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BONS VENTOS
Autêntica, contida e algo pão-dura, cidade, que resgatou seus prédios históricos, se prepara para efervescer
Em 2004, Gênova vira epicentro cultural
SILVIO CIOFFI
ENVIADO ESPECIAL À LIGÚRIA
O caminho das pedras é o site
oficial www.genova-2004.it: Gênova será Capital Cultural da Europa a partir do Ano Novo. Com
isso, uma série infindável de eventos -agrupados sob os títulos
"Cidade das Artes", "Capital do
Mar", "Cidade Contemporânea"
e "Conferências"- vai transformar a metrópole portuária em
megadestino turístico.
Mas, mesmo com festa, a cidade, que edificou sua basílica de
San Lorenzo durante séculos, alternando o mármore rosado e o
negro, e que ora restaura freneticamente o centro histórico para
ser sede de um mundo de atrações culturais, é séria, sisuda até.
Metrópole de 800 mil habitantes
que conquistou espaço lutando
contra o mar e comerciando, Gênova nunca foi eterna e disponível
como Roma nem teve a pressa e o
arrojo de Milão. Talvez por isso,
no fundo do golfo da Ligúria, ela
se manteve autêntica, contida, e
até algo pão-dura. O resultado é
que Gênova (cujo site é www.apt.genova.it) pratica preços menos altos que os de Roma ou Milão e, por trás de uma aparente timidez, é, afinal, arrebatadora.
Porto Antico
A onda de renovação teve início
em 1992, no Porto Antico, e agora
entra na reta final. Já recuperaram
a antiga forma a fonte e os prédios
rosados no entorno da piazza de
Ferrari e o palácio Ducale, cuja fachada é adornada com pinturas.
Agora é a vez dos prédios ecléticos e do calçadão coberto por galerias da via 20 Settembre, a avenida larga onde a cidade passeia.
No setor medieval, no emaranhado de ruelas entre a basílica de
San Lorenzo e o porto, os museus-palácios patrícios do século
16 sofrem retoques. No interior
deles, desde sempre, estiveram
pendurados óleos de Pedro Paulo
Rubens e de Van Dyck, flamengos
que moraram em Gênova financiados por famílias ilustres da
"Soberba" (ou La Superba, nome
italiano adotado na época em que
lá houve uma república).
A cidade também diz a que veio
quando o assunto são as artes da
culinária -das frutas cristalizadas aos frutos do mar; da pasta al
pesto (com manjericão, pinólis e
queijo pecorino, de cabra) às
massas al nero de sépia, cujo molho é feito com a tinta da lula.
Caráter
Varrida pelo "libeccio" (pronuncia-se libétchio), o vento frio
que, no inverno, vem do mar e gela os becos, Gênova moldou seu
perfil negociando com locais tão
distantes como Bizâncio (atual Istambul) e Bruges (na Bélgica). Os
comerciantes locais eram ativos
ainda na Argélia e na Síria, para a
ira de Veneza, sua arqui-rival.
Entre 1378 e 1381, a "Soberba"
(Gênova) e a "Sereníssima" (Veneza) guerrearam, e os genoveses
levaram a pior.
Entre seus filhos ilustres, está
Cristóvão Colombo (1451-1506), o
navegador que, sem saber, descobriu a América a soldo dos reis da
Espanha, em 1492. Colombo deve
ter nascido numa casa próxima à
Porta Soprana, antigo portão leste
da muralha que cercou a cidade,
embora seu nascimento também
encerre controvérsias (há quem
afirme que o navegador, que pode
ter origem judaica, nasceu na Espanha ou na ilha da Madeira).
Já Andrea Doria (1466-1560),
que conduziu Gênova ao apogeu
militar e comercial, nasceu nos arredores, em Onegila, de antepassados que viviam no castelo de
Dolceaqua, ainda um local digno
de se visitar.
Chamado de "O Pai da Paz",
Andrea Doria foi na verdade um
bravo guerreiro que serviu à Itália
e à França, recuperando o esplendor de Gênova, que passara por
momentos difíceis depois de sua
participação nas Cruzadas, e
combatendo invasões mouras.
É dessa época a Banca di San
Giorgio, cujo prédio fica ao lado
do Porto Antico. Já em 1408, a organização criara um sistema de
letras de câmbio para custear a expansão marítima, movida à ambição de famílias aristocráticas.
Hoje, o filho pródigo de Gênova
é Renzo Piano e tem 63 anos. Arquiteto tão festejado por seu arrojo técnico quanto é criticado pela
obra do Centro Georges Pompidou de Paris (1977), ele redesenhou o Porto Antico em 1992,
abrindo caminho para a cidade
virar, arquimerecidamente, Capital Cultural da Europa em 2004.
Silvio Cioffi, editor de Turismo, viajou a
convite da Alitalia e do Ente Nazionale
Italiano per il Turismo (Enit) em SP
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