São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 2006

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giro pelo mundo

Tesouro arquitetônico na Ucrânia vive obra polêmica

REFORMA TOTAL Lviv, que completa 750 anos, passa por renovação que irrita historiadores; cidade já foi do império Austro-Húngaro, da Polônia e da ex-URSS

DA REUTERS

A cidade de Lviv, considerada uma jóia arquitetônica, tem seu 750º aniversário marcado por uma renovação de sua praça principal. Mas nem todos comemoram o feito. Historiadores e ativistas culturias estão furiosos com os desdobramentos do projeto.
O conselho local busca interromper décadas de deterioração e atrair turistas europeus para as ruas de pedra e para os becos da cidade que ao longo do século passado foi governada por austríacos, poloneses, soviéticos e, agora, ucranianos.
Mas a restauração tem provocado intenso debate sobre a capacidade da Ucrânia de preservar tesouros artísticos.
O centro de Lviv é patrimônio da huminadade pela Unesco, e a praça Rynok, reconstruída diversas vezes depois de guerras ou incêndios, é seu ponto central.
Críticos alegam que a restauração desfigurou a praça. "Imagine pegar uma velha e passar batom, máscara e blush nela para fazê-la parecer uma jovem garota", afirma Valery Potyuk, líder do braço de Lviv do fundo cultural da Ucrânia. "Você não consegue olhar porque é desagradável e artificial."
Estudantes e jornalistas lutaram para bloquear a renovação.
A praça existe desde a Idade Média e mescla estilos que vão do século 13 ao 18.
As autoridades da cidade de 850 mil habitantes defendem o projeto. "Nenhuma pedra moderna foi usada. Tudo é da época apropriada e foi bem feito", diz Vasyl Myskiv, chefe do departamento de construção da prefeitura.
"Nós fizemos uma pesquisa arqueológica e mudamos a infra-estrutura. Isso significa novos encanamentos de gás e de água, linhas de bonde e a renovação de fontes, da iluminação pública e do calçamento."
Críticos da renovação afirmam que ela foi apressada e remendada. "Tudo foi feito com pressa", diz Oleg Matsekh, ativista cultural que lidera protestos. "Nós vemos ruas de pedra serem cobertas com concreto. Vemos a instalação de iluminação moderna em casas históricas. Vemos cabos elétricos em fontes. Não é possível chamar isso de renovação."
Myskiv, do departamento de construção, refuta. "Ninguém fez nada durante cem anos. Os encanamentos de água estão muito velhos. Os cabos elétricos não foram mudados. A reconstrução era vital". Projetos para completar a restauração estão em planejamento.
Palazzos do Renacimeto e outros prédios em estilo vienense do começo do século estão aos pedaços. Celeiros góticos estão submersos. Encanamentos de madeira da Idade Média estão em ruínas. Afrescos estão apagados ou escondidos sob camadas de tintas. Telhados têm buracos abertos.
"A qualquer lugar a que você vai no centro da cidade, as coisas são velhas -ruas velhas, prédios velhos", diz Myskiv.

Vários "donos"
Lviv é um vibrante exemplo das mudanças que aconteceram na Europa no último século. Os prédios góticos e barrocos e os suntuosos cafés fazem com que Lviv lembre Viena por uma boa razão: chamada então de Lemberg, a cidade era um posto do império Austro-Húgaro até o fim deste, em 1918.
A influência polonesa -que assumiu o que se tornou Lwow em 1918- está por todos os lados. Blocos de torres suburbanas são os signos do legado soviético de 1939, quando o Kremlin anexou a então Lvov e a parte ocidental da Ucrânia.


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