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CEARÁ
Dragão do Mar foi líder contra escravidão
Conheça a trajetória do jangadeiro que se negou a transportar os escravos para os navios negreiros
DA ENVIADA ESPECIAL
Francisco José do Nascimento, o Chico da Matilde, jangadeiro e abolicionista brasileiro, cravou mesmo seu nome na
história como o lendário Dragão do Mar e é símbolo da resistência popular contra a escravidão. Chico da Matilde se recusou a transportar escravos até
os navios negreiros que seguiam para o sul do país.
Sua ousadia e coragem paralisaram o mercado escravista
no porto de Fortaleza nos dias
27, 30 e 31 de janeiro de 1881.
Chico, filho da Matilde, tinha
então, 42 anos. Parte dos livros
de história omite que outros
ancoradouros e até mesmo esparsas lideranças da elite econômica do Estado tomaram posição idêntica e interromperam
o fluxo de escravos em suas regiões e nas fronteiras com outras províncias do Nordeste,
como nos conta a "História do
Ceará", livro organizado pela
socióloga Simone de Souza.
Antes e depois da greve que
eternizou o Dragão do Mar,
movimentos libertários e jornais como o "Libertador" se
destacaram pela luta contra a
escravidão. Mas foi a firmeza
do mulato jangadeiro Chico da
Matilde que ultrapassou os limites da província e alcançou o
Império, mostrando a força da
resistência nordestina que consagrou o maior herói popular
da história abolicionista do
Ceará.
História
Dragão do Mar é filho de Canoa Quebrada, no município de
Aracati. No dia 15 de abril de
1839, o pescador Manoel do
Nascimento e Matilde Maria da
Conceição receberam com alegria o filho Chico. Poucos anos
depois, aos oito anos, Chico
perdeu o pai e foi morar com
outra família. Aos 20, aprendeu
a ler. Tornou-se chefe dos catraieiros (condutores de bote),
trabalhou na construção do
porto de Fortaleza, foi marinheiro e finalmente foi nomeado prático da Capitania dos
Portos. Com a deflagração da
greve, em 1881, foi demitido.
Três anos depois, com a libertação dos escravos, Chico da Matilde levou a embarcação Liberdade no barco negreiro Espírito Santo para o Rio de Janeiro.
Mas a Liberdade ganhou asas
e tomou rumo incerto. O jornalista catarinense Raimundo
Caruso, conta original versão
nas páginas do seu livro "Aventuras dos Jangadeiros do Nordeste": "A jangada Liberdade,
de Francisco José do Nascimento, era a clássica, de troncos. Símbolo de uma resistência popular vitoriosa no Ceará,
foi levada à capital do Império a
bordo de um navio mercante e,
mesmo viajando no porão,
inaugura a rota das futuras
aventuras dos jangadeiros nordestinos em direção ao Sul. A
embarcação foi exibida nas
ruas do Rio de Janeiro, sob os
aplausos da multidão, e pouco
depois é doada ao Museu Nacional, onde foi recebida como
valiosa peça etnográfica."
Hoje não se sabe o destino da
Liberdade, que uniu cearenses
e permanece no imaginário de
todos como a vitória concreta
da solidariedade entre as raças,
credos e timbres, do sertão ao
litoral. Ao lado da vela, a imagem guerreira e emblemática
do Dragão do Mar.
(FABRÍCIA FURUZAVA)
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