São Paulo, segunda-feira, 16 de abril de 2001

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Casal de artistas transforma sua casa em museu de arte cearense

DA ENVIADA ESPECIAL

O Minimuseu Firmeza, nas imediações de Fortaleza, conta duas histórias, uma artística, e a outra, de amor.
O cenário da arte cearense -partindo de inscrições rupestres datadas de 5.000 a.C. até os trabalhos mais modernos- está representado e documentado nas cerca de 300 obras em exposição. Há outras quase 300 na reserva técnica do museu.
Entremeando o acervo de romantismo, as paredes narram também a trajetória dos artistas plásticos Nilo e Maria Firmeza, ou Estrigas e Nice -como assinam suas obras-, proprietários do museu, que funciona na casa do casal desde 1969.
"A arte nos uniu", diz Nice, 79, ao contar que conheceu o marido em uma aula de pintura, no curso de desenho livre da Sociedade Cearense de Artes Plásticas (Scap). Em julho, seu casamento completa 41 anos. Mas o caso com a arte já fez 51.
Para ela, o museu virou um prolongamento do Scap, onde tudo começou. "Era um ambiente muito bom. Os professores davam aula de graça, e os alunos não tinham essa ambição de hoje, de vender seus quadros logo que saem do cavalete."
O museu tem ingresso gratuito e o próprio casal acompanha os visitantes, como se velhos amigos fossem, para uma rápida viagem pela história da arte cearense -com a condição de que a visita seja marcada com antecedência, pelo telefone.

O início
A carreira de Nice começou com paisagens, seguindo depois para uma série sobre máscaras. Há cerca de dez anos, ela adotou as crianças como tema e as tomou como pupilos.
Estrigas, 81, autor de nove livros sobre a arte do Ceará, flutua do estilo figurativo ao abstrato, sempre lançando mão das imagens subconscientes de suas andanças pelo Estado, de onde nunca saiu.
"Não gosto do ato de viajar. Se pudesse apertar um botãozinho e aparecer aqui e acolá, seria ótimo", diz. Seus livros saem de uma máquina de escrever que foi do pai há 50 anos.
Estrigas conta que o acervo do museu começou a tomar corpo por meio de trocas de obras entre amigos. "Com o tempo, ele foi ficando conhecido e os artistas começaram a doar trabalhos." O resultado, diz Estrigas, foi o único museu do mundo que não tem funcionários. "Por isso eu até me encabulo de chamar de museu."
Mas a coleção não tem nada de acanhada. Além de contar com peças do casal -"ela (Nice) é gulosa, encheu uma parede com seus quadros", brinca Estrigas-, tem obras de expoentes da arte cearense, como Aldemir Martins e Zenon Barreto, o primeiro, um dos fundadores do Scap.

Panorama
O panorama do museu Firmeza começa a ser traçado com a arte pré-histórica -Estrigas fez reproduções das paredes de uma gruta na serra de Itapipoca, onde as inscrições rupestres foram encontradas-, passando pelo começo do século, entrando nas primeiras entidades de artistas do Estado (Centro Cultural de Belas Artes, criado em 1941, e Scap, de 1944) e terminando com a arte moderna. O abstracionismo prevalece, com um pouco de cubismo aqui e acolá. "Os artistas aqui iam trabalhar no campo", explica Estrigas. (RGV)


MINIMUSEU FIRMEZA - Linha Férrea, 259, Mondubim, Fortaleza. Visitas apenas marcadas. Tel. 0/xx/85/298-1537.


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