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São Paulo, segunda-feira, 20 de janeiro de 2003

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FORTALEZA À MESA

Segredo para saborear o crustáceo é girar a patola; sair de casa atrás da iguaria é compromisso social

Comer caranguejo dispensa cerimônia

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

Se existe algum lugar onde o ditado "beleza não vai à mesa" é levado a sério, esse lugar é o Ceará. O caranguejo, um dos principais pratos típicos do Estado, pode ser saboroso e nutritivo, mas dificilmente entraria na lista dos "dez mais bonitos" da gastronomia.
Diante dele e de suas dez patas cabeludas, é natural que o iniciante pense em retroceder. Ou, no mínimo, sinta-se tomado por uma série de dúvidas. A primeira: isso é de comer?
Sim, isso é de comer. E é gostoso. Tanto que é um dos pratos mais pedidos do litoral cearense. "Se o freguês pedir caranguejo e a gente não tiver, ele levanta e vai embora", afirma Fernando Antônio Nogueira Ramos, dono da barraca Itapariká, em Fortaleza.
Na cidade, sair de casa para comer caranguejo é quase um compromisso social. Quinta-feira à noite, milhares de pessoas vão à praia do Futuro com esse intuito.
O movimento nesse dia é tão grande que chega a superar as vendas de fim de semana em algumas barracas, como a da Tia, que vende uma média de 2.200 caranguejos na quinta e, no domingo, cerca de 1.500. Devido ao sucesso, o prato foi adotado até no cardápio de um restaurante alemão. Toda quinta-feira, o Hofbräuhaus oferece o festival do caranguejo e da cerveja aos seus clientes.
O caranguejo é servido com um molho de cebolinha, salsa, coentro, pimenta e leite de coco, acompanhado de farofa. Se faltar uma pata, a reclamação vem na certa. Ninguém quer perder um pedacinho do crustáceo.
Convencido a experimentar a iguaria, resta ainda uma dúvida: como se come isso?
Agora a resposta é mais difícil. O caranguejo não é servido em um prato, picadinho. Seus instrumentos nessa tarefa são uma tábua e um cilindro de madeira.
Comece pela patola. O segredo é ir girando as articulações de cada pata até que a carapaça se solte, deixando à mostra a carne branca e de sabor suave. Se a carne não sair da carapaça, chupe. Se nem assim funcionar, utilize a madeira para quebrar a pata sobre a tábua, mas tenha cuidado para não espirrar molho no vizinho ou mandar a farofa pelos ares. Fora isso, nem se preocupe com a etiqueta. Afinal, não se trata mesmo de um concurso de beleza.
(AMARÍLIS LAGE)


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