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MENTES
Construções amadas pelo poeta são restauradas
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Carlos Drummond de Andrade, de perto ou mesmo distante,
sempre acompanhou as mudanças de Itabira, que hoje tem 100
mil habitantes e é uma das sedes
da Companhia Vale do Rio Doce.
O povoado de Itabira do Mato
Dentro foi fundado em 1720 por
colonos e escravos, vindos atrás
do ouro de Minas Gerais. Drummond pôde conhecer as construções daquela época. Muitas delas
existem ainda hoje e passam por
restaurações, como a primeira
igreja erguida por escravos da região, a de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, de 1775. A pintura
no teto é em estilo rococó.
Se as campas onde foram sepultados os negros, os escravos e os
alforriados da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário não podem ser vistas, Drummond imortalizou-as em sua poesia "Cemitério do Rosário": "À beira do córrego, à beira do ouro,/ à beira da
História,/ à beira da beira, os mais
esquecidos/ inominados/ de todos os mortos antigos/ dissolvem
a idéia de morte/ em ausência deliciosa,/ lembrança de vinho/ em
garrafão translúcido".
No atual centro histórico de Itabira, alguns casarões de arquitetura colonial, como a primeira sede do hospital Nossa Senhora das
Dores e a casa paroquial Nossa
Senhora do Rosário, relembram a
história da cidade.
Na antiga Casa da Câmara, que
abriga o museu de Itabira, são
realizadas exposições temáticas
temporárias. O museu tem peças
de ferro da época da escravatura e
o arquivo público municipal.
A Casa da Banda Euterpe Itabirana guarda partituras escritas a
partir do século 17 e sua fachada
possui entalhes de instrumentos
musicais em madeira e metal.
A arquitetura colonial e aquele
jeito de cidade pequena que Itabira ainda preserva sempre cativaram Drummond. Mas o poeta se
angustiou com a transformação
da cidade, onde no início do século 20 o minério de ferro começou
a ser explorado, primeiro por ingleses, depois pela CVRD (Companhia Vale do Rio Doce), em
1942 (leia mais na pág. F4).
Foi também na primeira metade do século passado que a cidade
ganhou uma associação comercial, a primeira agência bancária e
a Indústria de Minas Gerais S/A.
No campo cultural, houve a
criação do Centro Itabirano, local
de festas e encontros literários e
musicais, que foi desativado. Itabira já contava com quatro jornais, um cinema e três colégios.
A cidade vivia da exportação de
cana, cereais e cabeças de gado,
além da exploração de ferro. Hoje
a agropecuária continua presente
na vida itabirana, embora seja
menos importante. A principal
atividade econômica da cidade é a
mineração, com a CVRD.
Drummond era ferrenho contestador da presença da CVRD na
cidade. Apesar de acompanhar
tudo de longe, ele não deixava de
colocar seu olhar crítico sobre o
cotidiano, como na poesia "Paredão": "Uma Cidade toda paredão/ Paredão em volta das casas./
Em volta, paredão, das almas./ O
paredão dos precipícios./ O paredão familial./ Ruas feitas de paredão./ O paredão é a própria rua,/
onde passar ou não passar/ é a
mesma forma de prisão./ Paredão
de umidade e sombra,/ sem uma
fresta para a vida./ A canivete perfurá-lo,/ a unha, a dente, a bofetão?/ Se do outro lado existe apenas/ outro, mais outro, paredão?".
(MIRELLA DOMENICH)
Centro de Informações Turísticas -
0/xx/31/3831-6689.
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