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METRÓPOLE DA AMAZÔNIA
População do distrito belenense faz releitura de peças marajoaras e tapajônicas
Cerâmica de 4.000 anos ainda inspira artesãos de Icoaraci
EM BELÉM
As cerâmicas marajoara e tapajônica, confeccionadas há cerca
de 4.000 anos pelos antigos habitantes da Amazônia, ganham réplicas e inspiram novas criações
no bairro do Paracuri, no distrito
de Icoaraci, em Belém. Fica lá o
maior centro de fabricação desse
tipo de cerâmica na cidade.
A marajoara era fabricada pelos
índios que habitavam a atual região da ilha do Marajó; e a tapajônica, pela população do Baixo
Amazonas, hoje região da cidade
de Santarém (PA). Eram objetos
utilizados em rituais religiosos,
como as estatuetas, ou para fins
domésticos, como os vasos.
"A cerâmica marajoara se caracteriza pelos grafismos. As cores predominantes são vermelho,
preto e branco", explica o artesão
Hidelmar de Jesus Almeida, 34,
da loja Anísio Artesanato. "Já a tapajônica utiliza formas de animais e humanas e a mistura das
duas. Tem poucos grafismos."
Outro tipo de cerâmica encontrado no Paracuri, menos difundido, é a maracá, feita pelos antigos habitantes da atual região do
Estado do Amapá. São geralmente urnas funerárias e utensílios
domésticos, com formas humanas e de animais.
Nas várias lojas de artesanato do
local surgiu até um estilo próprio:
a cerâmica icoaraci. Ela tem detalhes de símbolos marajoaras ou
tapajônicos e apresenta pinturas
de paisagens.
Almeida conta que participou,
com outros artesãos, do programa Pará Design, uma parceria do
governo do Estado com o Sebrae
(Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas), em
que aprenderam a obter uma melhor qualidade da argila. "Nós
adicionamos produtos à argila
para que ela possa ser queimada a
uma temperatura mais alta e fique
com mais qualidade."
Em algumas lojas é possível
acompanhar o longo processo de
fabricação das cerâmicas. São várias etapas, que envolvem diversos artesãos, desde o tratamento
da argila, que é retirada da beira
de igarapés, até a pintura.
Além da reprodução de peças
de museus -principalmente o
Emílio Goeldi, com o maior acervo do país -, os artesãos foram
incentivados a fazer releituras das
peças. "Meus artesãos criam trabalhos próprios com referências",
diz Carlos Gonçalves, 72, proprietário da loja Pará Artesanato.
As lojas do Paracuri ficam principalmente na travessa Soledade.
Elas recebem encomendas de turistas do Japão, dos EUA, da França e da Alemanha, entre outros.
Entre as peças mais interessantes estão os vasos marajoaras, os
ídolos tapajônicos, as urnas funerárias maracás e os cariátides (jarros tapajônicos que os pajés usavam para misturar remédios). São
objetos de rara beleza.
(AUGUSTO PINHEIRO)
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