São Paulo, Segunda-feira, 28 de Junho de 1999
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IBÉRIA
Rica e tradicional, a culinária lusitana oferece também na região do Porto sopas, como a de pedras e a de pobres
Ovos são a base da doçaria portuguesa

do enviado especial a Portugal

O hábito de comer e beber à moda do Porto está há séculos enraizado na cultura portuguesa.
A culinária lusitana é um convite à gula que não se abalou com a influência cosmopolita de outras cozinhas exóticas nem se enfraqueceu com a invasão norte-americana do fast food.
Influências, é claro, foram absorvidas, mas não houve a substituição dos pratos. As antigas receitas da comida portuguesa continuam fortes, fazendo sucesso entre nativos e visitantes.
Elas continuam também como uma referência da identidade portuguesa -com certeza!
Uma prova indispensável disso são as sopas de abertura, servidas à maneira antiga.
Algumas delas são populares, como a de hortaliças, a de legumes e a mais conhecida de todas: o caldo verde, que ganhou inclusive natureza de patrimônio cultural.

Sopa de pedras
Também são disputadíssimas as canjas de galinha, as sopas de macarrão e a de feijão-frade. Há ainda o antiquíssimo e saboroso caldo de castanhas.
Curiosa é a sopa de pedra, feita de verduras, legumes, feijão e carnes suína e bovina. Para mantê-la aquecida, contam, era comum os povos de aldeias manterem, no fundo da panela, uma pedra.
É coisa do passado, mas conserva a tradição culinária, defendem os maîtres. Os portugueses sabem valorizar sua cozinha.
Prato semelhante é a sopa de pobres. Para prepará-la, tudo que sobrava em casa ia para a panela.
Entretanto os tipos de produto utilizados variam de região para região do país.

Peixinhos
Não se assuste quando você ler na carta (o cardápio, no português do Brasil) peixinhos da horta como sugestão de entrada. Não são peixes.
Na verdade, trata-se de feijão-verde empanado, tradicional das antigas aldeias portuguesas, onde eram populares entre as pessoas de baixo poder aquisitivo.
Os peixinhos da horta são uma das principais dicas de entrada de qualquer restaurante do país.
Para quem não dispensa uma carninha, uma boa pedida são os lombinhos de vitela mirandesa grelhada com ervas transmontanas e batata ao forno. Levíssimo.
Também entre as preferidas estão as tripas, "prato de reis em edição de povo", segundo o escritor português Fialho de Almeida (1857-1911).
É um petisco famoso que leva inúmeros ingredientes, como tripas, presunto, feijão, arroz. Para quem está com muita fome, um abraço.
Outra sugestão: a carne assada, de preferência preparada em assadeira de barro, com batatas e cebola douradas e acompanhada de arroz branco.
Como sobremesa, prove a barriga da freira, à base de ovos. Os portugueses contam que, tradicionalmente, os melhores doces eram feitos em conventos.
Isso porque as freiras costumavam passar muitas claras de ovo para engomar os véus, e sobravam as gemas, que eram utilizadas no preparo dos mais diversos pratos.
Entre eles a barriga de freira, o jesuíta (bolo folheado com massa de açúcar) e o toucinho do céu (pudim à base de ovos e farinha). Além de pastéis de Tentúgal, uma massa feita de ovos com açúcar. Deliciosos.

Economia
O mais interessante na incursão gastronômica por Portugal: dependendo do restaurante, o visitante pode gastar de US$ 20 a US$ 25 por uma refeição completa, incluindo o vinho, a sobremesa e até o nosso tradicional cafezinho.
Há vários restaurantes típicos no cais da Ribeira, no Porto.
Pela variedade e qualidade, o local é parada obrigatória tanto durante o dia quanto à noite.
Em média, assim como no Brasil, dá-se 10% da conta como gorjeta para o garçom.
Ah! Não esqueça: há pratos elaborados especialmente para determinadas épocas festivas do ano.
Portanto, independentemente de quando você for a Portugal, não deixe de perguntar para o garçom qual o cardápio da estação.
E bom apetite.
(ROBERTO DE OLIVEIRA)

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