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REPÚBLICA GUARANI
Com fachada simples, a San Buenaventura guarda ornamentos barrocos em ouro com traço indígena
Igreja em Yaguarón adota regra franciscana
DA ENVIADA ESPECIAL AO PARAGUAI
A cidade de Yaguarón é daquelas que têm o mínimo para existir.
Uma igreja, o Corpo de Bombeiros, o casario discreto e alguns bares. Qualquer um que goste um tiquinho só de barroco, ou que
ache esculturas e adornos que
confundem os olhos um bom
programa, encontrará uma das
visões mais lindas que um viajante pode ter no Paraguai.
Ao entrar na cidade, é difícil
acreditar que nela possa haver algo interessante. É tudo pacato e
comum. Ao avistar a igreja de San
Buenaventura, o motivo pelo qual
os turistas passam por ali, a sensação aumenta. Uma fachada mais
do que simples, austera, apresenta-se. O turista fica com certa raiva de ter viajado quase 50 km de
Assunção até ali só para ver o
templo católico.
Ao entrar na igreja, no entanto,
depara-se literalmente com uma
visão dourada: os olhos são inundados de adornos do barroco hispano-guarani cobertos de ouro.
A cidade de Yaguarón foi a base
dos franciscanos no Paraguai. A
San Buenaventura segue o preceito da ordem: ser pobre por fora e
rica por dentro, embora seja, na
verdade, uma igreja jesuíta.
Ao passear com os olhos pela
decoração, chama a atenção a
pintura do teto: dezenas de quadradinhos com desenhos simples
ao meio, difíceis de serem decifrados à distância.
São vegetais da região, como o
milho. Trata-se de uma das muitas contribuições indígenas ao estilo, o que justifica a contemplação da etnia no nome desse tipo
específico de barroco.
Então os olhos descem pelos pilares, pintados na diagonal em rosa, amarelo e verde. Em um dos
processos de recuperação, foi descoberto que os pilares têm raízes.
As árvores eram derrubadas inteiras, trabalhadas e reerguidas. A
manutenção das raízes dava a
sustentação necessária para a
construção da igreja.
Em um desses pilares está encostado o púlpito. Além de bonito, é também uma façanha de arte
e escultura. A peça foi originada
de apenas uma árvore, talhada até
dar origem à imagem que a sustenta, ao local do padre propriamente dito e aos adornos que parecem pairar acima dele.
E, finalmente, o altar é uma profusão de peças de madeira policromada e dourada. Uma característica peculiar desse altar é que
nele está representada a figura do
Deus criador, o Pai. Ele fica acima
de tudo, quase encostado no teto.
Tudo nesse lugar foi esculpido
pelos indígenas. A igreja começou
a ser construída em 1755 e foi terminada 20 anos depois. Ao todo,
150 índios trabalharam nas obras.
Ao longo dos anos, cem deles
morreram. Para selar sua participação, eles pediram para serem
enterrados nas paredes. Durante
a restauração, em 1950, seus ossos
foram encontrados. Os 50 sobreviventes tiveram o rosto pintado
no teto da sacristia.
É uma boa idéia visitar a igreja
com tempo. Apesar de ser apenas
uma edificação e de não ser assim
tão grande, há muita coisa para
ser vista e contemplada.
(HELOISA LUPINACCI)
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