São Paulo, Segunda-feira, 22 de Março de 1999
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LINHA CRUZADA
Finanças em pane expõem contradições entre a riqueza cultural e a falência do sucre, a moeda local
Economia e história duelam no Equador

Carla Aranha/Folha Imagem
Estudante passa em frente à catedral nova de Cuenca, cidade colonial


CARLA ARANHA
enviada especial ao Equador

Com ou sem greves gerais, ex-presidente preso e a economia à beira da falência, para lá não se viaja em preto-e-branco. E como o país está no meio do mundo, na linha divisória entre norte e sul, não há meio-termos: ou você abraça coloridamente essa América de tempos imemoriais -e pesadelos igualmente anciãos- ou a deixa sem de fato conhecê-la. Sim, o Equador exige, mais do que nunca, olhos e corações atentos.
É verdade que você vai encontrar no pequeno território de 283.561 km2 o lado mais empoeirado da América Latina, com uma crise econômica atual das proporções do El Niño, que maltratou o país no ano passado, e entraves prosaicos como linhas telefônicas que teimam em congestionar.
Mas por trás de cada sorriso tímido dos equatorianos, que amargam a queda internacional do preço da banana (o principal produto de exportação) e a quase impossibilidade de fazer negócios no país no momento, você vai conseguir enxergar, sem muito esforço, um tesouro que bravamente desafia a história.
Trata-se de um segredo mal guardado, para sorte dos visitantes, que revela-se em quase toda a parte, nas ruínas incas do sítio arqueológico de Ingapirca, em máscaras de mais de 2.500 anos expostas nos museus, nas ruas coloniais de Quito, a capital, no mercado indígena de Otavalo.
Percorrendo esse caminho que sinaliza, além de um cultura milenar que sobreviveu à dominação espanhola, todos os sabores, por vezes amargos, do Novo Mundo, você percebe que está tomando a América Latina na veia.

Sangue latino-americano
Seja em Quito, cidade tombada como patrimônio da humanidade, seja no bafo da selva amazônica, na antiga civilização que floresceu nos Andes, na distante e pacata Galápagos ou nas vagas vorazes do Pacífico, sorve-se lentamente esse sangue tão profundamente latino-americano.
São gotas que também correm pelos quadros do pintor equatoriano Oswaldo Guayasamín (1919-1999), morto no último dia 10, um reconhecido mestre na poesia de transformar o espanto, a dor e a injustiça em arte.
E, quando seu corpo finalmente deglute a seiva deste país, que concentra em estado bruto o germe da América do Sul -para o bem e para o mal-, começa uma viagem que pulsa, coloridamente, nas próximas páginas de Turismo.


Carla Aranha voou a convite da Vasp.

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