uma cidade para se explorar sem mapa nem relógio.
Suas ruas estreitas e seus cafés são
um convite para esquecer o tempo e o espaço. A mistura do antigo com o novo resulta numa incursão pela velha Europa que aspira se globalizar, mas mantém
suas características locais intactas.
(MARCELO STAROBINAS)
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