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EX-GUIANA HOLANDESA
Zonas de garimpo levam brasileiros a morar no Suriname
Ouro leva famílias ao país vizinho; trabalhadores de zonas distantes só se comunicam com radioamador
DA REDAÇÃO
Há tantos brasileiros no Suriname que um bairro de Paramaribo, a capital, não é conhecido por seu nome original:
"Tourtonne". Mesmo para os
locais, ele é o "Belenzinho".
Enquanto os turistas -na
maioria, holandeses- vão ao
país para se divertir nos cassinos, que por lá são legalizados, a
maior parte dos imigrantes
brasileiros saídos de Estados
como Amazonas, Pará e Maranhão vão em busca de ouro.
"Quem sabe economizar faz
um bom dinheiro aqui com o
garimpo", afirma Sonia Maria
Peres Galvão, 33, mãe de três filhos e mulher de um brasileiro
que há 12 anos se mudou para
Paramaribo com a família para
trabalhar perto da capital.
Bem, perto quando comparado a outras regiões que, de tão
distantes, rendem semanas de
viagem. "Temos sorte! De carro, em três horas meu marido
chega ao trabalho", diz.
Para não percorrer esse caminho todos os dias, ele mora
em um acampamento com outros 17 colegas.
Com isso, Sonia e as crianças
já se acostumaram a vê-lo só
dois ou três dias por mês.
Nascida na cidade de Tarauacá, Acre, ela vivia recém-casada
em Porto Velho, Rondônia, antes de topar a aventura -e mudar de país. Sem trabalhar fora,
ela tem seu próprio carro
-"aqui, automóvel custa bem
mais barato do que no Brasil",
diz- e todo mês recebe parte
do que o marido tira no garimpo para cuidar das despesas da
casa, dela e dos filhos.
"Nenhuma família que vive
dessa atividade tem renda fixa.
Depende de quantos quilos de
ouro são encontrados", explica,
dizendo que os garimpeiros recebem uma porcentagem sobre
o que é coletado, que é paga pelo dono dos equipamentos usados para vasculhar a terra.
Alô?
O paraense Leandro Tavares
Cirino, 21, se mudou para o Suriname acompanhando a mãe,
também atraída pelo ouro. "Zonas de garimpo distantes não
têm telefone. Ela veio ajudar na
instalação de uma central de
radioamador, para que os trabalhadores possam se comunicar com suas famílias", explica.
Segundo ele, aos finais de semana o principal programa é ir
aos balneários. Há dois anos
morando em Paramaribo, ele
não é fã da agitação noturna,
mas dá a dica sobre o "point" da
cidade: "Turistas e surinameses lotam os bares da Wilhelmina Straat". Sem dominar o idioma holandês e o dialeto "tac
tac", Cirino conta que tem amigos surinameses e que sempre
foi muito bem tratado.
"Eles gostam da animação
dos brasileiros, e a gente logo se
entrosa. Quando cheguei, fizeram questão de me apresentar
as ruas com nomes de cidades
brazucas e de times cariocas",
lembra, citando a "São Paulo
Straat" e a "Flamengo Straat".
Para ele, não foi difícil se
adaptar. "No começo, estranhei
a comida. Tem, por exemplo,
uma banana empanada que é
servida com pimenta e amendoim, mas me acostumei", diz.
Na capital, além de restaurantes típicos, há os de comida
indiana, chinesa e javanesa.
Prova de que outros povos também já descobriram uma casa
acolhedora no Suriname. E
quem não gosta de sabores diferentes ou exóticos não precisa se preocupar. Dá para achar
todo tipo de alimento -inclusive produtos importados.
Em dois meses, Cirino volta
ao Brasil. Quer cursar uma faculdade e passar uns tempos
com os irmãos, que estão no Pará. "Vou sair por um tempo.
Mas é pra voltar logo."
(PRISCILA PASTRE-ROSSI)
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