São Paulo, segunda-feira, 16 de dezembro de 2002

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ILHA DO TESOURO

Olhos amendoados com íris clara caracterizam os habitantes, que gostam de contar histórias de piratas

Ilhéu mescla traços andinos e europeus

DA ENVIADA ESPECIAL AO CHILE

A herança de piratas é óbvia na ilha. Não estivesse hasteada a bandeira do Chile na praça central, o visitante imaginativo pensaria ter chegado a uma ilha dominada por velhos corsários.
Para começar, em vez de anões de jardim, as casas da vila San Juan Bautista têm canhões de jardim. No camping (que cobra o equivalente a US$ 1,60 por pessoa), peças de naufrágios servem de enfeite. Nas pousadas, balas de canhão repousam sobre pedestais. Nas salas, restos de bandeiras negras de barcos pirata são peças de decoração.
A vila fica na baía Cumberland, na face nordeste da ilha, e tem 714 moradores. E é a única na ilha Robinson Crusoé. Ela surgiu em 1877, quando o suíço Alfredo de Rodt, do regimento de couraceiros do imperador Francisco José Áustria, colonizou o local.
O resultado da aventura do suíço é curioso: ao perguntar o nome de um robinsone, o que mais se ouve é o sobrenome de Rodt. Cerca de 80% dos locais nasceram ali, descendentes da colonização, em que vieram alemães, suíços, ingleses e franceses. Os outros 20% nasceram no continente.
Além de sobrenomes como Schiller, a herança européia está no rosto dos ilhéus, que misturam traços andinos, como o olho amendoado, com íris verdes e azuis. Os mais velhos têm características mais européias, como o pescador Manuel de Rodt, 51 anos, da quarta geração de descendentes de Alfredo de Rodt. Ele poderia ser confundido com um suíço, não fosse a pele curtida pelo sol, vento e sal.
Essa tríade que dá o tom da pele dos pescadores pode causar estragos na dos turistas despreparados, que precisam do filtro solar mesmo se estiver nublado. Um chapéu é recomendável. O protetor labial é fundamental: o vento e o sal racham o lábio de quem não é marujo. Além disso, leve hidratante e um bom agasalho, pois o vento chega do sul, bem gelado. A média anual de temperatura é de 15C. Em fevereiro, mês mais quente do ano, a média é de 19C.

Fio de prosa
Todos os habitantes da ilha, cuja população é formada por 12 grandes famílias, se conhecem. Isso faz com que o turista seja tratado com cortesia e curiosidade.
Andar pela praça central do povoado, que tem jardins de plantas multicoloridas, é receber saudações de todos. A menor resposta a um simpático aceno é a abertura para perguntas sobre sua origem e o motivo que o levou até lá.
Na mesma praça, crianças passam o dia jogando futebol, o esporte mais popular ali. Há quatro times na liga de futebol da ilha, o que é suficiente para que sejam frequentes os campeonatos na quadra à beira-mar.
Com menos frequência, há o campeonato do arquipélago, que reúne os times das ilhas Robinson Crusoé e Alexander Selkirk, esta com cerca de 30 habitantes.
Outro esporte comum é a "caza del chivo" (caça ao cabrito). A época de caça é uma das poucas em que os ilhéus comem carne.
A outra ocasião em que se come carne é a festa de santa Cecília, padroeira da ilha. No seu dia, a prefeitura dá a todos uma bela nacada de carne. Então os habitantes se reúnem, fazem um assado, e a cantoria dura a noite toda, com músicas locais sobre tesouros, piratas e outras histórias locais.
A ilha ainda festeja o dia de são Pedro, patrono dos pescadores, em 29 de junho, e a queima de Judas, na Semana Santa.
Por menor que seja, o povoado tem muitas pessoas com histórias para contar. Assim é bom dar um tempo nas caminhadas e gastar um dia ouvindo histórias e aprendendo, por exemplo, a distinguir uma lagosta fêmea de um macho.
(HELOISA HELENA LUPINACCI)



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