São Paulo, quinta-feira, 17 de junho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DEPOIMENTO NORDESTE

Praia dos Carneiros, em PE, é a visão mais próxima do paraíso

Por estar localizada na foz do rio Formoso, a área permite tanto praia de rio quanto praia de mar aberto


O INTENSO CHEIRO DE MARESIA IMPREGNAVA NOSSAS NARINAS E O FARFALHAR DOS COQUEIROS ERA A SINFONIA DOMINANTE


LÍRIO FERREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Decorria o ano de 1973, estávamos, eu, meu pai, minha mãe e meu irmão veraneando na praia de Tamandaré. Habitávamos uma pequena casa dentro de um condomínio de classe média.
O condomínio era o último suspiro de casas da então mais famosa praia do litoral sul de Pernambuco. Dali para frente, ou melhor, para a ponta da enseada, não havia uma só casa.
O intenso cheiro de maresia impregnava nossas narinas e o farfalhar dos coqueiros era a sinfonia dominante. Andando na direção de uma das extremidades da enseada, chegava-se à inóspita praia dos Carneiros.
A praia, na verdade, é uma fazenda de cocos com extensão de uns 4 km situada na foz do rio Formoso, o que possibilita tanto a praia de rio quanto a praia de mar aberto, circundada por coqueiros a perder de vista.
No meio da "praia de rio", uma igrejinha do início do século passado testemunha placidamente o ciclo das marés. Detalhe: na maré cheia, a água chega a bater nos degraus da singela igrejinha de São Benedito.
O mar tem infinitas tonalidades na maré seca, saindo do amarelo cristalino que reflete a areia, passando pelo verde, pelo azul, até mergulhar num roxo profundo.
Na época, havia raríssimas casas típicas de praia, com sua arquitetura horizontal, janelões para emoldurar o mar e alpendre espaçoso. Havia também algumas casas de pescadores, bem como galpões, certamente para armazenar os cocos. Na foz, existe ainda um imenso caminho de arrecifes que cria uma espécie de porto seguro para quem ali chega.
Passou-se muito tempo para o meu retorno aos Carneiros, o que se deu somente na segunda metade da década de 80. Acabei conhecendo um dos herdeiros do paraíso, Joel Rocha, ou melhor, Jobinha e, com o "visto" em dia, passei a frequentar com mais assiduidade aquele istmo primitivo.
Jobinha me reportou que o seu avô Rosalvo Ramos Rocha possuía uma padaria na provinciana Recife da década de 1930. Ao vendê-la, decidiu investir todo o apurado numa larga extensão de praia no litoral sul de Pernambuco. Mal sabia ele que aquela ponta de praia isolada do mundo se tornaria para mim e para outros tantos a visão mais aproximada do que é o paraíso...

LÍRIO FERREIRA, 50, é cineasta, diretor de "Árido Movie" e de "O Homem que Engarrafava Nuvens".



Texto Anterior: Raio-X de Pernambuco
Próximo Texto: Natureza realça Coqueirinho, na PB
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.