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RECIFE DAS ARTES
Doces portugueses são consumidos pelos foliões
Gasto de energia exige pratos substanciosos, como o sarapatel
em Pernambuco
A parada para saciar a fome pode ocorrer em uma simples barraca de frente para o mar na praia de
Gaibu ou em um sofisticado restaurante de renome internacional
em um hotel da praia de Maria
Farinha. Não importa.
Em Recife e Olinda, a mistura
da comida típica, à base de frutos
do mar, coco, folhas e raízes, com
o requinte da culinária internacional contribuiu para a elaboração de um cardápio bastante vasto e sedutor.
A simplicidade de uma tapioca
feita na hora é, claro, indispensável pela manhã ou à noite.
Folcloristas do Nordeste garantem que a tapioca é provavelmente a mais original das iguarias, por
ter vindo da cultura indígena.
As barracas no Alto da Sé, em
Olinda, são o endereço certo e
agradável para degustá-las.
A partir do final da tarde, o lugar fica repleto de gente animada.
O queijo de coalho assado é outro
ingrediente disputadíssimo por
ali, assim como também nas
praias pernambucanas, juntamente com a cervejinha gelada.
"É uma tradição européia. Nem
o indígena nem o negro tinham
uma cultura de utilizar os derivados do leite", explica a folclorista
pernambucana Cláudia Lima, referindo-se à cultura de consumo
de queijo de coalho no Nordeste.
"Eles foram adquirindo isso
com o decorrer do tempo, e esses
queijos foram se inserindo no hábito alimentar brasileiro", diz Lima, que está lançando o livro "Tachos e Panelas -Historiografia
da Alimentação Brasileira". A
obra narra a história da alimentação no Brasil e sua contextualização na cultura popular nordestina.
Prato reforçado
Mas no Carnaval, dizem os pernambucanos, são necessários
pratos de maior substância para
aliviar a dor da fome depois de
muita festa embalada com o frevo, entre outros sons.
Para reativar as forças e continuar a festa, há sugestões de pratos típicos que formam o menu
pernambucano, como o sarapatel
(miúdos e sangue).
Há ainda o bacalhau, que veio
com os portugueses para a alimentação dos negros e dos pobres, o chambaril (uma espécie de
cozido de carne), a mão-de-vaca
(guisado das patas de boi) e a
guaiamunzada (espécie de crustáceo), entre outras sugestões gastronômicas reforçadas.
Uma dica de sobremesa: há
uma tradição alimentícia, típica
das famílias tradicionais pernambucanas, de consumir um doce de
origem portuguesa durante os
festejos do Carnaval.
Os filhoses, doce fácil de fazer
com uma massa de farinha de trigo frita, com calda de açúcar e
cravo, ainda permanece como
tradição em algumas famílias.
São servidos como lanche, principalmente para as visitas, de
acordo com a folclorista.
"O Carnaval era essencialmente
uma visita alegre, que trazia felicidade para as pessoas. As agremiações e os foliões eram sempre recebidos com a mesa farta, muito
farta", diz Lima.
Aguardentes
O licor artesanal produzido em
mosteiros seculares é outro produto tradicional de Olinda que
não pode ser deixado de lado.
Agora, nesta época de Carnaval,
é um bom momento para descobrir aquelas bebidas que surgiram
como símbolos populares da folia, caso do pau-do-índio e do axé,
de produção caseira, vendidas
tradicionalmente nas ladeiras de
Olinda.
Bebidas elaboradas a partir de
álcool -ou mistura de vinho-
com ervas e cascas de troncos de
árvores, elas têm como origem
uma outra, conhecida como jurema, que saiu de rituais afro-brasileiros de Pernambuco.
Contudo o sabor tradicional da
festa carnavalesca, diz Lima, é um
tal de bate-bate de maracujá, servido em filtros de barro, ao gosto
do freguês. Feito com mel, maracujá, aguardente e açúcar, essa bebida é uma das mais populares do
Carnaval pernambucano.
Boteco
Para quem não abre mão da cerveja, um bom lugar é a Bodega do
Véio, na rua do Amparo, 212, em
Olinda. Além de ter cerveja bem
mais barata que em outros lugares, o local é o ponto de encontro
de gente que fez e faz a história da
cidade.
Às sextas-feiras, a Bodega do
Véio começa a ficar cheia de gente
logo depois das 17h. Não só de
cerveja e petiscos vive o lugar.
O bar é uma mistura de supermercado e lanchonete, que vende
desde produtos de limpeza a alimentícios. Ali se fala de política,
poesia, literatura, música e Carnaval.
No bate-papo, também é possível descobrir histórias e até mesmo lendas sobre personagens folclóricos da vida de Olinda, tudo
ao som de muita música popular
brasileira.
É uma boa oportunidade para
entrar em contato com relatos e
fatos que não estão nos livros nem
nos museus pernambucanos.
(ROBERTO DE OLIVEIRA)
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