São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 2011

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Descubra 'verdadeiro' Paraguai em passeios além da fronteira

Rios caudalosos com saltos vertiginosos e reservas florestais de mata virgem esperam o turista

Legítimo, país platino, que fala espanhol em ocasiões formais, tem no guarani o idioma do afeto e das emoções

LAURA CAPRIGLIONE
ENVIADA ESPECIAL AO PARAGUAI

O frenesi consumista em Ciudad del Este, os inúmeros sacoleiros apressados subindo e descendo ruas cheias de camelôs, as bolsas imensas lotadas de produtos de grife (ou falsificados).
Cenas como essas, repetidas mil vezes, firmaram a convicção de que o Paraguai é só isso. Mas, apenas uma vez, experimente reservar três dias para um passeio um pouquinho além da fronteira.
É onde está o melhor do país: rios caudalosos com saltos vertiginosos, reservas florestais de mata atlântica virgem, ruínas monumentais das missões jesuíticas, e Assunção, com memórias, muitas memórias, a respeito da Guerra da Tríplice Aliança, a guerra que Brasil, Argentina e Uruguai travaram contra o país (1864-1870).
O visitante que afiar os ouvidos poderá se surpreender por uma fala suave nas ruas, diferente do espanhol. Esse pedaço de terra confinado no miolo do continente americano conseguiu manter vivo o idioma guarani, e firmá-lo como símbolo nacional.
Era assim também o interior de São Paulo até meados do século 18, quando o governo português proibiu a língua nativa, impondo como única a lusitana. Para nós, ficaram palavras soltas e nomes de ruas, fósseis sem origem nem porquê. Itaquá, M'Boi Mirim, Mogi Guaçu.
No Paraguai, o guarani é falado tanto por vendedores ambulantes de chipas (espécie de pão de queijo com farinha de milho, delícia que custa R$ 0,80), quanto no requintado Yacht Club de Assunção, a capital paraguaia.
Santiago Gonzalez, político e criador de gado de corte explica: "O guarani é o idioma das emoções, do afeto, da poesia; usamos para falar das coisas pessoais. O espanhol fica para as coisas públicas, para os negócios".
Assunção dista duas horas de avião de São Paulo. Tem preços convidativos, resultado da carga tributária ínfima (não existe imposto de renda no país), hotéis luxuosos, shopping centers, restaurantes gourmet e muitos carrões SUV. Nem parece o Paraguai.
O país ainda é o último lugar sul-americano no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano, mas as exportações de soja impulsionaram o PIB, que cresceu a taxas chinesas: 15,3% em 2010. Já dá para perceber alguns sinais exteriores de riqueza.
Em Assunção estão também o Panteão dos Heróis na Guerra, o palácio de governo, mandado construir pelo presidente Francisco Solano López, a avenida Marechal López, o shopping Marechal López -tudo evocando a "Guerra Grande" sul-americana.
Segundo o historiador Carlos Guilherme Mota, "o Paraguai tinha no início da guerra quase 800 mil habitantes. Morreram cerca de 600 mil, restando menos de 200 mil, dos quais apenas 15 mil era do sexo masculino e, destes, cerca de 2/3 tinham menos de dez anos de idade".
Trauma nacional. O editor italiano Franco Maria Ricci, no livro "Cándido López - Imágenes de la Guerra del Paraguay" (1984), sobre o principal pintor daqueles campos de batalha, mostrou-se impressionado com a forma como os paraguaios defenderam seu país (até quase o último homem), sob o comando de Solano López: "Teriam merecido, sem dúvida, as cores de um Plutarco e de um Tito Lívio: a periferia em que viveram, em troca, lhes valeu nosso esquecimento absoluto".
O esquecimento começa no Brasil. Humaitá, Tuiuti, Cerro Corá, Paissandu, Riachuelo, nomes de batalhas, congelaram-se em placas de ruas e praças. No Paraguai, os anfitriões gentis tratam de lembrar os brasileiros de todo aquele horror.


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