São Paulo, quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

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EX-GUIANA HOLANDESA

Zonas de garimpo levam brasileiros a morar no Suriname

Ouro leva famílias ao país vizinho; trabalhadores de zonas distantes só se comunicam com radioamador

DA REDAÇÃO

Há tantos brasileiros no Suriname que um bairro de Paramaribo, a capital, não é conhecido por seu nome original: "Tourtonne". Mesmo para os locais, ele é o "Belenzinho".
Enquanto os turistas -na maioria, holandeses- vão ao país para se divertir nos cassinos, que por lá são legalizados, a maior parte dos imigrantes brasileiros saídos de Estados como Amazonas, Pará e Maranhão vão em busca de ouro.
"Quem sabe economizar faz um bom dinheiro aqui com o garimpo", afirma Sonia Maria Peres Galvão, 33, mãe de três filhos e mulher de um brasileiro que há 12 anos se mudou para Paramaribo com a família para trabalhar perto da capital.
Bem, perto quando comparado a outras regiões que, de tão distantes, rendem semanas de viagem. "Temos sorte! De carro, em três horas meu marido chega ao trabalho", diz.
Para não percorrer esse caminho todos os dias, ele mora em um acampamento com outros 17 colegas.
Com isso, Sonia e as crianças já se acostumaram a vê-lo só dois ou três dias por mês.
Nascida na cidade de Tarauacá, Acre, ela vivia recém-casada em Porto Velho, Rondônia, antes de topar a aventura -e mudar de país. Sem trabalhar fora, ela tem seu próprio carro -"aqui, automóvel custa bem mais barato do que no Brasil", diz- e todo mês recebe parte do que o marido tira no garimpo para cuidar das despesas da casa, dela e dos filhos.
"Nenhuma família que vive dessa atividade tem renda fixa. Depende de quantos quilos de ouro são encontrados", explica, dizendo que os garimpeiros recebem uma porcentagem sobre o que é coletado, que é paga pelo dono dos equipamentos usados para vasculhar a terra.

Alô?
O paraense Leandro Tavares Cirino, 21, se mudou para o Suriname acompanhando a mãe, também atraída pelo ouro. "Zonas de garimpo distantes não têm telefone. Ela veio ajudar na instalação de uma central de radioamador, para que os trabalhadores possam se comunicar com suas famílias", explica.
Segundo ele, aos finais de semana o principal programa é ir aos balneários. Há dois anos morando em Paramaribo, ele não é fã da agitação noturna, mas dá a dica sobre o "point" da cidade: "Turistas e surinameses lotam os bares da Wilhelmina Straat". Sem dominar o idioma holandês e o dialeto "tac tac", Cirino conta que tem amigos surinameses e que sempre foi muito bem tratado.
"Eles gostam da animação dos brasileiros, e a gente logo se entrosa. Quando cheguei, fizeram questão de me apresentar as ruas com nomes de cidades brazucas e de times cariocas", lembra, citando a "São Paulo Straat" e a "Flamengo Straat".
Para ele, não foi difícil se adaptar. "No começo, estranhei a comida. Tem, por exemplo, uma banana empanada que é servida com pimenta e amendoim, mas me acostumei", diz.
Na capital, além de restaurantes típicos, há os de comida indiana, chinesa e javanesa. Prova de que outros povos também já descobriram uma casa acolhedora no Suriname. E quem não gosta de sabores diferentes ou exóticos não precisa se preocupar. Dá para achar todo tipo de alimento -inclusive produtos importados.
Em dois meses, Cirino volta ao Brasil. Quer cursar uma faculdade e passar uns tempos com os irmãos, que estão no Pará. "Vou sair por um tempo. Mas é pra voltar logo."
(PRISCILA PASTRE-ROSSI)


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