São Paulo, segunda, 22 de junho de 1998

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ANTI-HERÓI
Umberto Bossi quer separar o norte do sul do país

do enviado especial à Itália

Umberto Bossi, o líder da Liga Norte, prega a secessão. Figura política surgida nos anos 70, ele encarna, de camisa verde, o velho discurso "contra os impostos de Roma" e, sobretudo, agita a Itália quando grita a palavra de ordem do separatismo.
Em 2 de junho de 1996, dia do 50º aniversário da República italiana, os separatistas "proclamaram" a formação da Padânia, Estado independente que reuniria as regiões de Piemonte, Friúli-Veneza-Giulia, Lombardia, Ligúria e Emília-Romanha.
Populista e patético, Bossi foi o senador que, em setembro, disse que a bandeira da Itália "devia ser posta na privada".
Menos de uma semana depois, centenas de milhares de italianos marcharam "pela união nacional" nas ruas de Milão, a metrópole italiana mais desenvolvida e tradicional reduto eleitoral da Liga Norte.
Na base do discurso filofascista (não confundir com neofascista, outra tendência direitista expressiva na política italiana) está a insatisfação das províncias do norte, industrializado, que dizem sustentar o sul, ainda agrário.
Com cerca de 58 milhões de habitantes, a Itália tem o quinto maior PIB mundial (US$ 1,1 trilhão) num território de 301.302 km2 (o Estado de São Paulo tem 248.809 km2). Há a disparidade de modos de vida nos extremos do seu território.
A polarização política é outra marca registrada nesse país que, em 52 anos de república, teve 55 governos diferentes. Além de forças de direita expressivas, o país tem partidos de esquerda representativos e uma Igreja Católica que se ocupa do pecado, embora more ao lado, no Vaticano, Estado de 0,44 km2 encravado na zona oeste de Roma.
As acusações à Liga Norte são cabeludas e por vezes escapam do campo político para entrar no terreno policial. Há quem diga que o partido, de relativa expressão eleitoral, fomenta a existência de uma força paramilitar, a "Guardia Nazionale Padana", que seria utilizada no processo de independência da Padânia.
Bossi nega, mas já declarou que os juízes que tentam envolver seu partido em escândalos e acusações de corrupção "valem 300 liras, o preço de uma bala".



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