São Paulo, quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

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SOBRADOS E MUCAMBOS

Sai o maracatu atômico, entra o rural

Manifestação teve origem nos canaviais, no início do século 20, e segue em dezenas de grupos pela região

DO ENVIADO ESPECIAL À ZONA DE MATA

Que atômico nada! Em Nazaré da Mata e imediações, quem reina é o maracatu do baque solto, folguedo saído como uma assombração dos canaviais de Pernambuco para carnavalizar a dura vida dos que vivem e morrem cortadores.
Também chamada de maracatu rural, a brincadeira tem sua origem no início do século 20, entre os trabalhadores dos canaviais. Hoje se organiza em dezenas de grupos pela região, como Cambinda Brasileira, de 1918, e o Estrela de Ouro, do mestre Zé Duda e sediado na vizinha cidade de Aliança.
A música do maracatu rural varia pouco, se alternando entre ladainha improvisada puxada pelo mestre e ecoada pelas baianas e a vibrante explosão da orquestra formada por metais e percussão -a cuíca e o trombone estão entre os instrumentos obrigatórios. Já o colorido espetáculo visual é garantido pelos personagens que, em coreografias simples, dançam ao som da orquestra. Sobram lantejoulas, panos coloridos e adereços de alusão religiosa, indígena, negra e monarquista. O grande símbolo do maracatu do baque solto é o lanceiro, também chamado de caboclo ou caboclo de lança.
Sua vestimenta improvável inclui grandes lanças indígenas, óculos escuros, chocalhos nas costas e uma flor na boca. A época mais fácil para ver o maracatu da zona da mata norte é, claro, o Carnaval, mas a proliferação dos grupos de maracatu nos últimos anos tem impulsionado festivais e apresentações fora de época.
"Antigamente, eram poucos maracatus, uns dez, 12, hoje tem mais de 120", diz o mestre Zé Duda, 68 anos, 58 de folguedo. Com CD gravado, ele diz que não sente nostalgia do passado, não, e que nunca se apresentou tanto como agora: em agosto, entoou sua ladainha lá na França.
O maracatu Estrela de Ouro de mestre Zé Duda aos poucos se acostuma a receber grupos para apresentações defronte à sua sede, uma casa afastada da cidade de Aliança, a 82 km do Recife. Ali, no chão batido, prova-se um pouquinho do maracatu e de outros ritmos regionais, como o coco, o cavalo-marinho, a ciranda e o caboclinho.
Por causa do fluxo turístico ainda pequeno, é preciso marcar a visita, o que pode ser feito por meio de agências de turismo. A outra opção é se programar para o último sábado do mês, quando ocorre a Festa no Terreiro.
Enquanto uns maracatus se adaptam para receber o turismo, o Cambinda Brasileira busca ficar onde está: é o único maracatu que ainda tem sede rural, em meio a um imenso canavial do engenho Cumbe, na zona rural de Nazaré da Mata, localizado a 62 km da capital pernambucana.
As sambadas ali ocorrem madrugada adentro e não têm data fixa para ocorrer nem hora para terminar, e os forasteiros são contados nos dedos.
(FABIANO MAISONNAVE)


PONTO DE CULTURA ESTRELA DE OURO
Sítio Chã de Camará; acesso pela rodovia BR-408. Fica na PE-62, logo após a entrada do distrito de Upatininga; é preciso agendar visita.
Tel.: 0/xx/81/3222-5571



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