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FRANCOFONIA CANADENSE
Cidade abriga a Escola Nacional de Circo, com lição de matemática e de acrobacia
Picadeiro é sala de aula em Montréal
DO ENVIADO ESPECIAL AO CANADÁ
Um edifício sem nenhuma singularidade arquitetônica abriga
em Montréal cerca de 1.800 empregados de uma das mais prósperas empresas canadenses. É o
Cirque du Soleil.
Parece esquisito associar de modo positivo o nome de um país a
um empreendimento circense.
Mas é provável que nenhum produto cultural tenha rendido à Província de Québec e ao Canadá
uma imagem tão elegante.
O Circo do Sol (em tradução) foi
criado em 1984 na cidadezinha de
Baie-Saint-Paul e, na época, contratado pelo governo para excursionar na comemoração dos 450
anos da descoberta do Canadá pelo francês Jacques Cartier.
Ele tem hoje 3.000 funcionários,
entre os quais 900 artistas, de 40
nacionalidades. Será visto neste
ano por 6 milhões de pessoas. São
13 elencos simultâneos, seis em
constantes excursões -há uma
escala programada para São Paulo, sem data definida- e sete outros em locais permanentes, como Las Vegas e Orlando (EUA).
De certo modo, o Cirque du Soleil tirou proveito de uma reviravolta na concepção dessa forma
de espetáculo. Ela já vinha sendo
esboçada em Barcelona (Espanha) e em Bruxelas (Bélgica).
Consistia em deixar de fora os
exotismos do século 19 -bichos
de regiões colonizadas pelos europeus- e centrar o espetáculo
na dança e no malabarismo, tirando proveito da boa música ao
vivo e da nova linguagem de iluminação produzida pelo teatro.
Uma última característica: o artista de circo não pertence mais a
uma família que transmite as técnicas ao longo das gerações. É um
profissional formado em escola.
Foram os russos, no período soviético, que "democratizaram" o
acesso às artes do circo.
Em Montréal há uma Escola
Nacional de Circo, um prédio
moderno de 7.000 m2, que forma
20 alunos por ano. Seu curso equivale, dentro do sistema educacional de Québec, aos três anos que
precedem o ingresso à universidade. Ou então ao curso de uma
escola técnica, profissionalizante,
diz seu diretor, Marc Lalonde.
Não há estatísticas internacionais sobre o mercado de trabalho
para o artista de circo. Mas Lalonde acredita que ele esteja sendo
hoje mais bem remunerado que
um músico de orquestra sinfônica
ou integrante de uma companhia
de dança, o que, em termos americanos ou europeus, equivaleria a
um piso mensal de US$ 3.500.
Na escola de Montréal os estudantes têm disciplinas comuns a
qualquer outro estabelecimento,
como francês, matemática e química. Mas têm obrigatoriamente
uma carga de 17 horas semanais
de exercícios.
Nessa faixa de ensino, as matérias são equilíbrio, acrobacia no
solo e aéreas (trapézio, por exemplo), manipulação e humor.
A Escola Nacional de Circo forma palhaços. Mas não forma mágicos, algo muito íntimo e complicado para um sistema institucionalizado de ensino.
(JOÃO BATISTA NATALI)
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