São Paulo, segunda-feira, 18 de junho de 2001

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MOSAICO LATINO

Primeira impressão não é a que fica na cidade com transeuntes que parecem parar no tempo e museus

Beleza de Ponce é decifrada aos poucos

DO ENVIADO ESPECIAL A PORTO RICO

Partindo de San Juan, depois de uma hora e meia pela rodovia 52, o ônibus pega a rota 1, que leva a Ponce. Quando a cidade, a segunda maior da ilha, aparece no horizonte, a primeira reação é de decepção. Pelo menos para quem já estava medianamente acostumado com a verticalidade e a variedade de atrações da capital.
Passa-se pela periferia, pouco convidativa. Na medida em que se avança na direção do centro, começam a aparecer casarões malcuidados, com pé-direito alto e fachadas no estilo colonial importado da Espanha.
Um pouco adiante, surgem casarões similares aos anteriores, mas com a diferença de que já passaram pelo processo de restauração que a cidade vem desenvolvendo desde a década passada.
Por fim, chega-se à Plaza Las Delicias e descobre-se que, como uma verdadeira dama, Ponce revela sua beleza aos poucos. Tudo acontece em torno da praça.
Nela está a catedral Nuestra Señora de Guadalupe. Construída em 1931, a igreja ostenta suas paredes azuis no mesmo local em que os colonizadores espanhóis ergueram a primeira capela da cidade, em 1660.
Os fundos da igreja dão para o Parque de Bombas, museu do Corpo de Bombeiros local. Além de fotos dos oficiais da corporação -que só interessam aos descendentes deles-, o museu guarda um carro de bombeiro de 1929. A entrada é gratuita.
Gratuitos também são os trolleys que levam os turistas para as atrações da cidade. Gratuitos e desnecessários, já que, além da topografia plana de Ponce, aquilo que interessa não fica a mais de três quadras da Plaza Las Delicias.
É o caso da Casa Alcadía, atual prefeitura situada na frente da praça. Construída em 1840, a casa já foi assembléia e presídio. No seu balcão frontal, já discursaram quatro presidentes norte-americanos. É dali também que o rei Momo profere o palavrório que abre o Carnaval da cidade, que, dizem os nativos e os folhetos turísticos, é espetacular.

Museus históricos
Amantes de museus têm dois roteiros a pé a partir da praça. Se, de costas para a catedral, pegar a direita na Calle Marina, chegará ao museu Casa do Massacre de Ponce. O prédio era a sede do Partido Nacionalista em 1937, quando um conflito entre nacionalistas e policiais deixou 19 mortos. Fotos, documentos e artefatos estão ali para lembrar aos norte-americanos que um dia os nativos podem querer a ilha de volta.
Pegando a Calle Marina no sentido contrário, chega-se à Calle Reina Isabel, onde estão os museus da História de Ponce e da Música Porto-Riquenha.
Em suas dez galerias, o primeiro reúne peças que contam a história da cidade nos campos da ecologia, economia, educação, arquitetura, medicina e política. Só indo ao segundo é que o visitante passa a ter uma noção precisa dos instrumentos e das musicalidades que formaram a bomba y plena, estilo musical típico da ilha.
Terminado o passeio pelas ruas centrais de Ponce, vale a pena perder mais alguns minutos contemplando as crianças, os casais de namorados e os demais desocupados que se refrescam sob as árvores da Plaza Las Delicias. A impressão dos observadores mais atentos é que o tempo pára junto com as pessoas.
(EDSON FRANCO)


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