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MENTES DE MINAS
Atividade, que angustiava o poeta, transformou pico do Cauê num grande buraco
Mineração destruiu cartão-postal
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Drummond amava Itabira? A
pergunta, que já causou muita polêmica entre os itabiranos, parece
não mais acometê-los de tantas
dúvidas. Segundo seu primo de
terceiro grau Walde Andrade, 42,
Drummond sempre gostou de
Itabira, mas, além de preferir a cidade que conhecera na infância,
ele não gostava de viajar. Certa
vez declarou: "Não preciso rever
Itabira para estar em Itabira. Nela
estou desde quando nasci. É meu
clima, limite, medula".
O poeta se negava a visitar Itabira. Quando o fazia, era tomado
por uma grande angústia. Uma
das responsáveis por esse sentimento era a atividade mineradora
que pouco a pouco foi mudando a
economia e o ambiente da região.
A impressão de tudo aquilo que
acontecia, Drummond descreveu
em "Confissões de Minas", de
1944: "É curiosa esta Vila de Utopia, posta na vertente da montanha venerável e adormecida na
fascinação do seu bilhão e 500 milhões de toneladas de minério
com um teor superior a 65% de
ferro, que darão para abastecer
500 mundos durante 500 séculos,
conforme garantia o visconde de
Cerro Frio".
Mas não é preciso ser itabirano
para ficar angustiado com a devastação provocada pela mineração na cidade. O Complexo Minerador de Itabira, da CVRD (Companhia Vale do Rio Doce), tem
duas principais minas, a do Cauê
e a da Conceição. A do Cauê foi a
primeira a começar a ser explorada, ainda por ingleses, em 1929.
Quando Drummond a conheceu, ela era um pico, o pico do
Cauê, cartão-postal e mirante natural da cidade. Hoje é uma cava,
um grande buraco sem vegetação
que, vista do alto, é uma imagem
triste do progresso acelerado.
A exploração contínua da mina
do Cauê vai gerar seu esgotamento em 2004, quando ela se tornará
depósito de rejeitos (material pobre de minério de ferro) da usina
do Cauê. O gerente-geral do
Complexo Minerador de Itabira,
Vicente Bernardes, explica que o
complexo de Itabira tem potencial minerador até 2025.
A mineração não é uma atividade de impacto ao ambiente se for
feita respeitando os monumentos
históricos, ecológicos e culturais,
afirma a ambientalista Maria Dalce Ricas, 52, superintendente executiva da Amda (Associação Mineira de Defesa do Ambiente). "A
Vale começou suas atividades
quando as leis ambientais não estavam estabelecidas, e o ambiente
nunca foi respeitado", diz. "A empresa cresceu sem nenhum planejamento urbano."
Em Itabira, a CVRD tem gerado
desmatamento, assoreamento,
poluição dos rios, poeira e rachaduras em casas próximas às minas, segundo o secretário municipal de Desenvolvimento Urbano e
Meio Ambiente, Hamilton Lage.
Proteção ambiental
Em 2000, a Fundação do Meio
Ambiente de Minas Gerais, a Prefeitura de Itabira, a população e a
CVRD fizeram debates para começar o processo de Licença de
Operação Corretiva. Se a empresa
cumprir 52 condicionantes estabelecidas até 2004, passará a atuar
sob regras legais de proteção ambiental. Com o processo, Itabira
teve garantida a aprovação das
exigências, que buscam recompensar a cidade pelos danos causados pela mineração.
A CVRD vai investir US$ 15 milhões até 2004 para atender as
condicionantes. A pedido da comunidade, boa parte do dinheiro
será aplicada na construção de
parques e quadras esportivas.
Entre as medidas que a empresa
tem de cumprir estão a melhora e
a ampliação do sistema de captação e tratamento de água, a construção de quatro passarelas sobre
a linha de trem, que corta a empresa e prejudica a passagem das
pessoas, e a reconstrução, prevista
em R$ 800 mil, da Casa da Fazenda do Pontal, onde Drummond
passava as férias. A reinauguração
da casa, que será aberta à visitação, está prevista para 31 de outubro, data do centenário do poeta.
Em Itabira, a CVRD emprega
4.200 pessoas, incluindo a mão-de-obra terceirizada. É a maior
empregadora da cidade. Em 2001,
gerou à prefeitura R$ 48,7 milhões
dos R$ 60 milhões em impostos.
O tamanho da companhia é assustador se comparado ao do centro da cidade. Basta reparar no
porte dos caminhões que circulam nas estradas internas da empresa: são os maiores do país, com
12 m de altura, 14 m de comprimento, 6 m de largura e capacidade para 280 toneladas.
Drummond não chegou a presenciar a privatização da CVRD,
que foi arrematada pelo Consórcio Brasil em 1997.
(MD)
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