São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 2011

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Missões paraguaias convidam turista a passeio meditativo

Religiosos catequizaram guaranis e coordenaram ali a construção em pedra, barro e fé de sua utopia tropical

Local era para ser uma espécie de paraíso na Terra habitado por índios guaranis que foram catequizados

DA ENVIADA AO PARAGUAI

O guia avisa: "Será um passeio meditativo". A pé, ele avança em silêncio pela noite de lua cheia e estrelas, em direção a ruínas que aos poucos se vão iluminando. Estamos na missão jesuítica guarani La Santísima Trinidad del Paraná, conjunto barroco esculpido em pedra balsática próximo de Encarnación, no sul do Paraguai.
Ali, religiosos da Companhia de Jesus coordenaram, a partir de 1706, a construção em pedra, barro e fé de utopia tropical. Era para ser uma espécie de paraíso terrestre habitado por índios guaranis catequizados.
Gravações de vozes de mulheres e crianças, canto de pássaros e música ensinada pelos jesuítas aos índios elevam-se das muralhas, como fantasmagorias.
O guia avança dentro da nave da igreja destelhada, anda em pavilhões de moradia dos índios, divididos em casas unifamiliares para evitar a folia poligâmica, atinge a torre de vigia, onde ficava o campanário. Mais de 4.000 almas viveram ali, no auge do projeto.
Das 30 missões que os jesuítas cravaram na América, as ruínas de sete, entre as bem preservadas, estão no Paraguai. Eram locais de trabalho pesado, mas também de música (os jesuítas exaltavam os dotes musicais dos nativos, a quem ensinaram canto, violino e flauta), da arte do entalhe, da pintura, da luteria, da cantaria.
O passeio meditativo pelas ruínas da missão Santísima Trinidad del Paraná para um instante: é momento de o guia explicar por que índios livres e seminômades aceitaram viver sob o jugo espiritual católico, as batidas dos sinos da igreja sinalizando a hora de ir para o trabalho, o momento de rezar, a hora de dormir. Por que abriram mão da poligamia e de seus deuses? Por que aderiram à ideia de pecado, que não tinham? "Fugiam de tribos inimigas, mas também do bandeirante paulista, que os caçava para escravizar."
Tudo acabou em 1768, quando a companhia foi expulsa das colônias. Sem os jesuítas, os índios recuperaram o inalienável direito de voltar a serem escravizados. Ou quase isso. (LAURA CAPRIGLIONE)


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