|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO GABEIRA
As duras fronteiras do Primeiro Mundo
O s viajantes brasileiros
que partem rumo ao norte,
aos países mais ricos do mundo,
vão encontrar nessas férias de julho um controle mais rígido nos
aeroportos e nas fronteiras do Primeiro Mundo. Quem apostar na
hipótese de que esse controle será
cada vez mais duro, ganhará, pelo menos a médio prazo.
Na semana passada, um caminhão frigorífico trazendo 59 asiáticos chegou à Inglaterra com
uma carga sinistra: 56 corpos, de
imigrantes clandestinos, que
morreram na travessia. Diariamente, cerca de 200 imigrantes
ilegais são presos tentando entrar
e trabalhar no país.
Um turista talvez tenha de conhecer esse processo mundial: a
existência de milhares de pessoas
em trânsito, fugindo de guerras,
do desastre do socialismo real, de
calamidades ecológicas. Ao mesmo tempo em que uma parte da
humanidade se desloca, os países
mais ricos intensificam o controle
de suas fronteiras secas e de suas
costas litorâneas.
Antigamente, era o fantasma
do comunismo que rondava a Europa; hoje, o fantasma é a emigração de jovens provenientes dos
países que foram comunistas, do
norte da África, da América do
Sul e da Ásia.
A repercussão nas viagens de
curto período, como as turísticas,
será sempre maior nos países que
exportam imigrantes. Se alguém é
de Governador Valadares, cidade
que enviou milhares de emigrantes para os Estados Unidos, seu
pedido de visto costuma demorar
e enfrentar inúmeras averiguações. Os norte-americanos querem evitar que as pessoas viajem
para buscar trabalho e viver em
seu país.
Os países que não pedem visto,
como a maioria dos europeus,
tendem a fazer mais perguntas na
chegada. Pedem que sejam mostrados a passagem de volta e o dinheiro suficiente para a permanência. Houve casos de pessoas
que eram turistas comuns e que
foram despachados de volta.
Não há razão para se preocupar
demais. De um modo geral, o turista sempre entra, e a viagem é
uma ótima experiência. Mas, se
alguém for envolvido num transtorno desses, sobretudo no atraso
no exame do passaporte, pode se
consolar com o fato de viver uma
das principais contradições do
mundo globalizado.
O dinheiro e as mercadorias circulam cada vez com mais liberdade; as pessoas, sobretudo as dos
países mais pobres, circulam com
mais dificuldade. O capitalismo
não consegue afirmar uma de
suas promessas em relação ao
feudalismo: a de que a pessoa é livre para vender seu trabalho onde quer que seja. O sistema internacional libertou o fluxo de capitais e se esforça para conter o fluxo de pessoas.
Teoricamente, o turismo não
tem nada a ver com isso. Na verdade, as pessoas levam dinheiro
para gastar e, dentro de seus limites, alimentam a economia local
com as compras e o uso de hotéis e
restaurantes.
Mas é muito difícil argumentar
com a polícia dos aeroportos.
Essa é uma tarefa para a diplomacia brasileira, em todas as
oportunidades em que o tema
aparecer. Uma delas será a conferência da ONU sobre racismo a
ser realizada na África do Sul. Dificilmente esse tema poderá ser
discutido sem que se mencionem
os problemas da imigração.
As grandes empresas internacionais de aviação aumentam os
vôos saindo do Brasil. O turismo
brasileiro em Miami, por exemplo, tem indiscutível importância
econômica. Viajar vai ficando
mais fácil: o difícil é conseguir o
visto ou entrar nas fronteiras dos
países ricos do Ocidente.
Texto Anterior: Literatura: Mindlin quer espalhar seu vírus no Rio de Janeiro Próximo Texto: Hotelaria: Leading abre empresa de inspeção de hotéis Índice
|