São Paulo, quinta-feira, 25 de março de 2010

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PÉ VERMELHO, NORTE DO PARANÁ
>>Lorde de origem escocesa que tem nome ligado à fundação de Londrina jamais colocou os pés no local

Pioneiros deram fôlego à história

SONIA SAHÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A primeira coisa que falo numa conversa, com entusiasmo, é que sou de Londrina, cidade projetada para 20 mil habitantes e que hoje passa dos 500 mil. Se Lord Lovat estivesse vivo, ficaria surpreso com o crescimento rápido da "pequena Londres", hoje uma metrópole.
Nascido Simon Joseph Fraser, em 1871, e associado à colonização do norte do Paraná, esse lorde de origem escocesa e católica foi dono de terras e serviu com distinção o exército britânico na Guerra dos Bôeres e, também, na Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Formado em Oxford, foi o 16º lorde Lovat e, curiosamente, nunca esteve em Londrina, apesar de ter seu nome ligado à empresa que comprou as terras onde a cidade nasceu.
Aos 51 anos, em 1924, como diretor da Sudan Cotton Plantations, veio ao Brasil integrando uma missão cujo interesse era achar terras adequadas para o plantio do algodão.
Essa missão teve importante papel na edificação de Londrina. Lord Lovat morreu no Reino Unido em 1933, aos 61 anos.
Em 1933, 400 pessoas lá viviam e, em 1934, o local foi elevado à categoria de município; o trem chegou em 1935. O primeiro prefeito nomeado foi Joaquim Vicente de Castro.
Londrina tinha 1.350 habitantes e logo se tornou uma cidade de todas as gentes, de pioneiros, de desbravadores que para lá foram com para trabalhar duro e fazer crescer aquela fértil terra vermelha, deixando de lado prazeres da juventude.
Em Londrina viveram meu avô, Salim Sahão, e sua esposa Alice, libaneses e pioneiros londrinenses que lá chegaram em 1935, vindos de Ibitinga (SP).
Adquiriram 45 alqueires de terra e, a partir de então, a história da cidade e de seu crescimento se confundem com a história desse personagem.
A cidade foi chamada de "a capital mundial do café". A história de Salim Sahão se mescla à história do café e do algodão. Gido -que significa avô, em árabe- Salim gostou e retornou em 1937, dando impulso ao desenvolvimento de Londrina.
Montou a primeira máquina para beneficiar algodão, o primeiro conglomerado de armazéns, tudo em alvenaria (na época tudo era construído em madeira, porque muitos não acreditavam no futuro da "pequena Londres"). Ele não -e fez tudo para perdurar.
Em 1949, foi chamado de "louco" pelo então prefeito Hugo Cabral, quando comprou, no coração da cidade, 9.000 metros quadrados da Cia. de Terras do Norte do Paraná para construir o primeiro arranha-céu e o primeiro hotel de luxo numa cidade cheia de barro.
Na época, Londrina não tinha água, esgoto e eletricidade, mas Salim Sahão providenciou tudo, por conta própria. O material de construção chegava à Londrina de balsa, vindo do exterior através do rio Tibagi. Em 1952, personalidades foram à abertura do edifício Sahão e do primeiro hotel, o São Jorge (depois Sahão Palace hotel).
Quando passeio agora por Londrina, vendo o parque hoteleiro ampliado e crescendo a todo vapor, minha memória se volta para minha infância.
À caminho do aeroporto passo diante da casa de David Dequech, pioneiro e amigo da família, que com a mulher, Jamile, chegou na cidade pelos idos de 1930, abrindo o primeiro estabelecimento comercial da cidade e fundando a Associação Comercial de Londrina.
A antiga estação ferroviária é, agora, o museu de Londrina. A rua Belo Horizonte é uma espécie de rua Oscar Freire paulistana, com lojas luxuosas. A caminho do romântico lago Igapó está o Iate Club e à sua frente residências e edifícios de luxo.
Chego à Londrina e vejo o moderno aeroporto e, num "flashback", recordo do Convair da Real decolando para São Paulo, na pista de terra! Hoje, sobrevoo a jato a cidade em que nasci, com arranha-céus por todos os cantos, e lembro de uma frase premonitória do meu avô: "Trabalhe, esta terra é abençoada, tudo o que se planta aqui, cresce e dá bons frutos".


Colaborou SILVIO CIOFFI , editor de Turismo


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