|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LITERATURA
Bibliófilo mostra raridades em exposição de museu em Santa Teresa
Mindlin quer espalhar seu vírus no Rio de Janeiro
RENATA DE GÁSPARI VALDEJÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
O morador e o visitante do Rio
terão uma oportunidade ímpar a
partir de 1º de julho: conhecer algumas das preciosidades que habitam as prateleiras de Guita e José Mindlin, donos de uma das
maiores bibliotecas privadas existentes no Brasil.
Os originais de "Sobrados e
Mucambos", de Gilberto Freyre, e
"Grande Sertão: Veredas", de
Guimarães Rosa -este datilografado, com correções manuscritas-, estão entre os diamantes da
mostra "Não faço Nada sem Alegria: a Biblioteca Indisciplinada
de Guita e José Mindlin".
A exposição, a primeira da história do acervo do casal, vai até
dia 1º de outubro no museu da
Chácara do Céu, no bairro de
Santa Teresa, depois de já ter feito
sucesso no museu Lasar Segall,
em São Paulo. Estarão à disposição dos visitantes 140 dos mais de
30 mil volumes que compõem a
biblioteca do casal.
Livros raros
A excelência do acervo de Mindlin não vem apenas da quantidade. O bibliófilo é colecionador
-embora não goste do termo-
de raridades, como os incunábulos (os primeiros livros impressos, no século 15) e as primeiras
edições de "A Moreninha" (1844),
de Joaquim Manuel de Macedo, e
"O Guarani" (1857), de José de
Alencar.
Estarão todos presentes na exposição, que incluirá ainda edições, antigas e modernas, ilustradas por artistas estrangeiros como Picasso, Chagal, Matisse e Miró e brasileiros como Portinari,
Lasar Segall e Di Cavalcanti.
Entre os mais intrigantes itens
da mostra está o diário da condessa de Barral, com anotações feitas
a lápis por d. Pedro 2º, o que seria
um indício da relação íntima entre os dois.
Vírus
O objetivo de Mindlin com a exposição é provocar uma epidemia: "Quero inocular o vírus do
amor ao livro", diz. Segundo ele, a
meta foi atingida em São Paulo.
"Foi impressionante. Até os vigilantes do museu se apaixonaram pela mostra. Pediram-me várias informações e passaram eles
mesmos a dar indicações aos visitantes", conta. "Um deles me disse: "Minha vida mudou". É isso
que eu quero", afirma o bibliófilo.
A exposição do Rio terá a mesma lógica da paulistana. Os volumes estarão divididos em setores
-capas, encadernações, páginas
de rosto, dedicatórias e outros.
O visitante terá boas mostras de
exemplares de cada século, a começar do século 15.
O forte, segundo Mindlin, são a
literatura brasileira e a universal.
E tem de tudo, pois, embora o bibliófilo tenha especial carinho pela ficção, pela geografia e pela
poesia -"gosto de ler poesia em
voz alta, sorte que a Guita gosta de
ouvir"-, se interessa por tudo o
que aparece. "O gostoso de ler é
que nós nunca conseguimos ler
tudo o que queremos", afirma.
"Não tem fim."
Início
A biblioteca de Mindlin, 85, fez
no ano passado 72 anos. E ele admite que ainda não deixou a garimpagem, atividade que começou aos 13 anos.
Na adolescência, comprou seu
primeiro livro. E foi comprando,
numa "compulsividade patológica" que, segundo sua própria definição, não tem cura.
"De repente, quando vi, já tinha
uma biblioteca."
Sua mulher costuma dizer que,
hoje, não são eles que têm uma biblioteca, é ela que os têm.
Como conseguiu colocar as
mãos nos preciosos originais de
alguns clássicos é um segredo que
Mindlin não reparte, mas dá uma
dica: "Tem que procurar. Assim
como procuramos os livros, eles
também nos procuram".
Futuro
Mindlin e Guita já têm até planos futuros para os 15 mil livros
sobre o Brasil que habitam a biblioteca. Deverão ser doados, depois da morte do casal, para um
centro de estudos brasileiros a ser
criado dentro da USP (Universidade de São Paulo). Após um período de 99 anos, o centro seria incorporado pela universidade.
MUSEU DA CHÁCARA DO CÉU - R. Murtinho Nobre, 93, Santa Teresa, Rio. Tel.
0/xx/21/224-8524/232-1386. Horário de
visitação: diariamente, exceto às terças-feiras, das 12h às 17h. Ingresso: R$ 2 (às
quartas é gratuito).
Texto Anterior: Onça é uma ameaça constante para os locais Próximo Texto: Fernando Gabeira: As duras fronteiras do Primeiro Mundo Índice
|