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TERRA À VISTA
Considerada a maior cantora do país, ela diz ter admiração especial por Caetano Veloso e Angela Maria
Cesária canta Cabo Verde para o mundo
free-lance para a Folha
Cesária Joana Évora, 57, mais
conhecida como Cize, é a maior
eminência de Cabo Verde. Apesar
da fama e do sucesso, sua vida
transcorre na simplicidade. Ela
concedeu uma entrevista à Folha,
ao lado de sua mãe, Joana Maria
Medina, 86, e de todo o seu clã, na
cozinha da sua casa em Mindelo,
São Vicente.
(ARTHUR VERÍSSIMO)
INFÂNCIA - "Fiz de tudo um
pouco. Vivia brincando pelas ruas
e perambulando nas casas dos
meus avós. Meu pai morreu quando eu tinha 7 anos. Com 10 anos,
fui para o orfanato e fiquei internada por três anos. Aos 15 anos
conheci um rapaz que se chamava
Eduardo e que tocava violão.
Eduardo foi a primeira pessoa que
me estimulou a cantar, pois dizia
que eu tinha uma boa voz."
INÍCIO DE CARREIRA - "Aos 16
anos, comecei a me apresentar na
região da Bela Vista (bairro de
Mindelo). Cantei em todas as
ilhas. Em 1985, fui para Portugal
pela primeira vez e gravei meu primeiro disco. Em 87, retornei a
Portugal com o grande cantor cabo-verdiano Bana.
Cantava no restaurante de Bana
quando o empresário José (Djô)
da Silva me chamou para conversar. Convidou-me para ir para a
França gravar um disco. Aceitei no
ato o convite. A partir de 88, começamos a trabalhar juntos e minha carreira decolou."
MÚSICO NA FAMÍLIA - "Era e é
meu pai, Justino da Cruz, que tocava violino e violão. O primo de
meu pai, Francisco Xavier da
Cruz, mais conhecido como B. Léza, foi um dos mais famosos compositores cabo-verdianos e grande
parceiro de papai. Meu irmão tocava na banda municipal. Recentemente, me deu um clarinete e
prometeu uma flauta. O clarinete
está bem guardado e pretendo em
breve começar a tocar."
MÚSICAS E COMPOSITORES -
"Comecei cantando as maravilhosas músicas de B. Léza, que faleceu em 1958. Gosto muito de
Morgadinho, que é um cabo-verdiano que mora na França, e também do pianista Paulino Vieira.
Eu recebo muitas mornas de compositores daqui de Mindelo. O que
eu gosto de cantar são mornas e
coladeras."
DESCALÇA - "Gosto muito de
cantar e de falar. Detesto usar
qualquer tipo de calçado. Aqui em
Cabo Verde, não uso sapatos."
MORNA E COLADERA - "A palavra já diz tudo, nem é quente nem
é frio, é morna. Fala do "cretchéu'
(amado, amor) perdido, da saudade, e, para mim, é o ritmo mais
genuinamente cabo-verdiano. A
coladera é baseada na troça. Uma
menina que se deu mal com um
rapaz. O governo que não está
bem das pernas. Enfim, são temas
picantes e críticos onde o que prevalece é a alegria."
ANGELA MARIA - "Desde pequena eu ouço Angela Maria. Em
94, quando fui para o Brasil, Angela Maria foi convidada a me ver
cantar. Quando fomos apresentadas, ela disse que teria um grande
prazer em cantar comigo. Fiquei
emocionada. Ela cantou duas músicas brasileiras comigo. Foi uma
maravilha. Com Marisa Monte, eu
cantei em São Paulo e no Rio. Conheci Gal Costa em um espetáculo
e Caetano Veloso, que é uma doçura de menino, além de ser um
grande compositor e cantor."
BRASIL - "Pelo que parece, vou
cantar em Cuba. O Brasil, eu adoro. O espetáculo naquele parque
em São Paulo (Ibirapuera) foi maravilhoso. Quero mandar um
abraço para Angela Maria, Marisa
Monte, Caetano e um grande beijão para os brasileiros."
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