|
Próximo Texto | Índice
LINHA CRUZADA
Finanças em pane expõem contradições entre a riqueza cultural e a falência do sucre, a moeda local
Economia e história duelam no Equador
Carla Aranha/Folha Imagem
|
Estudante passa em frente à catedral nova de Cuenca, cidade colonial
|
CARLA ARANHA
enviada especial ao Equador
Com ou sem greves gerais, ex-presidente preso e a economia à
beira da falência, para lá não se viaja em preto-e-branco. E como o
país está no meio do mundo, na linha divisória entre norte e sul, não
há meio-termos: ou você abraça
coloridamente essa América de
tempos imemoriais -e pesadelos
igualmente anciãos- ou a deixa
sem de fato conhecê-la. Sim, o
Equador exige, mais do que nunca,
olhos e corações atentos.
É verdade que você vai encontrar
no pequeno território de 283.561
km2 o lado mais empoeirado da
América Latina, com uma crise
econômica atual das proporções
do El Niño, que maltratou o país
no ano passado, e entraves prosaicos como linhas telefônicas que
teimam em congestionar.
Mas por trás de cada sorriso tímido dos equatorianos, que amargam a queda internacional do preço da banana (o principal produto
de exportação) e a quase impossibilidade de fazer negócios no país
no momento, você vai conseguir
enxergar, sem muito esforço, um
tesouro que bravamente desafia a
história.
Trata-se de um segredo mal
guardado, para sorte dos visitantes, que revela-se em quase toda a
parte, nas ruínas incas do sítio arqueológico de Ingapirca, em máscaras de mais de 2.500 anos expostas nos museus, nas ruas coloniais
de Quito, a capital, no mercado indígena de Otavalo.
Percorrendo esse caminho que
sinaliza, além de um cultura milenar que sobreviveu à dominação
espanhola, todos os sabores, por
vezes amargos, do Novo Mundo,
você percebe que está tomando a
América Latina na veia.
Sangue latino-americano
Seja em Quito, cidade tombada
como patrimônio da humanidade,
seja no bafo da selva amazônica, na
antiga civilização que floresceu
nos Andes, na distante e pacata
Galápagos ou nas vagas vorazes do
Pacífico, sorve-se lentamente esse
sangue tão profundamente latino-americano.
São gotas que também correm
pelos quadros do pintor equatoriano Oswaldo Guayasamín (1919-1999), morto no último dia 10, um
reconhecido mestre na poesia de
transformar o espanto, a dor e a injustiça em arte.
E, quando seu corpo finalmente
deglute a seiva deste país, que concentra em estado bruto o germe da
América do Sul -para o bem e para o mal-, começa uma viagem
que pulsa, coloridamente, nas próximas páginas de Turismo.
Carla Aranha voou a convite da Vasp.
Próximo Texto: Há protestos desde fevereiro Índice
|