São Paulo, segunda, 14 de setembro de 1998

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Fachada rebuscada de Chartres condiz com a sua história

do enviado especial

É muito difícil alguém chegar perto da catedral de Chartres e não deixar escapar com espontaneidade um "Noooosssa Senhoooora".
Pois é para isso mesmo que foi construída. Essa é a catedral de Nôtre-Dame, o que em português é o equivalente a Nossa Senhora.
Um dos maiores monumentos arquitetônicos da França, o templo tem história tão cheia de reentrâncias quanto a fachada rebuscada pode fazer crer.
Há muitos séculos acredita-se que o terreno onde a igreja está construída é abençoado por Deus, embora a região não seja especialmente bonita por natureza. No mesmo espaço em que hoje fica a Nôtre-Dame, romanos e celtas já faziam na antiguidade seus exercícios de fé. No século 4º, lá foi construída uma igreja feita de madeira.
Dela não sobram vestígios, mas a cripta, que ainda pode ser visitada e é a maior da França, tem suas origens na igreja de pedra que começou a ser erigida no século 9º.
Nesse mesmo período, Chartres recebeu sua pedra fundamental, que, por sinal, não é uma pedra, mas sim um pedaço de pano.
Chartres ainda era um condado e se chamava Carnutes quando, em 876, o rei Charles, o Careca, oferece para o bispo da igrejinha local a relíquia da Santa Camisa.
Havia a crença de que esse era o véu usado pela Virgem Maria quando nasceu Jesus.
Milhares de pessoas passaram a visitar a igreja a partir de então e, no século 11, começa a ser construída uma catedral em Chartres.
Situada no local mais alto da região, em tempos pré-Benjamim Franklin, a igreja não foi poupada pelos raios, que causaram sucessivos incêndios na Nôtre-Dame.
A fachada da construção permaneceu em pé e é por isso que ela data do século 12, embora a maior parte da igreja tenha sido construída no século 13.
A maior de suas torres, a da esquerda, que pode ser vista já da estradinha da entrada de Chartres, é considerada a última parte a ser construída. Terminada no século 16, é exemplo do rebuscado período final do gótico, chamado de "flamboyant", ou flamejante, por lembrar os contornos ondulados das chamas.
É justamente nelas, nas chamas, que quase terminou a maior relíquia de Chartres. Em um dos incêndios, o fogo chegou a carbonizar parte da Santa Camisa.
Ainda hoje, a catedral exibe o pedaço que não virou brasa. Não existem aglomerações épicas de turistas em frente à camisa, mesmo após a divulgação do resultado de um exame, pelas autoridades de Chartres, comprovando que o pano é do século 1º e da região da Palestina. (CEM)



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