São Paulo, segunda, 21 de abril de 1997.

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REINO FLORIDO
Sem nada de novo, ingleses dançam ao som das baterias eletrônicas e cantam sobre festa e melancolia
Música vive entressafra de criatividade

do enviado especial a Londres


Houve época em que Londres tremia de horror ao ouvir falar em Jack, o Estripador, ou ao ler um romance de Agatha Christie. Hoje, basta dar uma olhada na parada de sucessos para desfrutar de sensação semelhante.
A produção musical da ilha, que deu ao mundo Beatles, Rolling Stones, Eric Clapton e David Bowie, está em baixa.
Em visita a Londres, amantes da produção inglesa de outrora vão ouvir basicamente dois tipos de música: a eletrônica, feita para frequentadores dos clubes, e o rock melancólico ou festivo, batizado de "brit pop".
Sinceridade, diga-se, é o que não falta para os músicos que fazem parte do primeiro grupo. Conscientes de sua limitação musical, eles repassam para os computadores a tarefa de compor.
Assim como o cidadão que coordenava as remadas nas galés de Ben-Hur, eles sabem a batida certa para fazer dançar pessoas de cabelo roxo e tênis de salto alto.
Velha escola
DJs -"músicos" que usam toca-discos e baterias eletrônicas como instrumentos- são elevados ao status de deuses.
Ruídos indecifráveis e de gosto duvidoso são confundidos com melodia. Trechos de composições antigas -e mais geniais- recebem uma roupagem tecno e perdem parte do viço.
A velocidade com que os rótulos surgem não é acompanhada pelo desenvolvimento de características musicais que diferenciem coisas como trip hop e drum & bass.
Mas há salvação. Alguns frequentadores de clubes estão voltando os ouvidos para um tipo de música que localmente é chamada de "old school" (velha escola).
Esse rótulo serve para definir a música feita pelos grupos que forjaram, em meados dos anos 70, o som das discotecas.
Se a onda pegar, os londrinos dirão adeus aos DJs e suas máquinas maravilhosas. E entrarão em campo músicos capazes de fazer o que Chic, Kool & The Gang e Donna Summer faziam.
Tédio
Quando o assunto é rock, melancolia e inconsequência são dois ingredientes que pautam os trabalhos das bandas novas.
Não há meio termo. Com guitarras penduradas no pescoço, os grupos fabricam uma depressão artificial ou estados festivos com pitadas de raiva controlada.
No campo dos depressivos, há uma corrente batizada de new grave (cova nova). Seus praticantes mais famosos são as bandas Radiohead, Manic Street Preachers, Marion, Mansun e Placebo.
Entre os festivos -campo no qual parece residir a salvação do pop britânico- vale a pena prestar atenção aos trabalhos de Kula Shaker, Subcircus e 3 Colours Red.
Não é nada genial. Mas essas bandas estão pavimentando o caminho para que o Reino Unido deixe de ser, circunstancialmente, uma terra de surdos, onde o Oasis tem um ouvido e, por isso, reina. (EDSON FRANCO)

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