São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 2000


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RECIFE DAS ARTES
Ritmo musical surgiu na virada do século com influência da marcha militar, da polca e da valsa
Frevo ferve solto pelas ruas da cidade

em Pernambuco

Ao contrário de outros Carnavais do Brasil, onde a festa tem acesso restrito, como o desfile das escolas de samba do Rio ou as áreas destinadas a quem compra abadá nos blocos de Salvador, em Recife e Olinda todo mundo pode acompanhar o frevo, uma das manifestações populares mais típicas de Pernambuco, que corre solto pelas ruas das duas cidades.
A palavra frevo vem de "ferver", mas o modo errado de escrever ou pronunciá-la deu origem ao que chamamos de frevo, cujo significado atual é reunião do povo por causa do Carnaval, efervescência, agitação, confusão e rebuliço, conforme explica o vocabulário pernambucano de Pereira da Costa, considerado um dos maiores folcloristas brasileiros de todos os tempos.
O frevo nasceu nas ruas de Recife no final do século passado e no começo deste. Especialistas em cultura pernambucana dizem que as bandas militares do século passado teriam contribuído para a formação do frevo.
"Além da marcha militar, a polca e a valsa também contribuíram para a formação do que hoje chamamos de frevo", diz Mário Souto Maior, folclorista da Fundação Joaquim Nabuco, de Recife.
As quadrilhas de origem européia também teriam oferecido sua contribuição à musicalidade e à dança típica pernambucana.
"Elas vieram para o Rio de Janeiro. De lá, se espalharam para todo o país. Os serviçais dançavam à sua maneira", diz Maior.
A música teria se sustentado desde o começo nas fanfarras constituídas por instrumentos de metal, velha tradição musical do povo pernambucano.
Sua criação foi obra de compositores de música ligeira, rápida, segundo estudos da Fundação Joaquim Nabuco.
Depois, com o passar do tempo, a música ganhou suas próprias características, que repercutiram na dança: uma espécie de bailado acrobático de passos soltos.
Como toda manifestação popular, a dança sofreu uma série de influências ao longo do tempo, originando o frevo de rua, o frevo-canção e o frevo de bloco, mas o frevo de rua é considerado simplesmente como frevo.
Não se espante quando ouvir expressões como dobradiça, tesoura, locomotiva, ferrolho, parafuso, pontilhado, ponta de pé, calcanhar, saci-pererê, abanando, caindo-nas-molas e pernada, esse último identificável na capoeira.
São os nomes conhecidos dos passos do frevo. Mas, como dizem os pernambucanos, não se pode estabelecer regras para o passo. Ele depende da animação, da idade da pessoa, do seu peso e também da quantidade de bebida ingerida durante a festa.
Ao lado do frevo, o maracatu, que se iniciou como uma manifestação cultural de seguidores e devotos dos cultos afro-brasileiros, é outra típica dança e música de Pernambuco, considerado por muitos tão importante quanto o frevo. O maracatu tem duas variações: urbano, que é o maracatu-nação, ou maracatu de baque virado, e o maracatu rural, ou maracatu de baque solto.
O urbano está ligado diretamente ao candomblé. Sua música vocal se constitui de toadas e inclui versos com procedência africana, e sua musicalidade origina-se da cultura nagô.
Também oriundo da religiosidade afro-brasileira, o maracatu rural está ligado ao sincretismo, misturando rituais de índios, negros e europeus.
O início e o fim do maracatu são determinados pelo som de um apito. É formado por uma série de figuras, como rei, rainha, príncipe e damas-de-paço (que portam as calungas durante o desfile do maracatu), entre outros componentes de destaque. As calungas são bonecas que representam uma divindade do candomblé.
Um expoente musical que vem chamando a atenção no Estado é o grupo de maracatu Nação Pernambuco, que faz parte de uma nova geração. O grupo é criticado pelo maracatus tradicionais por, segundo os seus opositores, não trazer espontaneidade.
Fundado no final de 1989, o grupo tem como um dos principais objetivos, porém, difundir e resgatar o maracatu tradicional.
O Nação Pernambuco é atualmente um dos grupos culturais de maior projeção no Estado.
(ROBERTO DE OLIVEIRA)

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