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FORTALEZA À MESA
Segredo para saborear o crustáceo é girar a patola; sair de casa atrás da iguaria é compromisso social
Comer caranguejo dispensa cerimônia
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Se existe algum lugar onde o ditado "beleza não vai à mesa" é levado a sério, esse lugar é o Ceará.
O caranguejo, um dos principais
pratos típicos do Estado, pode ser
saboroso e nutritivo, mas dificilmente entraria na lista dos "dez
mais bonitos" da gastronomia.
Diante dele e de suas dez patas
cabeludas, é natural que o iniciante pense em retroceder. Ou, no
mínimo, sinta-se tomado por
uma série de dúvidas. A primeira:
isso é de comer?
Sim, isso é de comer. E é gostoso. Tanto que é um dos pratos
mais pedidos do litoral cearense.
"Se o freguês pedir caranguejo e a
gente não tiver, ele levanta e vai
embora", afirma Fernando Antônio Nogueira Ramos, dono da
barraca Itapariká, em Fortaleza.
Na cidade, sair de casa para comer caranguejo é quase um compromisso social. Quinta-feira à
noite, milhares de pessoas vão à
praia do Futuro com esse intuito.
O movimento nesse dia é tão
grande que chega a superar as
vendas de fim de semana em algumas barracas, como a da Tia, que
vende uma média de 2.200 caranguejos na quinta e, no domingo,
cerca de 1.500. Devido ao sucesso,
o prato foi adotado até no cardápio de um restaurante alemão.
Toda quinta-feira, o Hofbräuhaus
oferece o festival do caranguejo e
da cerveja aos seus clientes.
O caranguejo é servido com um
molho de cebolinha, salsa, coentro, pimenta e leite de coco, acompanhado de farofa. Se faltar uma
pata, a reclamação vem na certa.
Ninguém quer perder um pedacinho do crustáceo.
Convencido a experimentar a
iguaria, resta ainda uma dúvida:
como se come isso?
Agora a resposta é mais difícil.
O caranguejo não é servido em
um prato, picadinho. Seus instrumentos nessa tarefa são uma tábua e um cilindro de madeira.
Comece pela patola. O segredo é
ir girando as articulações de cada
pata até que a carapaça se solte,
deixando à mostra a carne branca
e de sabor suave. Se a carne não
sair da carapaça, chupe. Se nem
assim funcionar, utilize a madeira
para quebrar a pata sobre a tábua,
mas tenha cuidado para não espirrar molho no vizinho ou mandar a farofa pelos ares. Fora isso,
nem se preocupe com a etiqueta.
Afinal, não se trata mesmo de um
concurso de beleza.
(AMARÍLIS LAGE)
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