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REINO FLORIDO
Sem nada de novo, ingleses dançam ao som das baterias eletrônicas e cantam sobre festa e melancolia
Música vive entressafra de criatividade
do enviado especial a Londres
Houve época
em que Londres
tremia de horror
ao ouvir falar
em Jack, o Estripador, ou ao ler
um romance de
Agatha Christie.
Hoje, basta dar uma olhada na parada de sucessos para desfrutar de
sensação semelhante.
A produção musical da ilha, que
deu ao mundo Beatles, Rolling
Stones, Eric Clapton e David Bowie, está em baixa.
Em visita a Londres, amantes da
produção inglesa de outrora vão
ouvir basicamente dois tipos de
música: a eletrônica, feita para frequentadores dos clubes, e o rock
melancólico ou festivo, batizado
de "brit pop".
Sinceridade, diga-se, é o que não
falta para os músicos que fazem
parte do primeiro grupo. Conscientes de sua limitação musical,
eles repassam para os computadores a tarefa de compor.
Assim como o cidadão que coordenava as remadas nas galés de
Ben-Hur, eles sabem a batida certa
para fazer dançar pessoas de cabelo roxo e tênis de salto alto.
Velha escola
DJs -"músicos" que usam toca-discos e baterias eletrônicas como instrumentos- são elevados
ao status de deuses.
Ruídos indecifráveis e de gosto
duvidoso são confundidos com
melodia. Trechos de composições
antigas -e mais geniais- recebem uma roupagem tecno e perdem parte do viço.
A velocidade com que os rótulos
surgem não é acompanhada pelo
desenvolvimento de características musicais que diferenciem coisas como trip hop e drum & bass.
Mas há salvação. Alguns frequentadores de clubes estão voltando os ouvidos para um tipo de
música que localmente é chamada
de "old school" (velha escola).
Esse rótulo serve para definir a
música feita pelos grupos que forjaram, em meados dos anos 70, o
som das discotecas.
Se a onda pegar, os londrinos dirão adeus aos DJs e suas máquinas
maravilhosas. E entrarão em campo músicos capazes de fazer o que
Chic, Kool & The Gang e Donna
Summer faziam.
Tédio
Quando o assunto é rock, melancolia e inconsequência são dois ingredientes que pautam os trabalhos das bandas novas.
Não há meio termo. Com guitarras penduradas no pescoço, os
grupos fabricam uma depressão
artificial ou estados festivos com
pitadas de raiva controlada.
No campo dos depressivos, há
uma corrente batizada de new grave (cova nova). Seus praticantes
mais famosos são as bandas Radiohead, Manic Street Preachers,
Marion, Mansun e Placebo.
Entre os festivos -campo no
qual parece residir a salvação do
pop britânico- vale a pena prestar atenção aos trabalhos de Kula
Shaker, Subcircus e 3 Colours Red.
Não é nada genial. Mas essas
bandas estão pavimentando o caminho para que o Reino Unido
deixe de ser, circunstancialmente,
uma terra de surdos, onde o Oasis
tem um ouvido e, por isso, reina.
(EDSON FRANCO)
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