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SOBRADOS E MUCAMBOS
Sai o maracatu atômico, entra o rural
Manifestação teve origem nos canaviais, no início do século 20, e segue em dezenas de grupos pela região
DO ENVIADO ESPECIAL À ZONA DE MATA
Que atômico nada! Em Nazaré da Mata e imediações, quem
reina é o maracatu do baque
solto, folguedo saído como uma
assombração dos canaviais de
Pernambuco para carnavalizar
a dura vida dos que vivem e
morrem cortadores.
Também chamada de maracatu rural, a brincadeira tem
sua origem no início do século
20, entre os trabalhadores dos
canaviais. Hoje se organiza em
dezenas de grupos pela região,
como Cambinda Brasileira, de
1918, e o Estrela de Ouro, do
mestre Zé Duda e sediado na vizinha cidade de Aliança.
A música do maracatu rural
varia pouco, se alternando entre ladainha improvisada puxada pelo mestre e ecoada pelas
baianas e a vibrante explosão
da orquestra formada por metais e percussão -a cuíca e o
trombone estão entre os instrumentos obrigatórios.
Já o colorido espetáculo visual é garantido pelos personagens que, em coreografias simples, dançam ao som da orquestra. Sobram lantejoulas, panos
coloridos e adereços de alusão
religiosa, indígena, negra e monarquista. O grande símbolo do
maracatu do baque solto é o
lanceiro, também chamado de
caboclo ou caboclo de lança.
Sua vestimenta improvável inclui grandes lanças indígenas,
óculos escuros, chocalhos nas
costas e uma flor na boca.
A época mais fácil para ver o
maracatu da zona da mata norte é, claro, o Carnaval, mas a
proliferação dos grupos de maracatu nos últimos anos tem
impulsionado festivais e apresentações fora de época.
"Antigamente, eram poucos
maracatus, uns dez, 12, hoje
tem mais de 120", diz o mestre
Zé Duda, 68 anos, 58 de folguedo. Com CD gravado, ele diz
que não sente nostalgia do passado, não, e que nunca se apresentou tanto como agora: em
agosto, entoou sua ladainha lá
na França.
O maracatu Estrela de Ouro
de mestre Zé Duda aos poucos
se acostuma a receber grupos
para apresentações defronte à
sua sede, uma casa afastada da
cidade de Aliança, a 82 km do
Recife. Ali, no chão batido, prova-se um pouquinho do maracatu e de outros ritmos regionais, como o coco, o cavalo-marinho, a ciranda e o caboclinho.
Por causa do fluxo turístico
ainda pequeno, é preciso marcar a visita, o que pode ser feito
por meio de agências de turismo. A outra opção é se programar para o último sábado do
mês, quando ocorre a Festa no
Terreiro.
Enquanto uns maracatus se
adaptam para receber o turismo, o Cambinda Brasileira busca ficar onde está: é o único maracatu que ainda tem sede rural, em meio a um imenso canavial do engenho Cumbe, na zona rural de Nazaré da Mata, localizado a 62 km da capital pernambucana.
As sambadas ali ocorrem madrugada adentro e não têm data
fixa para ocorrer nem hora para
terminar, e os forasteiros são
contados nos dedos.
(FABIANO MAISONNAVE)
PONTO DE CULTURA ESTRELA DE
OURO
Sítio Chã de Camará; acesso pela
rodovia BR-408. Fica na PE-62, logo
após a entrada do distrito de Upatininga; é preciso agendar visita.
Tel.: 0/xx/81/3222-5571
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