São Paulo, segunda-feira, 24 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LEGADO RUSSO

Ligada por 450 pontes sobre águas limpas, São Petersburgo abriga histórias de traição, palácios e 40 museus

Rios e canais cercam riqueza de czares

DO ENVIADO ESPECIAL À RÚSSIA

Ela já foi chamada de Petrogrado, Stalingrado e Leningrado e voltou há dez anos à sua denominação original, São Petersburgo. Foi a capital da Rússia entre o início do século 18 e a tomada do poder pelos comunistas, em 1917.
A cidade, criada por Pedro 1º, o Grande, em 1703, é esplêndida por ter atraído a burocracia imperial e a aristocracia russa, que contratou arquitetos ingleses, franceses e italianos para a edificação de palácios que em nenhum outro lugar do mundo estão concentrados em tão pouco espaço.
É também o cenário de "Crime e Castigo", de Dostoiévski, um dos mais conhecidos romances russos do século 19.
Na história mais recente da ex-Leningrado há os 892 dias, a partir de setembro de 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, em que ela permaneceu cercada pelo Exército alemão, sem eletricidade ou calefação, com pouquíssima comida e nenhum medicamento. Calcula-se entre 700 mil e 1 milhão o número de pessoas mortas pelas epidemias e pela inanição por terem se recusado a capitular.
O que faz o charme dessa cidade, com seus 4,2 milhões de habitantes, localizada no litoral do golfo da Finlândia, é antes de mais nada sua relação paisagística com águas muito limpas.
São 63 rios ou canais e 450 pontes. Circular pelos bairros centrais de São Petersburgo é estar pertinho do mar, é atravessar com frequência o rio Neva -ele é um pouco mais largo e muitíssimo mais despoluído que o Tietê, em São Paulo- e é ainda saltar de uma ilha para outra.
Além do antigo palácio de inverno dos czares, o Hermitage, há passeios imperdíveis.
Por exemplo, a fortaleza de São Pedro e São Paulo, construída para proteger a cidade russa contra os suecos -foram três as guerras entre eles e os russos pelo controle do Báltico Norte. Como prisão política, o edifício teve entre seus moradores Dostoiévski, Górki e Leon Trótski.
Na fortaleza, em uma catedral ortodoxa do século 18 do mesmo nome, estão sepultados czares e czarinas. É provavelmente a maior concentração mundial de monarcas estrangulados ou que tiveram morte suspeita.
Os recém-chegados ao local são Nicolau 2º e seus familiares, mortos pelos bolchevistas em 1918 e cujos corpos permaneceram em sepulturas clandestinas.
Em tempo: os ossos da princesa Anastácia, filha do czar, estão no grupo. A lenda de que ela sobrevivera ao regicídio coletivo acabou há quatro anos, em 1998, com um simples exame de DNA.
Vale também a pena visitar as catedrais ortodoxas. Santo Isaac, concluída em 1858 e detentora da mais alta cúpula interna do cristianismo, depois de São Pedro, em Roma, e de São Paulo, em Londres. Ou ainda a igreja da Ressurreição, construída no local em que Alexandre 2º, que teve o mérito de acabar com a servidão, foi assassinado em 1881.
Quanto aos museus, cerca de 40 na cidade, há para quase qualquer gosto: dos instrumentos musicais, da história russa (com belos ícones bizantinos), do teatro, da etnografia, da escultura urbana, da história naval, da artilharia, do Ártico, do transporte ferroviário e ainda outros tantos.
Está também ancorado em São Petersburgo o cruzador Aurora, a partir do qual, em outubro de 1917, o soviete dos marinheiros deu, com disparos de canhão, a senha para a tomada de assalto do palácio de Inverno e para a deposição do governo social-democrata de Kerenski.
O resto da história é mais que conhecido. Seguiram-se 74 anos de ditadura comunista.
(JOÃO BATISTA NATALI)


Texto Anterior: Cursos e cruzeiros
Próximo Texto: Hermitage é "colírio" criado de forma não-ortodoxa
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.