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POESIA CONCRETA
Integrantes de bandas fundamentais dos anos 80 se reuniam para ouvir discos trazidos pelos pais diplomatas
Rock candango veio da falta do que fazer
MARCELO NEGROMONTE
free-lance para a Folha
Quando Oscar Niemeyer traçou
as infinitas retas de Brasília, dificilmente supôs que aqueles vazios
estariam preenchidos, principalmente nos anos 80, por "riffs" de
guitarras, transformando a capital
no maior celeiro de rock do país
naquela década.
De lá, todos sabem, saíram Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Capital Inicial, Plebe Rude,
Cássia Eller. Poucas cidades exportaram tantos nomes duradouros para São Paulo e Rio na mesma
época. Talvez Porto Alegre.
Para o resto do país talvez parecesse estranho um bando de moleques fazendo música cheia de referências, que, até para paulistanos e
cariocas, eram estranhas.
Como explicar o fato de a turma
da Colina (área residencial destinada aos professores e funcionários da Universidade de Brasília),
local onde se reuniam os futuros
integrantes de bandas como Aborto Elétrico (a primeira de Renato
Russo), Capital e Plebe Rude, tivessem um exemplar de "Never
Mind the Bollocks", do Sex Pistols, já no final dos anos 70?
O isolamento de Brasília era apenas geográfico. Pais diplomatas
traziam os últimos lançamentos
do Reino Unido e Estados Unidos
para seus filhos punks, que, até
por falta de alternativa, juntavam
os amigos para beber e fumar todo
o dia e, de posse dos jornais ingleses "New Musical Express" e
"Melody Maker", formavam
uma banda. Bastava uma tomada.
Surgidas na mesma época, Escola de Escândalo, Finis Africae,
Obina Shock, Detrito Federal são
hoje bandas quase cult na cidade.
Depois eram todos dark, new
wave, góticos. Adoravam Siouxsie
and the Banshees, The Cure (antes
de tocar em rádios) e Joy Division.
Reuniam-se no Gilbertinho (na
QI 11 do Lago Sul) e eram o terror
das festinhas que insistiam em tocar discothèque.
O chamado rock de Brasília veio
à tona em meados da década passada (que, pelo menos lá, não foi
de toda perdida) concomitantemente com o meteórico RPM.
Era a época de "Índios", do Legião; "Veraneio Vascaína", do
Capital Inicial, e de "Nunca Fomos Tão Brasileiros", do Plebe
Rude. A cidade suava rock.
Hoje o solo seco e árido de Brasília continua fértil na seara musical, produzindo não apenas
rock'n'roll, mas reggae (como essa
cidade adora reggae), hip hop e
hardcore, alguns de qualidade.
O nome de maior visibilidade
nos anos 90 é Raimundos, mas
bandas como Maskavo Roots,
Câmbio Negro, Little Quail and
the Mad Birds, Low Dream, Bootnafat, Nativus (sucesso local absoluto em 97) e tantas outras completam o cenário musical brasiliense atual.
Hoje quem dita as regras para a
"juventude dourada" é majoritariamente o pagode e o axé. A cena
tecno está surgindo forte, sinal de
que os diplomatas foram substituídos pelas TVs pagas e Internet.
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