São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 2000


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RECIFE DAS ARTES
Doces portugueses são consumidos pelos foliões
Gasto de energia exige pratos substanciosos, como o sarapatel

em Pernambuco

A parada para saciar a fome pode ocorrer em uma simples barraca de frente para o mar na praia de Gaibu ou em um sofisticado restaurante de renome internacional em um hotel da praia de Maria Farinha. Não importa.
Em Recife e Olinda, a mistura da comida típica, à base de frutos do mar, coco, folhas e raízes, com o requinte da culinária internacional contribuiu para a elaboração de um cardápio bastante vasto e sedutor.
A simplicidade de uma tapioca feita na hora é, claro, indispensável pela manhã ou à noite.
Folcloristas do Nordeste garantem que a tapioca é provavelmente a mais original das iguarias, por ter vindo da cultura indígena.
As barracas no Alto da Sé, em Olinda, são o endereço certo e agradável para degustá-las.
A partir do final da tarde, o lugar fica repleto de gente animada. O queijo de coalho assado é outro ingrediente disputadíssimo por ali, assim como também nas praias pernambucanas, juntamente com a cervejinha gelada.
"É uma tradição européia. Nem o indígena nem o negro tinham uma cultura de utilizar os derivados do leite", explica a folclorista pernambucana Cláudia Lima, referindo-se à cultura de consumo de queijo de coalho no Nordeste.
"Eles foram adquirindo isso com o decorrer do tempo, e esses queijos foram se inserindo no hábito alimentar brasileiro", diz Lima, que está lançando o livro "Tachos e Panelas -Historiografia da Alimentação Brasileira". A obra narra a história da alimentação no Brasil e sua contextualização na cultura popular nordestina.

Prato reforçado
Mas no Carnaval, dizem os pernambucanos, são necessários pratos de maior substância para aliviar a dor da fome depois de muita festa embalada com o frevo, entre outros sons.
Para reativar as forças e continuar a festa, há sugestões de pratos típicos que formam o menu pernambucano, como o sarapatel (miúdos e sangue).
Há ainda o bacalhau, que veio com os portugueses para a alimentação dos negros e dos pobres, o chambaril (uma espécie de cozido de carne), a mão-de-vaca (guisado das patas de boi) e a guaiamunzada (espécie de crustáceo), entre outras sugestões gastronômicas reforçadas.
Uma dica de sobremesa: há uma tradição alimentícia, típica das famílias tradicionais pernambucanas, de consumir um doce de origem portuguesa durante os festejos do Carnaval.
Os filhoses, doce fácil de fazer com uma massa de farinha de trigo frita, com calda de açúcar e cravo, ainda permanece como tradição em algumas famílias.
São servidos como lanche, principalmente para as visitas, de acordo com a folclorista.
"O Carnaval era essencialmente uma visita alegre, que trazia felicidade para as pessoas. As agremiações e os foliões eram sempre recebidos com a mesa farta, muito farta", diz Lima.

Aguardentes
O licor artesanal produzido em mosteiros seculares é outro produto tradicional de Olinda que não pode ser deixado de lado.
Agora, nesta época de Carnaval, é um bom momento para descobrir aquelas bebidas que surgiram como símbolos populares da folia, caso do pau-do-índio e do axé, de produção caseira, vendidas tradicionalmente nas ladeiras de Olinda.
Bebidas elaboradas a partir de álcool -ou mistura de vinho- com ervas e cascas de troncos de árvores, elas têm como origem uma outra, conhecida como jurema, que saiu de rituais afro-brasileiros de Pernambuco.
Contudo o sabor tradicional da festa carnavalesca, diz Lima, é um tal de bate-bate de maracujá, servido em filtros de barro, ao gosto do freguês. Feito com mel, maracujá, aguardente e açúcar, essa bebida é uma das mais populares do Carnaval pernambucano.

Boteco
Para quem não abre mão da cerveja, um bom lugar é a Bodega do Véio, na rua do Amparo, 212, em Olinda. Além de ter cerveja bem mais barata que em outros lugares, o local é o ponto de encontro de gente que fez e faz a história da cidade.
Às sextas-feiras, a Bodega do Véio começa a ficar cheia de gente logo depois das 17h. Não só de cerveja e petiscos vive o lugar.
O bar é uma mistura de supermercado e lanchonete, que vende desde produtos de limpeza a alimentícios. Ali se fala de política, poesia, literatura, música e Carnaval.
No bate-papo, também é possível descobrir histórias e até mesmo lendas sobre personagens folclóricos da vida de Olinda, tudo ao som de muita música popular brasileira.
É uma boa oportunidade para entrar em contato com relatos e fatos que não estão nos livros nem nos museus pernambucanos. (ROBERTO DE OLIVEIRA)

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