São Paulo, segunda, 22 de junho de 1998

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Pobreza do país estimulou a emigração

da Equipe de Articulistas

Em 1878, meu avô Giusepe (referido carinhosamente como Pepino) resolveu deixar Pianopoli, com a força de seus 20 anos, para tentar a aventura do Brasil. Foi levado, depois da unidade política da Itália, pelo agravamento das condições sociais e econômicas dominantes nas províncias meridionais, especialmente na Calábria, onde nascera e vivera.
Implementada por Cavour, depois que Garibaldi derrotou os Bourbon, a unidade facilitou a instalação do parlamento em Roma, quando o papa perdeu o apoio francês, mas, gerada no Piemonte, ampliou o fosso entre a prosperidade do norte e o atraso do sul.
Pepino foi previdente. Percebeu que o desemprego, o analfabetismo, a quebra dos preços agrícolas e o abandono político acabariam, levando a miséria ao extremo sul. Chegou ao Brasil antes das grandes levas migratórias ocorridas entre 1890 e 1910. Centenas de milhares de italianos tomaram o mesmo rumo. Mostraram que nem eram preguiçosos, nem incompetentes. Ajudaram o desenvolvimento dos países onde se estabeleceram, na agricultura, na indústria, no comércio e como artesãos, artistas, intelectuais, políticos e juristas.
Percorri o extremo sul da Itália, em maio, do mar Tirreno ao Jônico e de oeste para leste. Parece que se vive ali um período de transição. O sul continua pobre, mas não dá muita atenção aos ricos do norte, que querem se separar dele. Afinal, desde pelo menos 600 anos antes de Cristo os meridionais têm levado a vida por seu próprio esforço. Nas condições de hoje, chego a pensar que meu avô Pepino não teria tentado a aventura brasileira, nem aqui teria criado família muito mais numerosa que o ramo ainda instalado na Itália. ( WC)



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