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São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 2003

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POLINÉSIA À FRANCESA

Para habitante, colonizadores dizem ter o que ensinar, mas devem aprender com os locais

População quer independência do território francês

DO ENVIADO ESPECIAL À POLINÉSIA FRANCESA

A Polinésia Francesa é um território ultramarino da França, com autonomia em alguns assuntos. O poder é exercido por uma assembléia de 47 membros eleitos em voto popular a cada cinco anos, e o presidente é indicado pelo governo francês. Desde 1991, o cargo é ocupado por Gaston Flosser. Em 1963, a região passou a ser usada pela França como campo de testes nucleares, sob protesto da comunidade internacional.
O desejo pela independência é facilmente perceptível entre a população, caso de Teisser Fortune, 65. Ele costuma praticar patiafa, um esporte que consiste em acertar, com uma lança rústica, um coco instalado no alto de um mastro de dez metros.
"Os franceses dizem que vieram nos ensinar, eles é que tinham muito a aprender conosco." Fortune explicou que a fruta-pão, espécie original das ilhas, é considerada uma divindade na cultura local. "Sei que levaram o nosso "mei" (fruta-pão em maohi) para alimentar escravos na Guiana. Sei que nosso deus os manteve vivos para lutar por sua liberdade. Eu não odeio os franceses, não odeio as pessoas, mas eles vieram aqui e levaram nosso deus."
Antes de se despedir da reportagem, perguntou como se falava "liberdade" em português.

Origem
Existem muitas hipóteses sobre a origem da civilização polinésia. É certo que as ilhas começaram a ser habitadas há 3.000 ou 4.000 anos por levas de imigrantes que chegaram ali em embarcações de madeira e fibra. Em 400 d.C. uma segunda leva desses viajantes começou a se espalhar por um território de mar equivalente ao da América do Sul. Isso explica o uso da mesma língua por polinésios, havaianos, nativos da ilha de Páscoa e maoris da Nova Zelândia.
Em 1947, contrapondo a teoria que indicava a Ásia como origem desses imigrantes, o pesquisador norueguês Thor Heyerdahl (1914-2002) atravessou o Pacífico numa jangada para mostrar a possibilidade de as ilhas terem sido visitadas por tribos da América do Sul.
Um dos seus argumentos era a coincidência entre o culto ao deus Tiki, que os polinésios acreditavam ser seu primeiro ancestral, e os indícios de uma raça que vivera no Peru antes dos incas e cujo chefe se chamaria Kon-Tiki.
Atacada por uma tribo, essa raça teria fugido para o Pacífico. Em quase todas as ilhas existem sítios arqueológicos conhecidos como marae, uma área retangular, pavimentada de pedras, limitada por um muro baixo com um altar em um dos lados. Em alguns deles há estátuas de divindades com até dois metros de altura. Nesses lugares sagrados, os antigos polinésios abrigavam jogos e as principais cerimônias das aldeias.
Em 1767, o capitão inglês Samuel Wallis foi o primeiro ocidental a visitar o Taiti, seguido de Louis-Antoine de Bougainville em 1768 e James Cook em 1769.
No século 19, a chegada de caçadores de baleias, missionários britânicos e militares franceses acirrou a rivalidade entre França e Inglaterra pelo controle das ilhas.
Nessa época, muitos costumes tradicionais, como a dança, a tatuagem, a nudez e o sexo livre, foram banidos e perseguidos pelas igrejas católica e protestante. Em 1815, muitas estátuas sagradas para os nativos foram destruídas.
A dinastia Pomare controlou o território por meio século. Em 1847, Taiti e Moorea passaram a receber proteção francesa, e a França persuadiu o rei Pomare 5º a lhe ceder o arquipélago.
(MARCELO PLIGER)



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