São Paulo, segunda-feira, 26 de junho de 2000


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FERNANDO GABEIRA

As duras fronteiras do Primeiro Mundo

O s viajantes brasileiros que partem rumo ao norte, aos países mais ricos do mundo, vão encontrar nessas férias de julho um controle mais rígido nos aeroportos e nas fronteiras do Primeiro Mundo. Quem apostar na hipótese de que esse controle será cada vez mais duro, ganhará, pelo menos a médio prazo.
Na semana passada, um caminhão frigorífico trazendo 59 asiáticos chegou à Inglaterra com uma carga sinistra: 56 corpos, de imigrantes clandestinos, que morreram na travessia. Diariamente, cerca de 200 imigrantes ilegais são presos tentando entrar e trabalhar no país.
Um turista talvez tenha de conhecer esse processo mundial: a existência de milhares de pessoas em trânsito, fugindo de guerras, do desastre do socialismo real, de calamidades ecológicas. Ao mesmo tempo em que uma parte da humanidade se desloca, os países mais ricos intensificam o controle de suas fronteiras secas e de suas costas litorâneas.
Antigamente, era o fantasma do comunismo que rondava a Europa; hoje, o fantasma é a emigração de jovens provenientes dos países que foram comunistas, do norte da África, da América do Sul e da Ásia.
A repercussão nas viagens de curto período, como as turísticas, será sempre maior nos países que exportam imigrantes. Se alguém é de Governador Valadares, cidade que enviou milhares de emigrantes para os Estados Unidos, seu pedido de visto costuma demorar e enfrentar inúmeras averiguações. Os norte-americanos querem evitar que as pessoas viajem para buscar trabalho e viver em seu país.
Os países que não pedem visto, como a maioria dos europeus, tendem a fazer mais perguntas na chegada. Pedem que sejam mostrados a passagem de volta e o dinheiro suficiente para a permanência. Houve casos de pessoas que eram turistas comuns e que foram despachados de volta.
Não há razão para se preocupar demais. De um modo geral, o turista sempre entra, e a viagem é uma ótima experiência. Mas, se alguém for envolvido num transtorno desses, sobretudo no atraso no exame do passaporte, pode se consolar com o fato de viver uma das principais contradições do mundo globalizado.
O dinheiro e as mercadorias circulam cada vez com mais liberdade; as pessoas, sobretudo as dos países mais pobres, circulam com mais dificuldade. O capitalismo não consegue afirmar uma de suas promessas em relação ao feudalismo: a de que a pessoa é livre para vender seu trabalho onde quer que seja. O sistema internacional libertou o fluxo de capitais e se esforça para conter o fluxo de pessoas.
Teoricamente, o turismo não tem nada a ver com isso. Na verdade, as pessoas levam dinheiro para gastar e, dentro de seus limites, alimentam a economia local com as compras e o uso de hotéis e restaurantes.
Mas é muito difícil argumentar com a polícia dos aeroportos.
Essa é uma tarefa para a diplomacia brasileira, em todas as oportunidades em que o tema aparecer. Uma delas será a conferência da ONU sobre racismo a ser realizada na África do Sul. Dificilmente esse tema poderá ser discutido sem que se mencionem os problemas da imigração.
As grandes empresas internacionais de aviação aumentam os vôos saindo do Brasil. O turismo brasileiro em Miami, por exemplo, tem indiscutível importância econômica. Viajar vai ficando mais fácil: o difícil é conseguir o visto ou entrar nas fronteiras dos países ricos do Ocidente.


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