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POR DENTRO DO ESPÍRITO SANTO
Vida de recordista inicia em alto-mar
da enviada especial ao Espírito Santo
Para a ciência evolucionista, a vida começou no mar.
A julgar pela história de Paulo
Amorim, 47, recordista mundial
de pesca de marlin-azul, essa tese
tem tudo para ser verdadeira.
A bordo da lancha Duda Mares,
de 45 pés (cerca de 15 metros), ele
conta sua trajetória enquanto a
embarcação segue rumo às "águas
azuis", na costa do Estado do Espírito Santo.
Ele fala do tempo em que chegou
a Vitória, aos 17 anos de idade, para trabalhar como motorista, até os
dias atuais, quando seu nome é
obrigatoriamente citado a cada
conversa sobre a pesca do marlin.
No Iate Clube de Vitória, a réplica empalhada do monstro azul de
636 kg, com quase cinco metros de
comprimento, está exposta para a
inveja de quem nunca acreditou
que o autor de tal proeza seria o
fluminense de Bom Jesus de Tabapuã -o mesmo que enfrentou dificuldades para ser aceito no clã
dos bem-nascidos frequentadores
do clube da capital capixaba.
"O Paulo teve sorte", foi o comentário mais comum naqueles
dias. Atualmente, Amorim responde ao ceticismo naquela época
generalizado: "Não foi apenas sorte, mas sim o resultado de uma luta
que começou na infância, quando
prometi a minha mãe que pescaria
o maior peixe do mundo".
Alto-mar
Segundo ele, no sábado de Carnaval, dia 29 de fevereiro de 92, a
lancha Duda Mares zarpou para
Guarapari (a 52 km de Vitória)
mais com a intenção de cair na folia do que de cumprir sua antiga
promessa.
"Só queria esquecer as dívidas
que fiz depois de ter comprado
meu barco", conta Amorim.
Aquela tarde, sem dúvida, foi o
dia do pescador.
"O peixe fisgou o anzol, debateu-se no ar e, por seis vezes, descarregou um carretel de 850 metros,
equipado com linha de 80 libras."
Puxar uma linha com essa resistência é o mesmo que arrastar um
peso de 37 kg por quase um quilômetro, durante um minuto.
"Ele não me deu trégua", diz. Por
não caber no barco, o peixe teve de
ser arrastado até o Iate Clube, em
Vitória. "Precisei da ajuda de 20
homens para tirá-lo do mar", lembra Amorim.
De volta ao barco
A narrativa é interrompida pelo
barulho da carretilha. "Há um
marlin-azul na vara da esquerda",
avisa o piloto, do alto da lancha.
"Agora vocês vão ver tudo isso
na prática", anima-se o campeão
da modalidade, que corre em direção à vara.
Em questão de segundos, o campeão é fortemente amarrado a uma
cadeira própria da embarcação.
A experiência também o fez mais
precavido na escolha da linha.
Agora, ele pesca com as de 100 libras (45 kg).
A maior resistência do fio, porém, não intimida o peixe que, sem
dificuldade, começa a desenrolar
os quase mil metros de linha. A
história se repete.
Preso à cadeira, Amorim se prepara para o início da batalha. Por
50 segundos, observa a força do
peixe, na esperança de que o equipamento resista, ao término do
carretel.
A linha se solta. O marlin, gigante, comemora a liberdade. O pescador se cala.
Por quase uma hora, Amorim
permanece olhando o mar, tentando se livrar da hipótese de ter perdido um novo recorde.
Volta-se para o piloto: "Vamos
para casa". Despede-se dos jornalistas e entra para descansar no interior do barco.
Aquela tarde foi o dia da pesca.
(ADRIANA SOUZA SILVA)
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