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ITÁLIA-BRASIL
Turista deve fazer descobertas na cidade, cheia de escadas e bares para descansar, sem se tomar pela rigidez
Intimidade supera a eternidade romana
VINCENZO SCARPELLINI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Roma é um lugar para passear.
De certa forma, todo o mundo já
andou pela Cidade Eterna: imperadores, escravos, papas e heréticos, príncipes, invasores e peregrinos. E artistas, quantos artistas!
"Todas as reputações ficam pequenas quando entram nessa cidade célebre", dizia o escritor
francês Stendhal (1783-1842).
E nós podemos nos entregar às
pernas e errar pelas ruas, sem outra preocupação que o repouso do
espírito. Mas atenção: precisamos
evitar toda forma de reflexão metódica; precisamos deixar que os
pensamentos vaguem sem meta,
deslizando acima e abaixo de prédios e ruínas. O prazer está em se
deixar fascinar pelo sabor de praças, esquinas ou igrejas, senti-las,
antes de reconhecê-las.
Boa parte do centro de Roma é
fechada aos carros, e isso proporciona a liberdade de movimento
que o trânsito subtrai ao passeante, degradando-o a um simples
pedestre. Temos assim o direito
de ser visão ambulante, de sonhar
de olhos abertos e de gozar de tudo. Nada impede de olhar a cidade do alto, por exemplo, do Giardino degli Aranci, no colle Aventino. Depois se deve buscar a cúpula de São Pedro do buraco da fechadura do prédio dos Cavaleiros
da Ordem de Malta. E, então,
olhar para atrás e reparar na beleza da praça desenhada no século
18 por Piranesi (famoso pelas gravuras de prisões imaginárias).
E, quando os pés reclamam, não
devemos ignorá-los: Roma é
cheia de escadas para sentar e de
bares com mesas na rua. Se estamos na Piazza di Spagna, além da
escada monumental que leva ao
Pincio, o refúgio é o antigo Caffé
Greco, teatro das extenuantes disputas entre as vanguardas artísticas do início do século passado.
Perto de Piazza Farnese, é melhor entrar na praça por uma das
estreitas ruas laterais: o espaço arquitetônico explodirá diante dos
olhos. Em seguida, podemos sentar no bar à esquina e admirar a
fachada do Palazzo Farnese, que
tem o toque de Michelangelo. Depois, voltando para o Campo dei
Fiori, considere o forno na esquina à esquerda, que faz uma pizza
simples e saborosa. Ou, ainda, podemos nos abandonar na sorveteria Giolitti, ao lado do Parlamento, ou na San Callisto, na Piazza
San Callisto, em Trastevere: estilos diferentes, alta qualidade.
Na livraria Ferro de Cavallo, a
melhor para livros de arte, na via
de Ripetta, em frente à Accademia, é possível sentar e conversar
amavelmente com o dono sobre
fotografia e pintura.
Quem tiver um dia inteiro poderá passear na vila de Adriano, a
Tivoli, levando consigo "Memórias de Adriano", de Marguerite
Yourcenar. A vila era o pós-moderno da época, pois Adriano
-imperador que viveu no século
2º- adorava misturar todos os
estilos que encontrava nas suas
viagens pelo império. Em seguida,
num pulo de vários séculos, o passeio continua na Villa D'Este, que
está bem próxima.
Um passeio interessante pode
ser a desvairada busca da Fiaschetteria Beltrame, que está entre
a via de Babuino e a via del Corso.
Era a trattoria preferida de Fellini
e de seu roteirista Ennio Flaiano,
do pintor Maccari e de Tonino
Guerra, outro roteirista. Os filhos
do dono conservam os esboços
que eles faziam sobre toalhas.
Mas por que indicar pontos? O
passeio é um acumulador de lembranças que se misturam a imagens, sons, cheiros e sabores. Cada um fará sua coleção. Quanto
maior ela for, tantas mais nuanças
teremos para reconstruir as emoções da viagem. Se soubermos
passear, Roma passará, para nós,
de Cidade Eterna a cidade interna.
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