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SOB O SOL DO MARANHÃO
Caminhada de São Luís a Caburé evita trechos mais freqüentados por turistas, com jipes e ambulantes
Travessia contorna a movimentação
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A viagem narrada nesta edição de Turismo partiu de São
Luís. Na mochila, muita disposição para caminhar. A viagem
-com destaque para a travessia a pé do deserto dos Lençóis,
que cobre uma área tão grande
(155 mil hectares) como a da cidade de São Paulo- termina
em Caburé.
A opção mais conhecida de
roteiro para Lençóis é a que é
vendida com destaque pelas
agências de turismo: passar alguns dias em Barreirinhas (a
três horas de ônibus da capital
maranhense) e de lá partir para
passeios diários nas lagoas
mais famosas, como a Azul e a
Bonita. Pelas fotos das agências
de turismo, parecem lugares
lindos. Mas talvez não seja a
melhor opção se você se incomoda com o barulho de dezenas de buggies trazendo turistas e ambulantes vendendo
cerveja e camarão no espeto.
Nesse caso, com bom preparo físico (ninguém precisa ser
atleta, mas sedentários dificilmente completam o percurso)
e disposição, considere o trekking. São cerca de 30 km no
primeiro dia (dez horas), 15 km
no segundo (quatro horas) e
uns 30 km no terceiro (sete horas, sendo metade pela praia).
É uma caminhada pesada,
mas com vantagens, em que é
possível nadar em lagoas lindas
e desertas e ver paisagens deslumbrantes principalmente ao
amanhecer (sim, o dia começa
cedo e escuro, por volta das 5h)
e ao entardecer, quando o sol
dá tonalidades de uma diversificada aquarela à areia bem
branquinha.
O silêncio impera. Não haverá ambulantes empurrando artesanato local nem pessoas gritando ou rolando nas dunas. E
os bugueiros, que não chegam
nem perto dessas lagoas quase
intocadas, não ficarão implorando para acabar o passeio
mais cedo -cena comum no
Nordeste.
Para fazer o trekking é necessário o auxílio de um guia
local. Conhecemos o nosso,
Paulo César Santos, em Santo
Amaro, uma cidadezinha encravada no meio dos Lençóis.
Ele nos conduziu pelas dunas
até o Canto dos Atins, já às
margens do rio Preguiças, onde
há diversos passeios de barco
pelas vilas de pescadores da região. Nativo, Paulo César sabe
onde a areia é mais firme e os
passos ganham força. Conhece
as principais lagoas, como a das
Gaivotas -que serviu de cenário para o filme "Casa de
Areia", com as atrizes Fernando Montenegro e Fernanda
Torres. E sempre arranja um
lugar para estender mais algumas redes para dormir nos dois
oásis verdes que brotam no
meio desse deserto.
Na primeira noite, a parada é
na Queimada dos Britos. Na segunda, na Baixa Grande (leia
na pág. F6 sobre essas localidades). O terceiro dia começa
bem cedo, por volta das 4h. A
lua cheia ilumina os passos,
deixando um rastro prateado
nas lagoas. Um cenário inesquecível. Depois de três horas
nas dunas, enfim, a praia.
Para quem passou os últimos
dias rodeado de paisagens maravilhosas, o mar aberto decepciona. A areia da praia é mais
escura, assim como a água do
Atlântico. Mas ainda assim é
bom sentir o cheiro salgado
que o vento constante sopra
em sua direção. Depois de alguns quilômetros, surgem os
ranchos -casebres de madeira,
usados pelo povo dos oásis como refúgio para os dias de pesca marinha.
Pouco antes do meio-dia,
quando o sol já começa a incomodar, chega-se ao Canto do
Atins, o ponto final da caminhada. Ou o inicial, se você optar por fazer o trajeto inverso,
recomendável para o segundo
semestre, período em que o
vento sopra muito forte e pode
incomodar. Mas talvez mais
importante do que o pequeno
povoado de Canto do Atins seja
o local escolhido para encerrar
a travessia: o restaurante da
Luzia, onde você poderá comer
um dos melhores camarões
grelhados de sua vida.
Depois de tanta caminhada,
nada melhor do que uma boa
refeição regada a uma cerveja
gelada (lembre-se de que você
passou as últimas 60 horas sem
energia elétrica nem geladeira). De lá, mais uma caminhada
(em torno de 40 minutos) até o
ponto da praia em que uma
lancha nos esperava. Mais 20
minutos sobre as ondas e aportamos em Caburé, bom lugar
para escolher uma das confortáveis pousadas desse charmoso vilarejo para relaxar por dois
dias. No final, não fossem as
bolhas nos pés, talvez seja difícil saber se tudo não passou
mesmo de um sonho azul e
branco.
(FABIO SCHIVARTCHE E ANA CLÁUDIA MARTONI)
TRAVESSIA
Sacada Turismo (em São Luís) organiza o trekking. Agenda guia e reserva
hospedagem antes, durante e depois
da travessia, além de providenciar o
transporte necessário
tel.: 0/xx/98/3231-3225 ou 0/xx/98/8125-7666
GUIA
Paulo César Santos
tel.: 0/xx/98/3369-1066
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