São Paulo, segunda-feira, 25 de novembro de 2002

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PRIMAVERA NO NORDESTE

De jangada ou bugue chega-se a piscinas naturais da região, onde à noite o sono dá lugar ao forró

Sotaques se misturam em Porto de Galinhas

Antônio Gaudério/ Folha Imagem
Barco navega em águas limpas e mornas de Porto de Galinhas, aonde antigamente chegavam navios com escravos


ANTÔNIO GAUDÉRIO
ENVIADO ESPECIAL A PERNAMBUCO

As praias maravilhosas e as piscinas naturais formadas pelos arrecifes em Porto de Galinhas fizeram a fama do local sem a necessidade de propagandas, folders ou campanhas. O pequeno distrito do município de Ipojuca, a 50 km de Recife, era, antes de crescer para o turismo, porto aonde chegavam escravos da África.
Na clandestinidade a partir de 1850, o tráfico de negros africanos passou a ser feito com os escravos acorrentados e escondidos sob gaiolas de galinhas-d'angola. As embarcações atracavam então no ponto do continente chamado Porto Rico e, quando isso acontecia, os mercadores faziam chegar aos ouvidos dos donos de engenho a senha: "Tem galinha nova no porto". Com o fim da escravidão e dos índios, o local virou uma pacata aldeia de pescadores, Porto de Galinhas.
Hoje, a região tem 12 hotéis, mais de 80 pousadas e mais de 60 restaurantes e bares, além de um resort de categoria internacional, o Summerville. Integrado à mata atlântica, o resort tem apartamentos, suítes e bangalôs cercando um complexo de piscinas sob coqueirais que amenizam o sol.
No balneário, onde até há algum tempo só o sotaque paulista se destacava em meio às vozes do povo nativo, hoje se ouve inglês, alemão, italiano e espanhol, deslumbrados com as águas mornas e calmas e com a alegria contagiante do povo nordestino. Os estrangeiros são responsáveis pela propaganda boca-a-boca nos seus países de origem.
Na deliciosa culinária nordestina, o restaurante Beijupirá (tel. 0/ xx/81/3552-2354) merece destaque. A rica decoração leva a longos minutos de observação do capricho na confecção de fuxicos, bordados e badulaques. Dentre os drinques delicadamente decorados está a combinação de champanhe com capim-santo e mel.
Nos pratos, a união de ingredientes e temperos com a apresentação, que sempre inclui uma flor, transforma a refeição em uma descoberta inusitada de sabores e gostos. Pode-se comer um filé de peixe perfumado com canela e cardamomo, grelhado na chapa, com molho de tamarindo e banana flambada com coco ralado. Sem falar nos pratos que levam camarão, polvo e lagosta.
De sobremesa, a dica é sorvete de tapioca com compota de polpa de maracujá ou doce de jambo.
A bordo de uma jangada rústica chega-se a piscinas naturais, onde cardumes de peixes coloridos nadam na água límpida. De bugue chega-se às piscinas protegidas por uma impressionante linha de arrecifes na praia vizinha de Muro Alto, ou à barra do rio margeado por praias de areias brancas onde as águas são transparentes, no pontal de Maracaípe. Para quem gosta de águas mais agitadas, Maracaípe nesta época do ano recebe os ventos do nordeste e oferece o mar ideal para o surfe.
No fim da tarde, assistir ao pôr-do-sol na igreja de Nossa Senhora da Conceição, construção barroca de 1765, é um espetáculo magnífico. De lá se tem ampla vista do litoral, do vasto manguezal, da ilha de Santo Aleixo e das colinas com plantações de cana-de-açúcar.
Quando o sol se esconde e a noite chega a Porto de Galinhas, o sono cede lugar à diversão nos restaurantes que oferecem música ao vivo, com trios de forró pé-de-serra. Também vale acompanhar a apresentação de um grupo de percussionistas de maracatu -uma tradição cultural de Pernambuco que representa a nobreza do período colonial e que é coordenada pelo som contagioso dos batuques.
A melhor dica é curtir o animado forró nordestino. Os vários lugares, com diversos grupos musicais, transformam a noite numa grande e permanente festa popular, com um detalhe: as mulheres não pagam ingresso.

Antônio Gaudério viajou a convite da Philips e da ed. Horizonte Geográfico.


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