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Nativos do Havaí mudaram de idéia ao ver os veleiros do capitão inglês sucumbirem à tempestade
Cook passou de deus a diabo em meses
DO ENVIADO ESPECIAL AO HAVAÍ
Nascido em 1728 em Yorkshire,
James Cook aprendeu a navegar
em Whitby, numa costa traiçoeira
onde o rio Esk encontra o mar do
Norte. Curtido na adversidade da
água rasa e do fundo pedregoso
da foz do rio, Cook se lançou pelo
mar cinzento que rodeia as ilhas
britânicas para se tornar o navegador que inaugurou a era das
viagens científicas.
Já capitão, velejou em águas
pouco profundas do hemisfério
Sul, bordejando a Antártida e descobrindo o que de importante faltava encontrar na época: a Austrália e o Havaí, a maior porção de
terra da Polinésia e o único arquipélago importante que, na região,
fica ao norte do Equador.
Suas expedições pela Polinésia
tiveram início a pretexto de observar o trânsito do planeta Vênus, mas Cook acabou por desvelar minuciosamente o contorno
desse conjunto infinito de ilhas
cobiçadas pelo Reino Unido e pelas grandes potências da época.
Se o propósito das viagens era
mapear terras e estudar a fauna e
a flora, Cook acabou redefinindo
as rotas comerciais marítimas.
Quando chegou ao Rio em novembro de 1768, sua esquadra foi
recebida com hostilidade. O capitão, que tinha 40 anos e era famoso em todo o mundo, admirou-se
com o Pão de Açúcar e anotou em
seu diário que o cenário era
"imensamente alto". A tripulação
foi impedida de desembarcar no
Rio, pois as autoridades desconfiaram da veracidade de sua missão (a observação de um planeta).
Essa primeira viagem prosseguiu rumo ao cabo Horn, explorou o Taiti, as ilhas Sociedade e
descobriu a Nova Zelândia. Numa outra viagem, iniciada em
1772, Cook navegou muito próximo à Antártida e explorou a Melanésia e a Tasmânia.
Relatos confiabilíssimos de sua
equipe, que incluía oficiais versados em cartografia, botânica e
zoologia, dão conta de que Cook,
ao descobrir o Havaí, foi recepcionado pela maior festa jamais presenciada por um europeu.
Todas as canoas de Kauai, cobertas de flores e frutas, foram ao
mar em 18 de março de 1778. Místicos isolados do mundo, os nativos havaianos enxergaram nos
navios britânicos uma floresta-cidade que navegava e concluíram
que James Cook era um deus.
A expedição partiu, para voltar
ao Havaí meses depois. A ilha de
Maui foi avistada no dia 26 de novembro e, no dia 30, chefes nativos foram convidados para subir
a bordo do navio Resolution.
No início de 1779, Cook decidiu
navegar até a baía de Kealakekua,
mas foi colhido por uma tempestade violenta, movida pela fúria
das ondas havaianas. A expedição
retornou e os nativos se deram
conta da vulnerabilidade nada divina dos veleiros britânicos.
No dia 14 de fevereiro, após ver
seus barcos depenados por nativos, que desconheciam instrumentos metálicos, o capitão ordenou o sequestro do rei nativo.
Desembarcou e, sem muita cerimônia, foi brutalmente assassinado pelos nativos. A carne do corpo foi removida dos ossos e o que
restou do capitão, basicamente
suas mãos, foram devolvidas sobre um manto de plumas brancas
em 15 de fevereiro.
Nos dias seguintes, oficiais ingleses atearam fogo a cabanas, explodindo o que viam pela frente.
As mãos de Cook foram enterradas no dia 22 de fevereiro, na
baía de Kealakekua -e, como
numa explosão de fúria, o Havaí
entrou, definitivamente, na era da
modernidade.
(SILVIO CIOFFI)
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