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ANÁLISE
Guerra do Paraguai delineou a geografia e a política do país
Solano López é visto como anti-imperialista, mas inspirou uma longa série de ditadores locais
OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Se geografia é destino, o do Paraguai está em grande parte associado ao Brasil. Encravado no interior do continente, sem saída para o mar, o país depende do que acontece do outro lado da fronteira.
A geografia resulta do exercício da política ao longo do tempo. O país platino viu descarrilar o bonde da história com a derrota na Guerra do Paraguai (1864-1870), contra Brasil, Argentina e Uruguai.
É difícil dizer, no entanto, se a pior consequência do conflito para o Paraguai foi o enterro da esperança do país ter um porto marítimo.
Com a população e a economia devastadas, o Estado guarani ainda cultuou o marechal Francisco Solano López, que herdou um país próspero e cometeu o erro de começar a guerra e, ao não reconhecer a inevitabilidade da derrota, prolongou o conflito, dizimando a população.
Controverso, Solano López já foi louvado e execrado no Brasil. Nas primeiras interpretações, o dirigente paraguaio era pintado como ditador caricato de um país atrasado. Um século depois, alguns estudiosos inverteram o sinal e passaram a considerá-lo o anti-imperialista que enfrentou interesses ingleses.
Essa abordagem fez sucesso no Brasil nos anos 1970 e estava comprometida menos com o rigor histórico do que com o objetivo de fustigar a ditadura militar, cujos heróis foram responsáveis pela vitória na guerra.
Hoje, a análise mais equilibrada -de Francisco Doratioto, em "Maldita Guerra"- empurra o personagem de volta ao papel de vilão, mas sem os exageros dos antigos historiadores.
No Paraguai, porém, a imagem de Solano López parece pairar acima dessa polêmica. O militar serviu de modelo a ditadores de direita do século passado -inclusive Alfredo Stroessner, que governou o país por mais de três décadas, até 1989- e é reverenciado pelo atual presidente, Fernando Lugo, de esquerda.
Um passeio por Assunção é suficiente para avaliar o prestígio de Solano López: homenageado em monumento equestre, ele dá nome ao palácio do governo, que mandou construir, embora não tenha tido tempo de ocupar.
Eleito em 2008, Lugo mantém a tradição lopizta, reivindicando-a para a esquerda, a exemplo do que fazem Hugo Chávez, na Venezuela, ou a liderança do MST, no Brasil. Mas, ao contrário de seus antecessores, o atual presidente (que interrompeu um domínio de seis décadas do Partido Colorado) tem conseguido tirar vantagens do papel coadjuvante do Paraguai.
Neste ano, o Brasil concordou em triplicar a tarifa que paga ao país vizinho pela energia da hidroelétrica de Itaipu. O valor, que já era responsável por um quinto das receitas do Paraguai, ajuda na economia, mas não resolve todos os problemas.
Oscar Pilagallo é jornalista e autor de "A História do Brasil no Século 20" (editora Publifolha).
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