São Paulo, quinta-feira, 23 de junho de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

MINHA HISTÓRIA PAULO ROBERTO DOS SANTOS, 60

Trabalho de Hércules

Fiz um investimento numa fazenda histórica, sustentáculo do Império do Rio (...) Mantê-la é uma tarefa hercúlea

RESUMO O empresário Paulo Roberto dos Santos, 60, deixou a profissão para embarcar em um sonho: restaurar a fazenda Florença, de 1852, que se localiza em Conservatória, distrito de Valença, na região do baronato do café no sul fluminense. Planejou, investiu e construiu um hotel que, anos depois, é o seu sustento.

(...) Depoimento a
MARINA LANG
ENVIADA ESPECIAL A VASSOURAS (RJ)

Eu me formei em odontologia na Universidade Federal Fluminense em 1974 e sempre fui muito bem-sucedido na minha profissão. Só que o dentista tem sempre, como todo o profissional liberal, preocupação em relação ao futuro.
Não estava insatisfeito com a minha profissão, pelo contrário. Porém, me perguntava como iria viver, era uma projeção futura, isso há 20 anos. Eu não sei mexer com bolsa de valores, então fui comprando imóveis, fazendo um patrimônio. Nunca vi esse investimento desvalorizar.
Eu não tinha herança, mas tinha certeza de que ia dar certo, só não sabia quanto tempo ia levar. Se a pessoa compra bem, só anda para frente. Tinha imóveis, segurança, mas aquilo não me bastava. Aí pensei no meu prazer trabalhando. A vida rural me atraía, gostava muito de cultura também. Se eu tivesse um projeto de vida que conciliasse as duas coisas, seria perfeito. Viver é ruim se você pensa só em contabilizar o lucro.
Durante oito anos, amadureci a ideia, viajei, observei... Então fiz um investimento numa fazenda histórica, no sul do Estado, sustentáculo do Império no Rio. Poderia ser um novo ciclo econômico, uma redescoberta da região por meio do turismo. Paguei R$ 400 mil pela fazenda em 1997. Levei sete anos para abrir o hotel e fiquei na minha profissão. Eu queria mudar, mas esperei cinco anos para o meu hotel sedimentar. Acreditei muito no que fazia, mas trabalhei muito.
Queria fazer um hotel de qualidade. E também achar uma maneira de contar essa história, a história do Brasil no século 19, de forma teatral, pelos saraus. Contamos a história de um barão negro da região, que mostra como é o verdadeiro preconceito, não contra a cor, mas contra a pobreza. No século 19, não foi muito diferente. Atualmente, 10% da renda vêm a partir da cultura desse sarau de representação.
Se você tem um sonho, tente transformá-lo em realidade -desde que o sonho seja real. A gente não pode ter um sonho de outro mundo, fantasioso. Se ele for próximo da realidade, corra atrás. A manutenção da fazenda é tarefa hercúlea mesmo. Você tem de ser Hércules, mas todos os que compram fazendas assim são movidos pela paixão.


Texto Anterior: Jantares vão relembrar era do baronato cafeeiro
Próximo Texto: Cultura e história florescem em evento no interior fluminense
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.