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Igreja abandonada alicerça o Antone's, templo do blues
em Austin
Visto de fora, parece um estábulo abandonado. Dentro, há um
ar-condicionado polar, mesas
bambas, cadeiras desconfortáveis,
um palco apertado e forrado com
um carpete que não vê uma vassoura há milênios. Essa seria a receita de um clube pré-falimentar,
não fosse ele o Antone's.
Só a honestidade na proposta e a
certeza de ouvir o melhor blues
que uma casa de Austin pode oferecer conseguem justificar o sucesso desse clube fundado por Clifford Antone em 1975.
Quem entra pela primeira vez na
casa e vê caixas acústicas provisoriamente arrumadas sobre cadeiras e uma escada para cuidar da
iluminação custa a acreditar na
mitologia do lugar.
Uma dose de história é necessária para decifrar o enigma que faz o
Antone's famoso.
História
Nascido na divisa entre os Estados do Texas e da Louisiana, Clifford Antone aprendeu a gostar de
blues desde a infância.
Ainda adolescente, já sabia diferenciar a música que era produzida no delta do rio Mississippi, em
Chicago ou no Texas.
Aos 24 anos, dono de uma loja de
roupas, ele decidiu abrir o seu clube na 6th Street.
Conseguiu alugar um edifício
por apenas US$ 600 mensais, o que
facilitou a empreita. Mas Antone
precisou da ajuda de amigos para
reformar e decorar a casa.
Um desses amigos descobriu
uma igreja abandonada. E o templo acabou virando manancial da
madeira usada nas obras.
Outro amigo serralheiro deu
conta das esquadrias. Um terceiro
cuidou do ar-condicionado.
Todos trabalharam sob a promessa de serem pagos assim que
Antone tivesse dinheiro.
Chicago
Terminada a obra, Antone começou a levar músicos de Chicago
para a casa. Nos dois primeiros
anos de funcionamento, o Antone's conseguiu abrigar um mestre
do blues quase todas as noites e se
tornou aglutinador e Meca do estilo no Texas.
E o clube começou a juntar no
palco músicos de Chicago que não
se viam havia mais de 20 anos.
"Eles começaram a nos ligar para
tocar aqui", disse Antone ao jornal texano "ETC".
Após essa primeira fase, teve início a era de memoráveis "jam sessions" no palco da casa.
Os clientes do Antone's já tiveram o prazer de ver juntos Bonnie
Raitt, Johnny Winter e Muddy
Waters numa noite.
Em outra, B.B. King e Bobby
Bland mostraram quantos acordes
são necessários para descrever a
dor e a alegria. Houve até uma noite em que os guitarristas Albert
Collins e Stevie Ray Vaughan dividiram o palco.
Presente
Formada a lenda, o Antone's
chega aos dias atuais ainda reunindo grandes nomes do blues em seu
palco. Não com a mesma frequência de outrora, mas ainda de maneira honesta.
Quando não tem nenhuma daquelas atrações que os americanos
chamam de "big act", o Antone's
abre espaço para jovens e promissores texanos. A satisfação dos
clientes é quase sempre garantida.
Sem a história, o Antone's estaria
condenado. Seu atendimento é demorado e impessoal. Quando a casa lota, o que é comum, o estacionamento não dá para todos.
Mas esses são pormenores superados pelos fãs de blues, que reconhecem no clube a sua Graceland.
Além do clube, a marca Antone's
serve para designar uma gravadora e uma loja de discos (localizada
na frente do clube).
O resultado disso é um conglomerado em que a gravadora divulga o clube que, por sua vez, abre
espaço para os músicos divulgarem os discos à venda na loja.
(EF)
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