São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 2006

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CEARÁ

Dragão do Mar foi líder contra escravidão

Conheça a trajetória do jangadeiro que se negou a transportar os escravos para os navios negreiros

DA ENVIADA ESPECIAL

Francisco José do Nascimento, o Chico da Matilde, jangadeiro e abolicionista brasileiro, cravou mesmo seu nome na história como o lendário Dragão do Mar e é símbolo da resistência popular contra a escravidão. Chico da Matilde se recusou a transportar escravos até os navios negreiros que seguiam para o sul do país.
Sua ousadia e coragem paralisaram o mercado escravista no porto de Fortaleza nos dias 27, 30 e 31 de janeiro de 1881. Chico, filho da Matilde, tinha então, 42 anos. Parte dos livros de história omite que outros ancoradouros e até mesmo esparsas lideranças da elite econômica do Estado tomaram posição idêntica e interromperam o fluxo de escravos em suas regiões e nas fronteiras com outras províncias do Nordeste, como nos conta a "História do Ceará", livro organizado pela socióloga Simone de Souza.
Antes e depois da greve que eternizou o Dragão do Mar, movimentos libertários e jornais como o "Libertador" se destacaram pela luta contra a escravidão. Mas foi a firmeza do mulato jangadeiro Chico da Matilde que ultrapassou os limites da província e alcançou o Império, mostrando a força da resistência nordestina que consagrou o maior herói popular da história abolicionista do Ceará.

História
Dragão do Mar é filho de Canoa Quebrada, no município de Aracati. No dia 15 de abril de 1839, o pescador Manoel do Nascimento e Matilde Maria da Conceição receberam com alegria o filho Chico. Poucos anos depois, aos oito anos, Chico perdeu o pai e foi morar com outra família. Aos 20, aprendeu a ler. Tornou-se chefe dos catraieiros (condutores de bote), trabalhou na construção do porto de Fortaleza, foi marinheiro e finalmente foi nomeado prático da Capitania dos Portos. Com a deflagração da greve, em 1881, foi demitido. Três anos depois, com a libertação dos escravos, Chico da Matilde levou a embarcação Liberdade no barco negreiro Espírito Santo para o Rio de Janeiro.
Mas a Liberdade ganhou asas e tomou rumo incerto. O jornalista catarinense Raimundo Caruso, conta original versão nas páginas do seu livro "Aventuras dos Jangadeiros do Nordeste": "A jangada Liberdade, de Francisco José do Nascimento, era a clássica, de troncos. Símbolo de uma resistência popular vitoriosa no Ceará, foi levada à capital do Império a bordo de um navio mercante e, mesmo viajando no porão, inaugura a rota das futuras aventuras dos jangadeiros nordestinos em direção ao Sul. A embarcação foi exibida nas ruas do Rio de Janeiro, sob os aplausos da multidão, e pouco depois é doada ao Museu Nacional, onde foi recebida como valiosa peça etnográfica."
Hoje não se sabe o destino da Liberdade, que uniu cearenses e permanece no imaginário de todos como a vitória concreta da solidariedade entre as raças, credos e timbres, do sertão ao litoral. Ao lado da vela, a imagem guerreira e emblemática do Dragão do Mar.
(FABRÍCIA FURUZAVA)


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