São Paulo, quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BÚSSOLA

Com poucas novidades, setor tenta emplacar rotas com baixa procura; profissionalização é uma das causas de inércia

Ecoturismo vive estagnação em roteiros

JULIANA DORETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em terra cheia de palmeiras e aves gorjeando como em nenhum outro lugar, o ecoturismo deveria ser tão farto em novos destinos como a orla das praias em coqueiros. Mas o setor vive um período de parcas novidades, em que as principais apostas são a retomada de velhos roteiros, cujas vendas nunca levantaram vôo, apesar da beleza natural.
"A origem do ecoturismo no Brasil foi há uns 20 anos, com um grupo de aventureiros, como eu, que vêm perdendo o espírito desbravador e se transformando em empresas. Antes, lançar um roteiro era uma curtição. Agora, tem que ter lucro logo", afirma Maurício Lino de Almeida, proprietário da agência Pisa.
Aliado à profissionalização das agências, o turismo de massa, com seus vôos fretados e os megainvestimentos hoteleiros, que se apossam dos antes paraísos quase desertos, é outro entrave à inovação no setor.
Nesse cenário, fichas são lançadas em destinos que prometem crescimento gradual, mas constante. O Jalapão é um deles. "É um lugar inusitado, improvável. Um deserto no meio de Tocantins. Não há hotel nem pousada, mas o acampamento não faz parte da cultura do brasileiro, ao contrário, remete a um turismo de baixa categoria. Tenho certeza de que receberá infra-estrutura e será um grande destino a partir de 2008", afirma Edgar Werblowsky, diretor da Freeway.
"É um destino trabalhado pelas agências desde 99, quando levávamos dez pessoas por ano para lá. Agora, são cerca de 200 pessoas", completa João Ricardo Marincek, um dos proprietários da Venturas & Aventuras.
Outro foco é a a Amazônia. "É um mercado que está crescendo, sobretudo os hotéis menores, focados em um modelo de turismo sustentável", diz Renata Novaes, gerente da Ambiental.
"O turista dá preferência também à exclusividade, a um atendimento mais personalizado. Pode ser um barco com ar-condicionado, mas que faça paradas em comunidades ribeirinhas", emenda Tatiana Almeida, consultora da Cia. Nacional de Ecoturismo.
Ainda na região Norte, desponta o monte Roraima: "É uma expedição difícil, para quem realmente gosta de trekking, em tepuis, que são morros com topos chapados", completa Almeida.
Nos roteiros rodoviários, contudo, o custo mais baixo incentiva as viagens, e a inovação é maior. Sobressaem como novas rotas as cachoeiras de Prudentópolis (PR), no Paraná, e Ilha Grande, no Rio. "É um destino já conhecido dos cariocas e que agora atinge os paulistanos, com suas praias quase desertas", diz Eurides Mendes, proprietária da Filhos da Terra.
Entre as apostas individuais das agências estão a região da hidrelétrica de Paulo Afonso (BA), que será comercializada pela Pisa no segundo semestre, novas trilhas no Peru, próximas a Machu Picchu, pela Venturas, e o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, no Sul, e a Serra do Roncador, em Mato Grosso, pela Freeway.

Bungee jump
Pelo desfiladeiro abaixo nas vendas vai a Chapada Diamantina. "É um dos melhores destinos de ecoturismo do Brasil, mas, pela dificuldade de acesso, com tarifas aéreas muito altas a partir de Salvador, as viagens se tornaram caras", explica Marincek.
Outra meca do ecoturismo nacional também já não é a mesma. "Brotas está estagnada. Eles foram os precursores, mas não trouxeram mais novidades", diz Mário Neto, também da Pisa.


Texto Anterior: Bússola: Cruzeiro leva turista a águas estrangeiras
Próximo Texto: Turismo de massa é vilão para operadores
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.