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PRIMAVERA NO NORDESTE
Templo que o pai prometera à avó tem o tamanho de um campo de futebol e fica na oficina do artista
Brennand paga promessa de erguer igreja
DO ENVIADO ESPECIAL A PERNAMBUCO
Se Francisco Brennand não for
o maior escultor brasileiro, com
certeza é o que tem o maior ateliê.
A antiga fábrica de telha criada
pelo pai do artista, que ficou
abandonada e quase em ruínas
por mais de um quarto de século,
foi transformada em ateliê, museu, projeto e fonte de inspiração.
Hoje, a Oficina Cerâmica Francisco Brennand (acesso pela av.
Caxangá, tel. 0/xx/81/3271-2466,
site www.brennand.com.br)
abriga mais de 2.000 peças do artista. Possui um vasto jardim projetado por Burle Marx, loja com livros, cerâmicas, cartões-postais e
serigrafias, além de lanchonete.
Agora o local terá uma catedral
do tamanho de um campo de futebol, com 105 m de comprimento. "É uma antiga promessa de
meu pai para a minha avó, que
nunca foi paga. E eu, que também
já estou com o pé na cova, vou tratar de fazer isso logo", diz Brennand, de 75 anos, passando a mão
na barba alva e comprida.
"O povo gosta de apelidar as
coisas. Templo, santuário, catedral. Uma catedral se faz em séculos, [essa" é apenas uma igreja da
Imaculada Conceição. Uma igreja
de verdade, onde se professará
missas. A arte atrairá o povo. Hoje
as igrejas católicas têm que fazer
um samba do crioulo doido para
colocar os fiéis para dentro."
O local onde Brennand faz suas
esculturas, pinta, trabalha no projeto da catedral e escreve um manuscrito chamado "O Nome do
Livro" fica encravado numa reserva preservada de mata atlântica, no bairro da Várzea, a 14 km
do centro de Recife. Hoje é ponto
de visitação obrigatória.
Nesse espaço repleto de deuses,
demônios e filosofia, Brennand
criou, recriou, recortou, "desconstruiu" as formas e a alma humanas através da cerâmica. Ele
diz que deve parte disso ao forno.
Em muitas de suas obras a participação do forno realmente fica evidente, num rachado, numa mancha ou num queimado.
"Não há dúvida de que ele [o
forno" sempre transforma a peça
em algo melhor do que era quando ainda estava crua. E nada é por
acaso", diz o artista pernambucano, que não considera acaso a
coincidência dos números nas datas de fundação e de reabertura da
antiga fábrica de telhas.
O local foi criado pelo pai em
1917 e reaberto por Brennand em
1971 como Oficina Cerâmica
Francisco Brennand. Ele, que se
iniciou na arte ilustrando um jornalzinho de colégio com Ariano
Suassuna, é o responsável pela
transformação da antiga Casa de
Detenção do Recife na atual Casa
da Cultura. Quando foi chefe da
Casa Civil no primeiro governo
de Miguel Arraes, ele queria criar
uma instituição similar às implantadas na França pelo escritor
André Malraux, mas foi impedido
pelo golpe militar de 1964.
Sua obra recebeu diversos prêmios, mas ele só faz questão de
destacar o Prêmio Interamericano de Cultura Gabriela Mistral,
concedido pela OEA (Organização dos Estados Americanos), em
Washington, em 1993. O prêmio
foi criado em 1983 pelo Conselho
para a Educação, Ciência e Cultura da OEA como reconhecimento
a trabalhos que têm ação contínua e alcançaram grande dimensão, enriquecendo a cultura da
América.
(ANTÔNIO GAUDÉRIO)
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