São Paulo, segunda, 23 de novembro de 1998

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POR DENTRO DO ESPÍRITO SANTO
Vida de recordista inicia em alto-mar

da enviada especial ao Espírito Santo

Para a ciência evolucionista, a vida começou no mar.
A julgar pela história de Paulo Amorim, 47, recordista mundial de pesca de marlin-azul, essa tese tem tudo para ser verdadeira.
A bordo da lancha Duda Mares, de 45 pés (cerca de 15 metros), ele conta sua trajetória enquanto a embarcação segue rumo às "águas azuis", na costa do Estado do Espírito Santo.
Ele fala do tempo em que chegou a Vitória, aos 17 anos de idade, para trabalhar como motorista, até os dias atuais, quando seu nome é obrigatoriamente citado a cada conversa sobre a pesca do marlin.
No Iate Clube de Vitória, a réplica empalhada do monstro azul de 636 kg, com quase cinco metros de comprimento, está exposta para a inveja de quem nunca acreditou que o autor de tal proeza seria o fluminense de Bom Jesus de Tabapuã -o mesmo que enfrentou dificuldades para ser aceito no clã dos bem-nascidos frequentadores do clube da capital capixaba.
"O Paulo teve sorte", foi o comentário mais comum naqueles dias. Atualmente, Amorim responde ao ceticismo naquela época generalizado: "Não foi apenas sorte, mas sim o resultado de uma luta que começou na infância, quando prometi a minha mãe que pescaria o maior peixe do mundo".

Alto-mar
Segundo ele, no sábado de Carnaval, dia 29 de fevereiro de 92, a lancha Duda Mares zarpou para Guarapari (a 52 km de Vitória) mais com a intenção de cair na folia do que de cumprir sua antiga promessa.
"Só queria esquecer as dívidas que fiz depois de ter comprado meu barco", conta Amorim.
Aquela tarde, sem dúvida, foi o dia do pescador.
"O peixe fisgou o anzol, debateu-se no ar e, por seis vezes, descarregou um carretel de 850 metros, equipado com linha de 80 libras."
Puxar uma linha com essa resistência é o mesmo que arrastar um peso de 37 kg por quase um quilômetro, durante um minuto.
"Ele não me deu trégua", diz. Por não caber no barco, o peixe teve de ser arrastado até o Iate Clube, em Vitória. "Precisei da ajuda de 20 homens para tirá-lo do mar", lembra Amorim.

De volta ao barco
A narrativa é interrompida pelo barulho da carretilha. "Há um marlin-azul na vara da esquerda", avisa o piloto, do alto da lancha.
"Agora vocês vão ver tudo isso na prática", anima-se o campeão da modalidade, que corre em direção à vara.
Em questão de segundos, o campeão é fortemente amarrado a uma cadeira própria da embarcação.
A experiência também o fez mais precavido na escolha da linha. Agora, ele pesca com as de 100 libras (45 kg).
A maior resistência do fio, porém, não intimida o peixe que, sem dificuldade, começa a desenrolar os quase mil metros de linha. A história se repete.
Preso à cadeira, Amorim se prepara para o início da batalha. Por 50 segundos, observa a força do peixe, na esperança de que o equipamento resista, ao término do carretel.
A linha se solta. O marlin, gigante, comemora a liberdade. O pescador se cala.
Por quase uma hora, Amorim permanece olhando o mar, tentando se livrar da hipótese de ter perdido um novo recorde.
Volta-se para o piloto: "Vamos para casa". Despede-se dos jornalistas e entra para descansar no interior do barco.
Aquela tarde foi o dia da pesca.
(ADRIANA SOUZA SILVA)



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