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AUTOFAGIA À PAULISTA
Palacete é fruto de sonhos de um tecelão português
"Egotrip" gera patrimônio único em SP
DA REPORTAGEM LOCAL
O passeio começa pela Bela Vista. As duas primeiras vilas apresentadas são tímidas, mas bem
cuidadas. As casas das ruas jardim Francisco Marcos e jardim
Heloisa têm elementos decorativos que remetem ao estilo enxaimel. Algumas estão descaracterizadas, ainda que não quebrem de
todo a uniformidade visual.
A passagem é rápida. Mas antes
de qualquer decepção, surge a
mais surpreendente parada do
roteiro: a vila Itororó. Erguida pelo tecelão português Francisco de
Castro na década de 1920, a vila só
se revela de todo quando o observador se aproxima de seu muro.
Em terreno íngreme, o palacete
tem três andares. Passarelas ligam
as portas à calçada.
Só depois de se livrar da incredulidade, o olhar se volta para os
detalhes da construção.
São colunas longas, que aludem
a templos gregos, cariátides, máscaras incrustadas nas paredes,
leões e ornatos. Parte dos adornos
veio do teatro São José.
O arquiteto Décio Tozzi, que,
entre outros, projetou o parque
Villa-Lobos, fez, em 1975, um plano de recuperação para a vila.
Ele a descreve como "um conjunto que reflete um aspecto incomum do imigrante enriquecido e,
nesse caso, imaginoso".
Como havia ali perto uma fonte
de água de boa qualidade, o córrego Itororó, Francisco de Castro
decidiu construir em sua vila uma
piscina. Assim, o local ficou célebre por ter a primeira piscina particular da capital. O projeto incluía casas de banho e um cassino,
que acabou não saindo do papel.
Castro morreu tuberculoso, depois de gozar a vida sem muitas
regras. Seus bens foram arrematados por uma fila de credores.
O destino da vila, a doação à
Santa Casa de Indaiatuba, preveniu-a de ser descaracterizada,
mas não de ser deteriorada.
A vila foi tombada em 2002 pelo
Compresp (conselho municipal
de defesa do patrimônio).
A proposta do arquiteto para
recuperar a vila, "um conjunto de
habitação coletiva de caráter infra-humano", conta quase 30
anos -à época, a vila já vivia seu
processo de deterioração, que, de
lá para cá, só piorou. Tozzi afirma
que a construção poderia servir
de centro de interesse, como um
chamariz para a visitação de um
complexo, instalado na quadra,
para entretenimento e cultura.
Mas projetos desse tipo sempre
esbarram na falta de recursos. Insistente, Tozzi convida interessados em investir na recuperação a
procurá-lo (tel.: 0/xx/11/3862-2876).
(HELOISA LUPINACCI)
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