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POLICROMIA AFRO
Parque temático localizado na Província KwaZulu-Natal une espaços para rituais e quarto de hotel
Zulus encarnam ancestrais em Shakaland
DO ENVIADO ESPECIAL À ÁFRICA DO SUL
Imponente, vestido apenas com
pele de guepardo e fibras vegetais,
mostrando a mesma expressão
insondável dos guerreiros de terracota chineses, o jovem zulu pode se transformar, à mínima provocação, numa implacável máquina para matar. Ele segura um
escudo revestido de couro preto,
símbolo da sua tribo, e uma lança
curta, introduzida por Shaka, um
venerado ancestral.
A um metro dele, uma senhora
de azul, cabelo penteado, braços e
cintura arredondados pela ádipe
sedentária, curva-se para frente,
circunspeta. Com as duas mãos,
segura a câmera e tira uma foto.
Alguns dirão que encenar uma
tradição é o sinal de sua morte;
outros que, para mantê-la, é necessário reconstrui-la e fixá-la como em uma peça de teatro. Talvez
ambos tenham razão.
O show do guerreiro é uma atração do parque temático Shakaland - uma aldeia zulu dividida
em casas, espaços para rituais e
quartos de hotel, localizada na
Província KwaZulu-Natal, a uma
hora e meia de carro de Durban.
A aldeia é toda construída com
técnicas tradicionais, nas quais os
homens fazem a estrutura do teto,
e as mulheres cobrem-na com folhas e galhos secos, sem esquecer
o necessário conforto para os hóspedes. Reinam as cores marrom,
ocre, terra, laranja-enferrujado e
vermelho-queimado.
Os zulus podem não morar nesse vilarejo, e as plantas podem ser
colocadas com um gosto que não
lhes pertence, mas o fato é que a
peça funciona e convence por não
ser uma paródia. Essas pessoas
estão realmente encarnando seus
ancestrais. E se orgulham disso.
Durante a visita, que pode durar
poucas horas ou incluir um pernoite, entra-se em contato com
antigas habilidades zulu, músicas,
cerimônias, artefatos e um pouco
da história de Shaka, que deu origem ao nome Shakaland.
Ele se tornou chefe zulu após a
morte de Senzangakona, em 1815.
Tinha manias de déspota, mas era
um estrategista talentoso. Conseguiu reunir os clãs menores em
um império zulu e infligiu derrotas ao Exército inglês. Shaka colocou em uso a "assegaai" -a mencionada lança curta- e se valia de
técnicas de guerra sonora.
Os guerreiros eram dispostos
em um semicírculo, em volta do
campo de batalha. O semicírculo
ainda se dividia ao meio, formando dois grupos. O som de um dos
grupos simulava o ataque, enquanto o outro cercava o inimigo.
Então, os homens mais experientes avançavam e, geralmente, aniquilavam os soldados.
Shaka foi assassinado em 1828
pelo seu meio-irmão, Dingane.
No Museu Sul-Africano, na Cidade do Cabo, estão expostos objetos originais dessa época.
A história do parque de Shakaland vale ser contada. O primeiro
núcleo da aldeia foi construído
como cenário para o filme "Shaka
Zulu", de 1984. Uma das pessoas
envolvidas na produção era Barry
Leitch, branco, casado, pai de um
filho com uma zulu. Após o filme,
Barry comprou a área para evitar
a destruição da aldeia e teve a
idéia de abri-la à visitação. A estrutura cresceu e hoje é controlada pela empresa Protea Hotels.
Muitos zulus que iniciaram o
projeto ainda estão lá, e, ao todo,
80 famílias vivem do trabalho de
artesanato, da dança ou do funcionamento da parte hoteleira.
Seria fácil acusar Shakaland de ser
muito comercial. Mas o projeto
pode ser um exemplo de conservação sustentável das tradições.
(VINCENZO SCARPELLINI)
Shakaland - Tel.: 00/xx/27/35/460.0912; www.shakaland.com
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