São Paulo, segunda-feira, 19 de agosto de 2002

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METRÓPOLE DA AMAZÔNIA

População do distrito belenense faz releitura de peças marajoaras e tapajônicas

Cerâmica de 4.000 anos ainda inspira artesãos de Icoaraci

EM BELÉM

As cerâmicas marajoara e tapajônica, confeccionadas há cerca de 4.000 anos pelos antigos habitantes da Amazônia, ganham réplicas e inspiram novas criações no bairro do Paracuri, no distrito de Icoaraci, em Belém. Fica lá o maior centro de fabricação desse tipo de cerâmica na cidade.
A marajoara era fabricada pelos índios que habitavam a atual região da ilha do Marajó; e a tapajônica, pela população do Baixo Amazonas, hoje região da cidade de Santarém (PA). Eram objetos utilizados em rituais religiosos, como as estatuetas, ou para fins domésticos, como os vasos.
"A cerâmica marajoara se caracteriza pelos grafismos. As cores predominantes são vermelho, preto e branco", explica o artesão Hidelmar de Jesus Almeida, 34, da loja Anísio Artesanato. "Já a tapajônica utiliza formas de animais e humanas e a mistura das duas. Tem poucos grafismos."
Outro tipo de cerâmica encontrado no Paracuri, menos difundido, é a maracá, feita pelos antigos habitantes da atual região do Estado do Amapá. São geralmente urnas funerárias e utensílios domésticos, com formas humanas e de animais.
Nas várias lojas de artesanato do local surgiu até um estilo próprio: a cerâmica icoaraci. Ela tem detalhes de símbolos marajoaras ou tapajônicos e apresenta pinturas de paisagens.
Almeida conta que participou, com outros artesãos, do programa Pará Design, uma parceria do governo do Estado com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), em que aprenderam a obter uma melhor qualidade da argila. "Nós adicionamos produtos à argila para que ela possa ser queimada a uma temperatura mais alta e fique com mais qualidade."
Em algumas lojas é possível acompanhar o longo processo de fabricação das cerâmicas. São várias etapas, que envolvem diversos artesãos, desde o tratamento da argila, que é retirada da beira de igarapés, até a pintura.
Além da reprodução de peças de museus -principalmente o Emílio Goeldi, com o maior acervo do país -, os artesãos foram incentivados a fazer releituras das peças. "Meus artesãos criam trabalhos próprios com referências", diz Carlos Gonçalves, 72, proprietário da loja Pará Artesanato.
As lojas do Paracuri ficam principalmente na travessa Soledade. Elas recebem encomendas de turistas do Japão, dos EUA, da França e da Alemanha, entre outros.
Entre as peças mais interessantes estão os vasos marajoaras, os ídolos tapajônicos, as urnas funerárias maracás e os cariátides (jarros tapajônicos que os pajés usavam para misturar remédios). São objetos de rara beleza.
(AUGUSTO PINHEIRO)


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