São Paulo, segunda, 17 de agosto de 1998

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TERRA À VISTA
Considerada a maior cantora do país, ela diz ter admiração especial por Caetano Veloso e Angela Maria
Cesária canta Cabo Verde para o mundo

free-lance para a Folha

Cesária Joana Évora, 57, mais conhecida como Cize, é a maior eminência de Cabo Verde. Apesar da fama e do sucesso, sua vida transcorre na simplicidade. Ela concedeu uma entrevista à Folha, ao lado de sua mãe, Joana Maria Medina, 86, e de todo o seu clã, na cozinha da sua casa em Mindelo, São Vicente. (ARTHUR VERÍSSIMO)

INFÂNCIA - "Fiz de tudo um pouco. Vivia brincando pelas ruas e perambulando nas casas dos meus avós. Meu pai morreu quando eu tinha 7 anos. Com 10 anos, fui para o orfanato e fiquei internada por três anos. Aos 15 anos conheci um rapaz que se chamava Eduardo e que tocava violão. Eduardo foi a primeira pessoa que me estimulou a cantar, pois dizia que eu tinha uma boa voz."

INÍCIO DE CARREIRA - "Aos 16 anos, comecei a me apresentar na região da Bela Vista (bairro de Mindelo). Cantei em todas as ilhas. Em 1985, fui para Portugal pela primeira vez e gravei meu primeiro disco. Em 87, retornei a Portugal com o grande cantor cabo-verdiano Bana.
Cantava no restaurante de Bana quando o empresário José (Djô) da Silva me chamou para conversar. Convidou-me para ir para a França gravar um disco. Aceitei no ato o convite. A partir de 88, começamos a trabalhar juntos e minha carreira decolou."

MÚSICO NA FAMÍLIA - "Era e é meu pai, Justino da Cruz, que tocava violino e violão. O primo de meu pai, Francisco Xavier da Cruz, mais conhecido como B. Léza, foi um dos mais famosos compositores cabo-verdianos e grande parceiro de papai. Meu irmão tocava na banda municipal. Recentemente, me deu um clarinete e prometeu uma flauta. O clarinete está bem guardado e pretendo em breve começar a tocar."

MÚSICAS E COMPOSITORES - "Comecei cantando as maravilhosas músicas de B. Léza, que faleceu em 1958. Gosto muito de Morgadinho, que é um cabo-verdiano que mora na França, e também do pianista Paulino Vieira. Eu recebo muitas mornas de compositores daqui de Mindelo. O que eu gosto de cantar são mornas e coladeras."

DESCALÇA - "Gosto muito de cantar e de falar. Detesto usar qualquer tipo de calçado. Aqui em Cabo Verde, não uso sapatos."

MORNA E COLADERA - "A palavra já diz tudo, nem é quente nem é frio, é morna. Fala do "cretchéu' (amado, amor) perdido, da saudade, e, para mim, é o ritmo mais genuinamente cabo-verdiano. A coladera é baseada na troça. Uma menina que se deu mal com um rapaz. O governo que não está bem das pernas. Enfim, são temas picantes e críticos onde o que prevalece é a alegria."

ANGELA MARIA - "Desde pequena eu ouço Angela Maria. Em 94, quando fui para o Brasil, Angela Maria foi convidada a me ver cantar. Quando fomos apresentadas, ela disse que teria um grande prazer em cantar comigo. Fiquei emocionada. Ela cantou duas músicas brasileiras comigo. Foi uma maravilha. Com Marisa Monte, eu cantei em São Paulo e no Rio. Conheci Gal Costa em um espetáculo e Caetano Veloso, que é uma doçura de menino, além de ser um grande compositor e cantor."

BRASIL - "Pelo que parece, vou cantar em Cuba. O Brasil, eu adoro. O espetáculo naquele parque em São Paulo (Ibirapuera) foi maravilhoso. Quero mandar um abraço para Angela Maria, Marisa Monte, Caetano e um grande beijão para os brasileiros."



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