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ILHA DO TESOURO
Olhos amendoados com íris clara caracterizam os habitantes, que gostam de contar histórias de piratas
Ilhéu mescla traços andinos e europeus
DA ENVIADA ESPECIAL AO CHILE
A herança de piratas é óbvia na
ilha. Não estivesse hasteada a bandeira do Chile na praça central, o
visitante imaginativo pensaria ter
chegado a uma ilha dominada por
velhos corsários.
Para começar, em vez de anões
de jardim, as casas da vila San
Juan Bautista têm canhões de jardim. No camping (que cobra o
equivalente a US$ 1,60 por pessoa), peças de naufrágios servem
de enfeite. Nas pousadas, balas de
canhão repousam sobre pedestais. Nas salas, restos de bandeiras
negras de barcos pirata são peças
de decoração.
A vila fica na baía Cumberland,
na face nordeste da ilha, e tem 714
moradores. E é a única na ilha Robinson Crusoé. Ela surgiu em
1877, quando o suíço Alfredo de
Rodt, do regimento de couraceiros do imperador Francisco José
Áustria, colonizou o local.
O resultado da aventura do suíço é curioso: ao perguntar o nome
de um robinsone, o que mais se
ouve é o sobrenome de Rodt. Cerca de 80% dos locais nasceram ali,
descendentes da colonização, em
que vieram alemães, suíços, ingleses e franceses. Os outros 20%
nasceram no continente.
Além de sobrenomes como
Schiller, a herança européia está
no rosto dos ilhéus, que misturam
traços andinos, como o olho
amendoado, com íris verdes e
azuis. Os mais velhos têm características mais européias, como o
pescador Manuel de Rodt, 51
anos, da quarta geração de descendentes de Alfredo de Rodt. Ele
poderia ser confundido com um
suíço, não fosse a pele curtida pelo
sol, vento e sal.
Essa tríade que dá o tom da pele
dos pescadores pode causar estragos na dos turistas despreparados, que precisam do filtro solar
mesmo se estiver nublado. Um
chapéu é recomendável. O protetor labial é fundamental: o vento e
o sal racham o lábio de quem não
é marujo. Além disso, leve hidratante e um bom agasalho, pois o
vento chega do sul, bem gelado. A
média anual de temperatura é de
15C. Em fevereiro, mês mais
quente do ano, a média é de 19C.
Fio de prosa
Todos os habitantes da ilha, cuja
população é formada por 12 grandes famílias, se conhecem. Isso faz
com que o turista seja tratado
com cortesia e curiosidade.
Andar pela praça central do povoado, que tem jardins de plantas
multicoloridas, é receber saudações de todos. A menor resposta a
um simpático aceno é a abertura
para perguntas sobre sua origem
e o motivo que o levou até lá.
Na mesma praça, crianças passam o dia jogando futebol, o esporte mais popular ali. Há quatro
times na liga de futebol da ilha, o
que é suficiente para que sejam
frequentes os campeonatos na
quadra à beira-mar.
Com menos frequência, há o
campeonato do arquipélago, que
reúne os times das ilhas Robinson
Crusoé e Alexander Selkirk, esta
com cerca de 30 habitantes.
Outro esporte comum é a "caza
del chivo" (caça ao cabrito). A
época de caça é uma das poucas
em que os ilhéus comem carne.
A outra ocasião em que se come
carne é a festa de santa Cecília, padroeira da ilha. No seu dia, a prefeitura dá a todos uma bela nacada de carne. Então os habitantes
se reúnem, fazem um assado, e a
cantoria dura a noite toda, com
músicas locais sobre tesouros, piratas e outras histórias locais.
A ilha ainda festeja o dia de são
Pedro, patrono dos pescadores,
em 29 de junho, e a queima de Judas, na Semana Santa.
Por menor que seja, o povoado
tem muitas pessoas com histórias
para contar. Assim é bom dar um
tempo nas caminhadas e gastar
um dia ouvindo histórias e aprendendo, por exemplo, a distinguir
uma lagosta fêmea de um macho.
(HELOISA HELENA LUPINACCI)
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