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Casal de artistas transforma sua casa em museu de arte cearense
DA ENVIADA ESPECIAL
O Minimuseu Firmeza, nas
imediações de Fortaleza, conta
duas histórias, uma artística, e a
outra, de amor.
O cenário da arte cearense
-partindo de inscrições rupestres datadas de 5.000 a.C. até os
trabalhos mais modernos- está
representado e documentado nas
cerca de 300 obras em exposição.
Há outras quase 300 na reserva
técnica do museu.
Entremeando o acervo de romantismo, as paredes narram
também a trajetória dos artistas
plásticos Nilo e Maria Firmeza, ou
Estrigas e Nice -como assinam
suas obras-, proprietários do
museu, que funciona na casa do
casal desde 1969.
"A arte nos uniu", diz Nice, 79,
ao contar que conheceu o marido
em uma aula de pintura, no curso
de desenho livre da Sociedade
Cearense de Artes Plásticas
(Scap). Em julho, seu casamento
completa 41 anos. Mas o caso com
a arte já fez 51.
Para ela, o museu virou um prolongamento do Scap, onde tudo
começou. "Era um ambiente
muito bom. Os professores davam aula de graça, e os alunos não
tinham essa ambição de hoje, de
vender seus quadros logo que
saem do cavalete."
O museu tem ingresso gratuito
e o próprio casal acompanha os
visitantes, como se velhos amigos
fossem, para uma rápida viagem
pela história da arte cearense
-com a condição de que a visita
seja marcada com antecedência,
pelo telefone.
O início
A carreira de Nice começou
com paisagens, seguindo depois
para uma série sobre máscaras.
Há cerca de dez anos, ela adotou
as crianças como tema e as tomou
como pupilos.
Estrigas, 81, autor de nove livros
sobre a arte do Ceará, flutua do estilo figurativo ao abstrato, sempre
lançando mão das imagens subconscientes de suas andanças pelo Estado, de onde nunca saiu.
"Não gosto do ato de viajar. Se
pudesse apertar um botãozinho e
aparecer aqui e acolá, seria ótimo", diz. Seus livros saem de uma
máquina de escrever que foi do
pai há 50 anos.
Estrigas conta que o acervo do
museu começou a tomar corpo
por meio de trocas de obras entre
amigos. "Com o tempo, ele foi ficando conhecido e os artistas começaram a doar trabalhos." O resultado, diz Estrigas, foi o único
museu do mundo que não tem
funcionários. "Por isso eu até me
encabulo de chamar de museu."
Mas a coleção não tem nada de
acanhada. Além de contar com
peças do casal -"ela (Nice) é gulosa, encheu uma parede com
seus quadros", brinca Estrigas-,
tem obras de expoentes da arte
cearense, como Aldemir Martins
e Zenon Barreto, o primeiro, um
dos fundadores do Scap.
Panorama
O panorama do museu Firmeza
começa a ser traçado com a arte
pré-histórica -Estrigas fez reproduções das paredes de uma
gruta na serra de Itapipoca, onde
as inscrições rupestres foram encontradas-, passando pelo começo do século, entrando nas primeiras entidades de artistas do
Estado (Centro Cultural de Belas
Artes, criado em 1941, e Scap, de
1944) e terminando com a arte
moderna. O abstracionismo prevalece, com um pouco de cubismo aqui e acolá. "Os artistas aqui
iam trabalhar no campo", explica
Estrigas.
(RGV)
MINIMUSEU FIRMEZA - Linha Férrea,
259, Mondubim, Fortaleza. Visitas apenas marcadas. Tel. 0/xx/85/298-1537.
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