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Próximas à capital, Tupátaro e Pátzcuaro atraem pelo artesanato diversificado e pelas igrejas
Cidade "sem maridos" quer esposar turismo
Israel do Vale/Folha Imagem
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Altar da basílica de Nuestra Señora de la Salud, em Pátzcuaro |
DO ENVIADO ESPECIAL AO MÉXICO
A octogenária de manta nas
costas caminha, pé ante pé, no
adro da pequena capela de Santiago Apóstol, no povoado de Tupátaro, arredores de Morelia. A sobreposição de roupas típicas da
mulher mexicana de origem indígena parece pesar, como o acúmulo dos anos. Pede uma moeda.
Na atual condição, depende muito da benemerência dos turistas
eventuais.
Dona Erlinda Nambo Rosas trabalhou com costura enquanto as
mãos foram firmes. O marido,
camponês, já não tem forças para
a labuta na terra. Os filhos, sem
perspectivas de emprego ali, seguiram todos para os EUA.
A lógica é a mesma dos contextos de guerra. Os homens vão para a batalha, onde quer que seja o
front, e deixam as mulheres à espera de notícias -nesse caso, a de
um ganha-pão fixo. Foi o que fez
do vilarejo um lugar habitado
quase somente por mulheres.
"Sem marido"
É um quadro comum em Michoacán. O drama das "sem marido" michoacanas foi retratado no
ano passado pelo documentário
"Seen, but not Heard - Rostros sin
Voz", em que Calogero Salvo, venezuelano radicado nos EUA desde 1988, recompõe, a partir de relatos das ex-companheiras, a situação de quatro trabalhadores
mexicanos em condição ilegal,
mortos no atentado do World
Trade Center, em 2001.
Fala-se que há tantos michoacanos vivendo no exterior quantos
há na terra natal -o que faz do
Estado um equivalente mexicano
da nossa Governador Valadares.
Tupátaro tem poucos atrativos.
Mas a acanhada igreja erguida em
adobe, com o retábulo em madeira do altar dourado e o teto de tábuas pintado em tons fortes no século 18 (e que lhe confere o epíteto
de "Capela Sistina da América")
pode sim ser fonte de dinheiro.
Por ora, o movimento não animou nenhum morador a abrir
uma única "tienda" ao lado.
Michoacán é um Estado agrário. Parte considerável do comércio pelo interior está atrelada ao
turismo -em geral, associado às
marcas do evangelizador, que palmilhou a região desde o século 16,
demarcando seu rastro com igrejas muitas vezes portentosas.
Assim é em Pátzcuaro, fincada
ao sul do lago de mesmo nome.
Primeira capital do Estado, até a
transferência para a então Valladolid (hoje Morelia), ela ostenta
ainda hoje uma praça descomunal, cercada de casario preservado, tomado por pequenas lojas de
artesanato em tecido, madeira ou
ferro comum ao lugar e de lembrancinhas feitas a granel.
Lá, o grande atrativo é a monumental basílica de Nuestra Señora
de la Salud, onde se encontra o túmulo do bispo Vasco de Quiroga,
personagem de extrema importância na bem-sucedida investida
espanhola sobre a região.
Clássico mexicano
Mais ao norte de Michoacán,
quase na divisa com o Estado do
México, o acanhado povoado de
Tlalpujahua esconde um dos templos católicos mais vistosos da região. Erguido como capela, no século 16, e depois ampliado para
abrigar um antigo convento, o
Santuario de la Virgen del Carmen tomou a atual forma barroca
no século 18, mas a decoração em
estilo "clássico mexicano" só nasceu no início do século passado,
pelas mãos de Joaquín Orta, artista da própria cidade.
É o grande atrativo da cidade de
moradores de origem mazahua,
surgida a reboque da exploração
de minério. A localização, aliás,
fez dela palco constante de batalhas: fica nos limites dos territórios dos arquiinimigos purépecha
e asteca.
(ISRAEL DO VALE)
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