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RECIFE DAS ARTES
Ritmo musical surgiu na virada do século com influência da marcha militar, da polca e da valsa
Frevo ferve solto pelas ruas da cidade
em Pernambuco
Ao contrário de outros Carnavais do Brasil, onde a festa tem
acesso restrito, como o desfile das
escolas de samba do Rio ou as
áreas destinadas a quem compra
abadá nos blocos de Salvador, em
Recife e Olinda todo mundo pode
acompanhar o frevo, uma das
manifestações populares mais típicas de Pernambuco, que corre
solto pelas ruas das duas cidades.
A palavra frevo vem de "ferver",
mas o modo errado de escrever
ou pronunciá-la deu origem ao
que chamamos de frevo, cujo significado atual é reunião do povo
por causa do Carnaval, efervescência, agitação, confusão e rebuliço, conforme explica o vocabulário pernambucano de Pereira da
Costa, considerado um dos maiores folcloristas brasileiros de todos os tempos.
O frevo nasceu nas ruas de Recife no final do século passado e no
começo deste. Especialistas em
cultura pernambucana dizem que
as bandas militares do século passado teriam contribuído para a
formação do frevo.
"Além da marcha militar, a polca e a valsa também contribuíram
para a formação do que hoje chamamos de frevo", diz Mário Souto Maior, folclorista da Fundação
Joaquim Nabuco, de Recife.
As quadrilhas de origem européia também teriam oferecido sua
contribuição à musicalidade e à
dança típica pernambucana.
"Elas vieram para o Rio de Janeiro. De lá, se espalharam para
todo o país. Os serviçais dançavam à sua maneira", diz Maior.
A música teria se sustentado
desde o começo nas fanfarras
constituídas por instrumentos de
metal, velha tradição musical do
povo pernambucano.
Sua criação foi obra de compositores de música ligeira, rápida,
segundo estudos da Fundação
Joaquim Nabuco.
Depois, com o passar do tempo,
a música ganhou suas próprias
características, que repercutiram
na dança: uma espécie de bailado
acrobático de passos soltos.
Como toda manifestação popular, a dança sofreu uma série de
influências ao longo do tempo,
originando o frevo de rua, o frevo-canção e o frevo de bloco, mas o
frevo de rua é considerado simplesmente como frevo.
Não se espante quando ouvir
expressões como dobradiça, tesoura, locomotiva, ferrolho, parafuso, pontilhado, ponta de pé, calcanhar, saci-pererê, abanando,
caindo-nas-molas e pernada, esse
último identificável na capoeira.
São os nomes conhecidos dos
passos do frevo. Mas, como dizem
os pernambucanos, não se pode
estabelecer regras para o passo.
Ele depende da animação, da idade da pessoa, do seu peso e também da quantidade de bebida ingerida durante a festa.
Ao lado do frevo, o maracatu,
que se iniciou como uma manifestação cultural de seguidores e
devotos dos cultos afro-brasileiros, é outra típica dança e música
de Pernambuco, considerado por
muitos tão importante quanto o
frevo. O maracatu tem duas variações: urbano, que é o maracatu-nação, ou maracatu de baque virado, e o maracatu rural, ou maracatu de baque solto.
O urbano está ligado diretamente ao candomblé. Sua música
vocal se constitui de toadas e inclui versos com procedência africana, e sua musicalidade origina-se da cultura nagô.
Também oriundo da religiosidade afro-brasileira, o maracatu
rural está ligado ao sincretismo,
misturando rituais de índios, negros e europeus.
O início e o fim do maracatu são
determinados pelo som de um
apito. É formado por uma série de
figuras, como rei, rainha, príncipe
e damas-de-paço (que portam as
calungas durante o desfile do maracatu), entre outros componentes de destaque. As calungas são
bonecas que representam uma divindade do candomblé.
Um expoente musical que vem
chamando a atenção no Estado é
o grupo de maracatu Nação Pernambuco, que faz parte de uma
nova geração. O grupo é criticado
pelo maracatus tradicionais por,
segundo os seus opositores, não
trazer espontaneidade.
Fundado no final de 1989, o grupo tem como um dos principais
objetivos, porém, difundir e resgatar o maracatu tradicional.
O Nação Pernambuco é atualmente um dos grupos culturais de
maior projeção no Estado.
(ROBERTO DE OLIVEIRA)
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